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Rio: 'Sabia que casa ia quebrar no meio', diz serralheiro que perdeu imóvel

03.mar.2020 - Elias da Conceição diante dos escombros de sua casa que desabou no Jardim América, zona norte do Rio - Arquivo Pessoal
03.mar.2020 - Elias da Conceição diante dos escombros de sua casa que desabou no Jardim América, zona norte do Rio Imagem: Arquivo Pessoal

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

04/03/2020 04h00

Resumo da notícia

  • A casa de Elias da Conceição, 33, desabou ontem em razão das chuvas no Rio
  • O serralheiro tem esperança de reaver suas ferramentas para voltar a trabalhar
  • Momentos antes, ele escorou o teto, mas deixou o imóvel prevendo o desabamento

Após perder sua casa e pertences, o serralheiro Elias da Conceição, 33, dono de um dos imóveis que desabou na manhã de ontem, no bairro Jardim América, na zona norte do Rio, diz ter esperança de reaver parte de suas ferramentas nos escombros e voltar a trabalhar o mais rápido possível.

A casa onde morava e a de outros cinco vizinhos desmoronaram devido às fortes chuvas que atingiram a capital a partir da noite de sábado (29). O serralheiro contou que já esperava que a casa não fosse resistir às chuvas. O bairro, que é cortado pelo rio Acari, sofre inundações com frequência e as casas começaram a apresentar rachaduras.

Ele morava no imóvel havia oito anos e trabalhava na frente dele como serralheiro —profissão que exerce há mais de dez anos. Conceição estima que o prejuízo com o desabamento seja de R$ 40 mil.

Apreensivo com a chuva, ele recorda que não conseguiu dormir. Conceição lembra que a casa começou a emitir barulhos, como se estivesse rachando, e em seguida caíram rebocos do teto.

Durante a madrugada, o serralheiro tentou escorar parte do teto com madeira de demolição, mas, após um muro atrás do imóvel tombar, decidiu deixar a casa —era por volta das 3h30— e dormir na casa dos pais, próxima dali.

Eu fiquei acordado, já estava cabreiro por causa da chuva e comecei a colocar as minhas ferramentas pra frente da casa, me organizando para correr. Cheguei a escorar o teto com quatro madeiras coloniais que tinha aqui, mas sabia que a casa ia quebrar no meio. Na dúvida, larguei tudo para trás e fui para casa dos meus pais. Antes ela [a casa] do que eu, né?

Ao deixar o imóvel, Conceição encontrou um vizinho e o avisou sobre o ocorrido. "Sai daí cara, a casa vai cair", alertou.

A caminho da casa dos pais, o serralheiro retornou de novo para a rua Rodolfo Chambelland para acordar os demais vizinhos e avisar sobre a situação dos imóveis. "Eu fui e voltei, pois lembrei dos vizinhos que moram do lado de casa. Na última enchente, eu estava dormindo, eles bateram lá em casa e me acordaram. Não ia perdoar se algo acontecesse com eles."

03.mar.2020 - Casas desabaram no Jardim América, bairro banhado pelo rio Acari - Reprodução/Redes sociais - Reprodução/Redes sociais
03.mar.2020 - Casas desabaram no Jardim América, bairro banhado pelo rio Acari
Imagem: Reprodução/Redes sociais

O Corpo de Bombeiros foi acionado às 6h52.

Conceição disse que ficaria feliz se conseguisse retirar do local ao menos cinco ferramentas. "Botei as máquinas mais caras para frente da casa. Acho que dá para recuperar. Ali tem minha máquina de solda e outras coisas. Se eu recuperar cinco ou seis ferramentas, já fico feliz e consigo voltar a trabalhar."

Técnicos da Defesa Civil fazem vistorias nos imóveis localizados no entorno da área onde houve o desabamento para saber se há riscos de mais algum desabar.

Ao menos uma casa que desabou parcialmente e apresenta rachaduras será demolida. Outros dois imóveis que também têm rachaduras foram interditados.

"Todas as casas na margem do rio e que tenham sofrido com a incidência da chuva forte serão vistoriadas e as famílias afetadas serão atendidas pela Secretaria de Assistência Social do município", informou Djalma Antonio de Souza Filho, subsecretário de Proteção e Defesa Civil, sem dar mais detalhes sobre o apoio oferecido.

Sobe para 5 número de mortos

Ao todo, cinco pessoas morreram desde a madrugada de domingo (1º). Entre elas, um homem que estava desaparecido em Queimados, na Baixada Fluminense. Matheus Souza Oliveira, 21, foi arrastado por uma enxurrada no domingo. O corpo foi localizado na região conhecida como Parque Industrial na manhã de hoje.

Após mais de 30 horas em estágio de alerta, a capital regressou para o estágio de atenção às 8h45 de hoje, informou o Centro de Operações da prefeitura. O estágio de atenção é o terceiro nível em uma escala de cinco e significa que uma ou mais ocorrências impactam o município, afetando a rotina de parte da população. São elas: o desabamento das casas no Jardim América; deslizamento de pedra em Campo Grande e em Realengo, na zona oeste, e ainda dez pontos de alagamento.

Rio: em 32 horas, chove mais do que média de março

Entre 0h de domingo e 8h de segunda (2), choveu mais da metade da média para o mês de março em toda a cidade.

Em Santa Cruz, choveu quase o equivalente ao mês todo em apenas 32 horas: acumulado de 154,6 mm, sendo a média na estação de 155,3 mm para este mês.

Chuvas expulsaram 5.000 moradores de suas casas

Ainda devido ao temporal, mais de 5.000 pessoas ficaram desabrigadas ou desalojadas. A informação é de boletim da Defesa Civil Estadual (Sedec-RJ) e do Corpo de Bombeiros. Os bombeiros atenderam mais de 800 chamados no estado desde a manhã de sábado (29). Os atendimentos incluem salvamentos, cortes de árvores, buscas e resgates.

A Seeduc (Secretaria Estadual de Educação) informou que 11 escolas da rede ficaram fechadas ontem por causa dos estragos causados pelas chuvas. Nesta segunda, 42 unidades não abriram pelo mesmo problema.