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Sangue na casa, quem ajudou: as dúvidas sobre o caso da família morta em SP

Da esquerda para a direita: Ana Flávia Gonçalves, Juan Gonçalves, Flaviana Gonçalves e Romoyuki Gonçalves - Reprodução
Da esquerda para a direita: Ana Flávia Gonçalves, Juan Gonçalves, Flaviana Gonçalves e Romoyuki Gonçalves Imagem: Reprodução

Alex Tajra

Do UOL, em São Paulo

04/02/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Investigação sobre morte de família ainda tem perguntas sem resposta
  • Origem de sangue em roupas e participação de outras pessoas ainda são dúvidas

Sangue nas roupas de uma das suspeitas, a participação de outras pessoas no crime e um assalto até agora pouco esclarecido. Essas são algumas das perguntas sem respostas que envolvem o caso de uma família encontrada morta na Grande São Paulo, na semana passada.

Flaviana Gonçalves, 40, Romuyuki Gonçalves, 43, e o filho do casal, Juan Gonçalves, 15, foram encontrados carbonizados no porta-malas de um carro que foi incendiado em São Bernardo do Campo (SP).

Ana Flávia Gonçalves, 24, filha do casal, e sua esposa, Carina Ramos, 31, são as principais suspeitas de terem cometido o crime. As duas estão detidas temporariamente desde a última quarta-feira (29), quando as autoridades notaram contradições nas explicações das suspeitas.

Em um primeiro momento, elas afirmaram que a família teria sido morta por conta de uma dívida com agiotas. Também disseram que, na noite do crime, a família iria sacar dinheiro para quitar o débito e, depois, viajaria para Minas Gerais.

Depois, Carina disse que a casa da família teria sido alvo de um assalto, mas que elas não tinham envolvimento com o crime. Ontem, Juliano de Oliveira Ramos, primo de Carina, foi preso. Horas antes, a Justiça havia acolhido um pedido da polícia e decretou a prisão dele por suspeita de participação no suposto assalto.

A polícia já informou que investiga a ação de pelo menos outras duas pessoas nos assassinatos.

Confira algumas questões que a polícia ainda não conseguiu responder sobre o caso:

O que as suspeitas estavam fazendo na casa?

Imagens da câmera de segurança do condomínio Morada Verde, em Santo André, onde a família foi morta, mostram um Palio prateado (carro de Ana Flávia) entrando e saindo três vezes do local horas antes de os corpos serem encontrados. Não se sabe se ela dirigia o veículo ou se estava com Carina em todos os momentos.

À polícia, elas argumentaram nos primeiros depoimentos que estavam na casa e, após um telefonema que "deixou todos exaltados", teriam decidido deixar o local. Elas negaram participação no crime e afirmaram que a família teria sido morta por conta de uma dívida de R$ 200 mil.

Ontem, entretanto, veio à tona uma nova versão de Carina. Ela afirmou à polícia que por volta das 22h da segunda-feira (27), Flaviana entrou no condomínio que a família mora em Santo André "acompanhada de três indivíduos, que entraram logo atrás dela e anunciaram um roubo".

Ainda segundo o depoimento de Carina, os assaltantes estavam com pelo menos duas armas de fogo. Eles renderam todos que estavam na casa e os ameaçaram. Após roubarem vários objetos da casa, os três teriam deixado o local em um Jeep Compass (carro de Flaviana) junto com as três vítimas (Flaviana, Romoyuji e Juan).

O depoimento fez com que a Justiça decretasse a prisão temporária de Juliano de Oliveira Ramos, um dos três que teriam participado do assalto.

No despacho que determinou sua prisão, o juiz Fernando Martinho de Barros Penteado citou a "inconsistência do relato da investigada Carina, em especial em relação a sua não participação no roubo, pois não esclareceu a contento a extrema coincidência de um dos assaltantes ser justamente seu primo".

Quem são e qual a participação das outras pessoas investigadas?

A polícia investiga a participação de ao menos duas outras pessoas nas mortes. As autoridades acreditam que Ana Flávia e Carina foram ajudadas na logística e na execução do crime.

Uma testemunha, que está sob proteção, afirmou aos investigadores que viu um homem de aproximadamente 1,90 m ajudando as duas a carregar um carro —que estava estacionado de ré na casa da família— horas antes de os corpos serem encontrados. Não se sabe se este homem é Juliano, o primo de Carina.

Na madrugada do crime, minutos antes de o carro de Flaviana deixar pela última vez o condomínio, à 0h56, uma pessoa foi filmada por câmeras de segurança caminhando próximo ao local segurando dois capacetes.

Segundos depois, a mesma câmera registrou outra pessoa passando logo atrás da primeira empurrando uma motocicleta. Até o momento, não há informações sobre a participação dessas pessoas no crime.

De quem é o sangue na casa e nas roupas de Ana Flávia?

Em diligências realizadas na casa da família assassinada, a polícia encontrou manchas de sangue, o que indica que as vítimas podem ter sido mortas no local. Os investigadores também encontraram vestígios de sangue em roupas de Ana Flávia. A peça havia sido lavada, mas os policiais utilizaram produtos reagentes para confirmar as manchas de sangue.

A polícia considerou suspeito que as marcas estavam na região do joelho (também foram encontradas marcas na altura da genitália). Confrontada nos depoimentos, Ana Flávia disse "que toda mulher tem esse problema e que isso não significava nada", segundo o delegado Paul Henry Bozon, do Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) de São Bernardo do Campo.

Para saber de quem são as marcas de sangue, tanto nas roupas quanto na casa, a polícia aguarda o resultado da perícia.

Onde estão os objetos roubados?

Além dos assassinatos, a Polícia Civil apura um roubo que aconteceu na casa naquela noite. Foram levados objetos como uma televisão, joias, eletrodomésticos e uma espingarda antiga, além de R$ 8 mil em espécie e uma quantia de dólares que não foi divulgada. Não se sabe onde estão os objetos nem como os autores do crime transportaram o que foi roubado.

Indiciamento e recuo

A polícia chegou a anunciar para os jornalistas que indiciaria Ana Flávia e Carina por homicídio qualificado na última sexta (31), em meio aos depoimentos que as duas prestavam no COI (Centro de Operações Integradas de Segurança). No dia seguinte, entretanto, as autoridades voltaram atrás e decidiram aguardar o fim do inquérito policial para tomar qualquer conclusão sobre o caso.

O indiciamento é um processo decorrente da investigação, ou seja, é de responsabilidade dos delegados do caso. A partir daí, as evidências são repassadas ao Ministério Público que decide se denuncia ou não os suspeitos.

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