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Covid-19: Funcionário é preso suspeito de roubar sacos usados para vítimas

Invólucros estavam no carro de suspeito - Arquivo pessoal
Invólucros estavam no carro de suspeito Imagem: Arquivo pessoal

Bruna Alves

Colaboração para o UOL

15/04/2020 20h14

Um motorista do Serviço Funerário da Prefeitura de São Paulo foi preso em flagrante, na manhã de hoje, suspeito de roubar e comercializar sacos plásticos, também chamados de invólucros, que seriam utilizados para colocar os corpos das vítimas da covid-19 na cidade de São Paulo. A identidade dele não foi divulgada.

O motorista deve responder pelo crime de Peculato - quando um funcionário público se apropria de um bem público, ao qual ele tenha acesso devido ao cargo. Esse crime é inafiançável para a polícia, porém, o juiz pode conceder esse benefício ao suspeito. Se condenado, ele pode pegar de 2 até 12 anos de prisão.

Há cerca de uma semana, o Serviço Funerário começou a receber denúncias anônimas de que o homem estaria roubando esses sacos para vender para funerárias particulares. Em média, a unidade do saco custa R$60 reais, mas o motorista estava vendendo por até R$500 - cada um, segundo relatado à polícia.

Após as denúncias, um representante do Serviço Funerário entrou em contato com a 2ª Delegacia de Crimes Contra a Fazenda, do Departamento de Polícia de Proteção a Cidadania (DPPC) para prestar queixa. Em seguida, a Polícia Civil começou as investigações.
"Hoje, eles conseguiram ir até o local que ele trabalha e visualizaram que ele tinha desviado realmente. Ele tirava os sacos daqueles carros funerários e estava colocando no carro dele. Eu nunca imaginei na minha vida que fosse ver um caso desse", afirma a delegada assistente, Patrícia Escórcio, da 2ª Delegacia de Crimes Contra a Fazenda do DPPC.

Segundo a delegada, a principal motivação do funcionário foi a alta demanda pelo produto, devido ao aumento das vítimas da Covid-19. Durante seu depoimento, na manhã de hoje, o suspeito permaneceu calado e, até o momento, não apresentou nenhum advogado de defesa. No entanto, familiares do motorista compareceram à delegacia e disseram que vão procurar um defensor.

A Polícia Civil solicitou uma vaga em uma detenção para transferir o motorista e aguarda resposta do sistema prisional. Provavelmente, ele será transferido ainda hoje. As audiências de custódias foram canceladas, temporariamente, em razão do novo coronavírus, por isso, ele não passará pela audiência e será transferido direto para uma detenção.

Procurada pela reportagem, a Prefeitura de São Paulo disse que "notificou a empresa terceirizada e o funcionário não prestará mais serviços para a autarquia".

Sacos já estão em falta no mercado

O invol é um saco plástico superresistente com absorventes que evitam que os líquidos do corpo vazem para fora, após o fechamento do zíper. Ou seja, ele é inviolável. Devido à alta tecnologia desenvolvida no exterior, ele evita a contaminação do solo e o contágio de qualquer doença infectocontagiosa.

"Ele tem duas finalidades: a primeira é não permitir que o líquido do corpo que vazar atinja o solo ou os nossos funcionários. A segunda utilidade é no momento da exumação do corpo. Os nossos servidores vão lá e retiram aqueles ossos do túmulo ou da gaveta, e cai todos aqueles ossos no chão na frente dos familiares. Com esse saco, isso não acontece, porque você puxa o zíper e ele vira como se fosse uma bolsa, e todos os ossos ficam ali dentro", detalha Fábio Moreira, assessor técnico do gabinete do Serviço Funerário Municipal.

Hoje, no Brasil, apenas uma empresa fabrica esse tipo de invólucro. O Serviço Funerário de São Paulo adquiriu o produto há um mês por causa do avanço da covid-19. De acordo com o assessor, o invol só está sendo utilizado em caso de doenças infectocontagiosas. A principal intenção da pasta é não expor os funcionários da funerária e também os familiares das vítimas a mais riscos. Atualmente, o serviço da Prefeitura conta com cerca de 5 mil invólucros guardados.

O assessor ressalta, ainda, que o serviço funerário da prefeitura é municipal e atende somente na cidade de São Paulo. "A gente está tocando um processo licitatório para aquisição de mais 15 mil, mas a empresa está encontrando uma dificuldade porque uma boa parte dos materiais vem da China, a matéria prima. Então, a empresa já estava avisando que a gente teria uma média de duas mil por mês, que seria o que eles iriam entregar, mas agora, a empresa já está dizendo que, de repente, não vai ter esses dois mil", diz Moreira, acrescentando que os familiares das vítimas não tem custo algum em relação ao novo produto.

"Hoje, o serviço funerário não transfere, ainda, esse valor para o munícipe, (mas) vai começar a transferir. Por enquanto é uma solução. Só que agora nós não damos a opção de o munícipe escolher, nós mesmos colocamos para evitar o contágio", afirma.