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Médicas compram bolo e cantam parabéns para paciente com coronavírus no Rio

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

03/05/2020 11h58

Além de monitorarem pacientes em CTI (Centro de Terapia Intensiva), médicas de um hospital particular, na zona norte do Rio, têm dedicado seu tempo a tornar o período de internação dos pacientes menos doloroso emocionalmente. Na última sexta-feira (1), as plantonistas Rebecca Edson e Carolina Simões providenciaram um bolo e cantaram parabéns para o idoso Guaracy Chaves, 81, que foi internado com diagnóstico de covid-19, causada pelo novo tipo de coronavírus. A esposa dele também foi hospitalizada em decorrência da doença em outra unidade de saúde. O casal mora sozinho no Rio e a filha, no Distrito Federal.

Além do parabéns, com direito a vela, seu Guaracy foi presenteado com uma chamada de vídeo com familiares e com uma foto da esposa.

"É uma situação muito complicada a que estamos vivendo. Eles [idosos] se sentem abandonados e isso aumenta a possibilidade de delírios. Eles não têm nem uma horinha de visita. Não pode. Entra ali e a família não vê mais. Então, todo plantão tenho feito alguma coisa: chamada de vídeo, mostro foto e cartas. Dessa vez, levamos um bolo e cantamos parabéns", conta a médica de 27 anos.

Rebecca conta que já vinha fazendo chamadas de vídeo entre pacientes e familiares e que a ideia do bolo partiu da amiga e companheira de plantão, Carolina Simões. As duas pediram para o setor de nutrição do hospital para providenciar um bolo e que mesmo assim, ainda compraram um outro para garantir a "festa".

As médicas Rebeca e Carol - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

A celebração também foi para comemorar os 87 anos de dona Dulcine, outra paciente internada que também fazia aniversário. Os dois estavam em leitos seguidos, o que facilitou a comemoração, segundo a médica.

"Ela pôde ver netos, filhos, todo mundo apareceu na chamada e ela ficou muito feliz. Até dois gatinhos apareceram no vídeo", contou Rebecca animada.

As reações dos pacientes foram de alegria, entusiasmo e choro.

Já fiz até com paciente entubado que estava com bom estado clínico. Mesmo sem conseguir falar, ele conseguia ouvir e ver os parentes. Esse paciente, o seu Fernando, já até saiu do CTI depois de 3 semanas. A família até hoje fala comigo. Tenho recebido muito amor e isso é acolhedor. Eles não fazem ideia, mas aquecem nosso coração, pois a rotina tem sido muito pesada.

Rebecca Edson

As médicas trabalham em uma ala do hospital com 10 pacientes internados com covid-19 ou com suspeita da doença, no hospital Casa Evangélico, no bairro da Tijuca, na zona norte da cidade. Rebecca conta que entende na pele o que é ficar isolada.

"Eu já tive covid. Precisei ficar 15 dias isolada e realmente percebi que é muito complicado e olha que nem sou uma pessoa que sente a necessidade de ficar próxima de muitas pessoas, contou a médica.

Casos no RJ

De acordo com o último boletim sobre o avanço da doença, divulgado ontem pela Secretaria de Estado de Saúde, o Rio de Janeiro registra 10.546 casos confirmados de covid-19 e 971 óbitos. Há ainda 331 mortes em investigação e outros 147 casos foram descartados. A cidade com maior número de casos é a capital (6.448) e com 603 mortes. A cidade de Duque de Caxias, na Baixada, é a segunda com maior número de casos e mortes, 458 e 83 respectivamente.