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Polícia suspeita que cabo da Rota morto foi fuzilado por PMs

Fernando Flávio Flores, policial da Rota morto em SP em maio de 2019 Imagem: Reprodução/Facebook

Josmar Jozino e Luís Adorno

Colaboração para o UOL e do UOL, em São Paulo

28/05/2020 04h00Atualizada em 28/05/2020 10h27

O cabo Fernando Flávio Flores, 38, da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar), assassinado com ao menos 70 tiros em maio do ano passado, no Jardim Satélite, zona sul de São Paulo, pode ter sido morto por colegas de farda.

Essa é a principal hipótese da Polícia Civil e da PM (Polícia Militar), que ganhou força depois que as investigações apontaram que o carro usado pelos assassinos no dia do crime foi escoltado por um veículo de propriedade de um oficial da corporação. A motivação do crime ainda é incerta e está sendo investigada.

Flores sofreu a emboscada quando tirava um Fiat Doblò verde da garagem de sua casa, na rua Artur Nascimento Júnior. Ele pretendia ir para o trabalho, no quartel da Rota, na avenida Tiradentes, Bom Retiro, no centro.

Eram 6h35, quando um carro Hyundai modelo I-30 prata trafegando lentamente se aproximou e parou em frente à casa de Flores. Ele tinha acabado de tirar o Doblò da garagem.

Primeiro, um homem armado de fuzil desceu pela porta traseira esquerda do veículo prata e disparou dezenas de vezes contra Flores. Depois, outro homem saiu do mesmo carro pela porta traseira direita e também atirou contra o cabo.

O Doblò ficou todo perfurado de balas. Flores teve morte instantânea. Câmeras de segurança da rua filmaram a ação. A mulher e os três filhos do policial acordaram assustados. Vizinhos ficaram em pânico. As imagens foram veiculadas pela imprensa.

Minutos depois do crime, um veículo prata do mesmo modelo usado pelos assassinos, foi encontrado carbonizado na rua José Nicolau de Lima, bairro Jardim Casa Grande, zona sul da capital. Dentro do carro havia cartuchos de fuzil calibre 5.56.

Policiais civis rastrearam todas as câmeras de segurança de trânsito desde a rua Artur Nascimento Júnior até o local onde o veículo Hyundai I-30 foi encontrado.

As investigações apontaram que o carro usado no assassinato do cabo Flores foi escoltado por outro veículo, cujo dono é um oficial de uma unidade de elite da PM.

Investigadores suspeitam que os assassinos eram próximos ao policial porque ele havia mudado sua escala de trabalho apenas dois dias antes do homicídio.

A primeira linha de investigação, praticamente descartada tanto pela PM quanto pela Polícia Civil, era a de que a ação tinha sido realizada por integrantes do PCC (Primeiro Comando da Capital).

Fontes do alto comando da PM, que pediram anonimato, porém, disseram à reportagem que Flores estaria envolvido com "pessoas erradas", sem entrar em detalhes. Até agora, no entanto, isso não foi comprovado.

Questionada sobre o andamento das investigações, a SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou que "o inquérito policial segue em andamento pelo DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa) em segredo de Justiça".

Carro do cabo da Rota fuzilado em maio de 2019 Imagem: Marcelo Gonçalves/Sigmapress/Estadão Conteúdo

Alvo fácil

O cabo Flores morava a menos de 100 metros de um ponto de venda de drogas, onde vários traficantes já foram presos em flagrante e condenados pela Justiça. A vizinhança com criminosos no bairro fazia do policial militar um alvo vulnerável, dizem investigadores.

Em janeiro de 2019, quatro meses antes de ser assassinado, Flores se envolveu em uma ocorrência de intervenção policial seguida de morte. Ele e outros dois PMs da Rota mataram um rapaz procurado pela Justiça.

Os policiais militares disseram que chegaram ao endereço do foragido por meio de denúncia anônima e que foram recebidos a tiros por ele. Os PMs foram indiciados por homicídio. O processo está em andamento.

Investigadores, no entanto, acreditam que ele não seria assassinado por membros do crime organizado ou traficantes por receio do que poderia vir a acontecer após atacar um policial da Rota.

Veja imagens do crime

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Homenagem em SP e indenização à família

A Câmara Municipal de São Paulo aprovou uma homenagem ao policial militar. Ele virou nome de logradouro no Jardim Satélite, bairro sob jurisdição da subprefeitura de Capela do Socorro.

O projeto de lei partiu do vereador Rodrigo Goulart (PSD). Na justificativa, o parlamentar argumentou que Flores atuou 18 anos na Polícia Militar, sendo 13 anos e meio na Rota.

Para o vereador, Flores era respeitado e exemplo aos seus pares, digno de reconhecimento por parte de seus superiores. O parlamentar argumentou ainda que o cabo agiu sempre de forma consciente e prestativa às necessidades inerentes à função.

Na justificativa do projeto de lei, o vereador acrescentou que, além de notável, Flores sempre colaborou nos resultados operacionais da Rota e nos serviços de segurança pública e morreu em razão do cumprimento de seu dever como policial militar.

O governo do estado também entendeu que o cabo morreu em cumprimento de seu dever, a caminho do trabalho. Por isso, pagou R$ 200 mil de seguro para a família do PM. A indenização é paga aos PMs mortos em serviço ou durante a ida ou volta do serviço.

PMs da Rota não morrem em serviço

Dados da PM, obtidos pelo UOL por meio da LAI (Lei de Acesso à Informação) mostram que o último policial militar da Rota morto em serviço foi vitimado em maio de 2000. De lá para cá, houve pelo menos 27 baixas de PMs do batalhão mortos de forma violenta, mas sempre durante a folga.

Investigadores e oficiais da PM, no entanto, argumentam que, por serem da Rota, esses policiais estão sempre visados e podem ser alvos do crime organizado durante a folga. Especialistas classificam essas mortes como um "ciclo de vinganças", porque elas nunca param.

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