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Ministério fecha fábrica de cerveja que pode ter causado doença misteriosa

Cerveja Belorizontina, da cervejaria Backer - Divulgação
Cerveja Belorizontina, da cervejaria Backer Imagem: Divulgação

Carlos Eduardo Cherem

Colaboração para o UOL, em Belo Horizonte*

10/01/2020 18h54Atualizada em 10/01/2020 21h42

As linhas de produção da cervejaria Backer, no bairro Olhos D´Água, região oeste de Belo Horizonte, foram suspensas na tarde hoje. Equipes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) fecharam a fábrica, como medida cautelar, em função de as autoridades sanitárias terem encontrado a substância dietilenoglicol, que causa uma síndrome ainda desconhecida, em dois lotes da empresa. Ao todo, 16 mil litros da cerveja Belorizontina, principal marca da Backer, foram apreendidos.

De acordo com o Ministério, também foram determinadas ações de fiscalização para a apreensão dos produtos que ainda se encontram no mercado.

A Polícia Civil investiga se o consumo de amostras contaminadas foi o que ocasionou uma "doença misteriosa" em Minas Gerais. Um homem morreu e outros nove foram internados com sintomas semelhantes ao causado pela intoxicação por dietilenoglicol desde o final do ano passado.

A força-tarefa que investiga o caso informou hoje à tarde que o número de casos passou de oito para dez. Exames de sangue de três pacientes infectados já mostraram a presença da substância.

Segundo o Ministério, auditores fiscais federais agropecuários "prosseguem apurando as circunstâncias em que ocorreram a contaminação a fim de dar pleno esclarecimento à população sobre o ocorrido".

"Análises laboratoriais seguem sendo realizadas nas amostras coletadas pela equipe de fiscalização das Superintendências Federais de Agricultura", disse o órgão.

Ministério notifica cervejaria

Também hoje, a Senacon (Secretaria Nacional do Consumidor), órgão do Ministério da Justiça e Segurança Pública, notificou a Backer a prestar esclarecimentos, dentro de dois dias úteis, sobre a contaminação de dois lotes da Belorizontina.

No comunicado, a Senacon também solicita o recolhimento dos produtos para vistoria e compartilhamento de segredo industrial. A Backer deverá informar ao órgão quais são os estados em que os lotes foram distribuídos e programar uma campanha de recolhimento.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) mandou recolher os produtos e a suspensão da comercialização. A ordem foi publicada em edição extra do Diário Oficial da União (DOU) desta sexta-feira.

A cervejaria informou, na noite de hoje, que as 66 mil unidades da cerveja Belorizontina, dos lotes L1 1348 e L2 1348, em cujas amostras foram encontradas a substância dietilenoglicol, foram distribuídas para venda em municípios de São Paulo e do Espírito Santo, além de Brasília e Minas Gerais. A Backer, porém, só informou as cidades mineiras em que os lotes foram comercializados: Belo Horizonte, nas cidades de Ouro Preto e Tiradentes.

Em nota divulgada nesta noite, a Backer informou que ainda não foi notificada a respeito da interdição de sua fábrica em Belo Horizonte.

"A empresa não foi notificada, até o momento, por parte do Ministério da Agricultura. No entanto, permanece à disposição das autoridades", diz o comunicado

De acordo com a nota, a empresa pretende, neste sábado (11), "realizar uma vistoria completa em seus processos de produção, visando oferecer conforto e esclarecimento aos seus clientes".

"A cervejaria aguarda a conclusão das investigações e reforça seu compromisso com a qualidade de seus produtos", diz a nota da Backer.

"Doença misteriosa"

Ao todo, dez casos da síndrome não identificada foram notificados. A Secretaria de Saúde de Minas Gerais acionou o Ministério da Saúde no domingo (5) a respeito de casos graves de insuficiência renal aguda com alterações neurológicas, cujas causas ainda não foram identificadas.

Especialistas do Programa de Treinamento em Epidemiologia Aplicada aos Serviços do SUS (Sistema Único de Saúde) chegaram a Belo Horizonte na terça-feira (7), para "colaborar com a investigação epidemiológica, confirmação diagnóstica, na busca e descrição dos casos, no levantamento e na análise de hipóteses sobre o modo de adoecimento para o desencadeamento de ações de prevenção e controle da doença", de acordo com nota conjunta divulgada pelos dois órgãos.

De acordo com a Secretaria e o Ministério, os pacientes internados tiveram sintomas gastrointestinais (náusea, vômito e dor abdominal), associados a insuficiência renal aguda grave de evolução rápida (em até 72 horas). Ainda segundo esses órgãos, essas pessoas, na sequência, tiveram uma ou mais alterações neurológicas, como paralisia facial, vista borrada e cegueira total ou parcial.

O corpo do bancário Paschoal Dermatini Filho, 55, que morreu vítima da "doença misteriosa", foi enterrado hoje em Ubá, a 251 Km de Belo Horizonte.Há ainda nove pessoas internadas, entre eles, um genro do bancário, de 37 anos.

Dois dos nove acometidos pela doença, internados no Hospital Mater Dei, no bairro Santo Agostinho, em Belo Horizonte, com diagnóstico de insuficiência renal crônica e alterações neurológicas, ainda permanecem no CTI (Centro de Terapia Intensivo) do hospital.

Prefeitura de BH cria postos de coleta de cerveja

A Prefeitura de Belo Horizonte criou nove postos da Vigilância Sanitária do município que receberão as garrafas da cerveja Belorizontina, independente do lote.

A Belorizontina sumiu das prateleira de supermercados, padarias e lojas de bebidas na capital mineira. Os estabelecimentos, porém, mantiveram a comercialização de outros rótulos da cervejaria Backer, cujos preços foram reduzidos, por meio de promoções.

*Com Estadão Conteúdo