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Mercadão de Madureira opera com porta pequena e vê demissões aumentarem

Heculano Barreto Filho

Do UOL, no Rio

13/05/2020 04h00

O Mercadão de Madureira, considerado um dos maiores mercados populares do país, opera atualmente com apenas 6% de sua capacidade —no primeiro dia de bloqueio na região, apenas 30 lojas de serviços essenciais estavam abertas no local, que tem cerca de 460 estabelecimentos e gera ao menos 20 mil empregos diretos e indiretos, segundo a associação do centro comercial.

Para entrar e sair do mercado, os poucos consumidores precisavam na manhã de ontem se curvar por uma pequena porta e recebiam uma borrifada de álcool em gel nas mãos. Comerciantes relataram à reportagem do UOL que o cenário de distanciamento social em razão do coronavírus já os obrigou a fazer demissões e não descartam aprofundar os cortes.

A prefeitura do Rio passou a implementar ontem restrições de circulação de pessoas e carros em Madureira, na zona norte do Rio. Guardas municipais fizeram um bloqueio e repassaram orientações do desvio a motoristas na avenida Edgard Romero, principal via do bairro. Apesar da restrição, ainda havia uma fila com 20 pessoas em frente a uma agência bancária no local.

Em frente ao mercadão, um carro de som da Guarda Municipal dava orientações de isolamento social. "Evitem contato com as pessoas. Evitem aglomerações. Todos juntos vamos vencer a luta contra o coronavírus", dizia, em um trecho da mensagem.

Apesar do anúncio do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) de ampliação dos bloqueios para mais dez bairros, os bloqueios ainda não haviam chegado ontem ao Méier e Tijuca, na zona norte, e Realengo, na zona oeste, conforme verificado pela reportagem. A administração municipal falou que os bloqueios seriam instalados gradualmente até hoje.

"Nunca vi o mercadão tão vazio"

O entregador Luiz Henrique da Silva Ripardo, 20, surpreendeu-se ao encontrar o local quase deserto. "Passei ontem por aqui e não tava assim. Nunca vi o mercadão tão vazio."

Uma fita amarela separava a atendente de uma loja de três clientes. Uma mensagem em um papel dava o tom do tipo de atendimento adotado em tempos de pandemia: "Estamos atendendo na porta da loja. Favor manter a distância". Em outra loja, que vendia uniformes para trabalhadores, chamava a atenção a máscara no rosto dos manequins.

Donos de estabelecimentos fechados acompanhavam o baixo movimento. Era o caso do lojista Rafael Muniz, dono de uma loja de utilidades com 15 funcionários que funciona há 20 anos. Desde o começo da pandemia, ele diz já ter demitido três pessoas. Mas teme um cenário bem mais grave.

O mais preocupante é que não sabemos quando isso vai acabar. Enquanto isso, as lojas vão fechando e as demissões vão aumentando

Rafael Muniz, dono de loja no Mercadão de Madureira

Dono de um bazar há 48 anos no mercadão, o lojista Jorge Martins disse ter sido obrigado a demitir os três funcionários que tinha. E, pela primeira vez, enfrenta dificuldades para pagar fornecedores e o aluguel da loja.

"Com o corona, o velho aqui só falta infartar. Não estou conseguindo nem pagar as despesas. Infelizmente, estou passando por essa vergonha no meu fim de carreira. Nem dormindo eu tô", diz, enquanto a esposa, ao lado, balança a cabeça em sinal positivo.

Paulo Noronha Borja, dono de uma loja de artigos religiosos há 40 anos no mercadão, ainda não sabe como manter o efetivo de 19 funcionários. "A situação é horrível. Fico em casa, sem ter o que fazer. Só nos resta esperar", desabafa.

Mas ainda havia quem saíssem do mercadão com sacolas nas mãos. O aposentado José Pires Santana, 63, comprou salgados e doces para os netos. Ele diz contudo concordar com o isolamento social. "Mas tem que fechar mesmo. Ninguém quer que esse vírus mate mais gente, né?"