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Jornalista e escritor Gilberto Dimenstein morre aos 63 anos

Maurício Dehò e Patrick Mesquita

Do UOL, em São Paulo

29/05/2020 10h57Atualizada em 29/05/2020 14h59

O escritor e jornalista brasileiro Gilberto Dimenstein morreu hoje, aos 63 anos. Ele vinha travando uma batalha contra um grave câncer, que começou no pâncreas e teve metástase para o fígado, conforme contou ao UOL, em março. Atualmente, ele era responsável pelo site Catraca Livre.

A informação foi confirmada por familiares de Dimenstein. Ele morreu por complicações do câncer, por volta das 9h da manhã de hoje. O enterro deve acontecer no domingo, no Butantã, bairro da Zona Oeste de São Paulo.

Nascido em 28 de agosto de 1956, em São Paulo, Dimenstein era filho de um pernambucano de origem polonesa e de uma paraense de ascendência marroquina.

Seu início no jornalismo foi em 1977, na revista Shalom, da Comunidade Judaica do Brasil. Ele se formou pela Faculdade Cásper Líbero e trabalhou em veículos como a Folha de S.Paulo (SP), onde foi diretor e correspondente internacional, e a rádio CBN (SP), como comentarista. Passou também por O Globo (RJ), Jornal do Brasil (RJ), Correio Braziliense (DF), Última Hora (SP) e as revistas Educação (SP), Visão (SP) e Veja (SP).

Dimenstein ganhou dois Prêmios Esso de Jornalismo - em 1988, na categoria Principal, com a reportagem "A Lista da Fisiologia", e, no ano seguinte, na categoria Informação Política, com "O Grande Golpe", ambas publicadas pela Folha de S.Paulo -, dois Prêmios Líbero Badaró de Imprensa e o Prêmio Jabuti de Literatura de Melhor Livro de Não-Ficção em 1993, com "O Cidadão de Papel".

Ao sair da Folha, após 28 anos de dedicação, escreveu, em sua última coluna: "Saio da Folha com a gratidão de quem teve suporte para fazer da vida um laboratório. Mas a Folha não sai de mim: estará sempre associada à sensação de que o exercício da imaginação é o que nos torna singulares e relevantes".

Câncer e uma história de amor

Em março, Dimenstein falou ao UOL sobre sua luta contra o câncer.

"O câncer me deu uma história de amor", "a quimio me causou uma prisão de ventre que parecia que tinham me enfiado um milho, e sem aquela manteiguinha" e "exagerei no canabidiol e dormi com a cara no prato de lasanha" são algumas das frases que Dimenstein usou para falar de sua doença.

Os tratamentos não andavam adiantando, o sexo acabou, e ele contava que teve uma sensação de morte, mas que decidiu abrir as orelhas para os passarinhos do quintal de sua casa, fazer um curioso uso da raiva que dizia sentir de Jair Bolsonaro (sem partido), dormir a noite toda agarrado à mulher e, com ela, a também jornalista Anna Penido, escrever o livro "Os Melhores Dias da Minha Vida - Lições de um Câncer", que tinha previsão de ser ser lançado até julho.

"Estou fazendo uma auto reportagem. E a Anna, além de escrever, é também minha ombudsman. Às vezes conto algo sobre a doença e ela diz, 'Gilberto, não, isso é mentira'", disse ele, à época.

Questionado sobre vida e morte, ele afirmou que "tem hora que eu sinto uma força maior me levando. Mas a maior parte do tempo, especialmente quando aparece um medicamento novo, eu penso: 'Agora vai dar certo, agora vai dar certo'. Eu estou otimista, viu."

E descreveu um momento em particular. "Um dia tive uma sensação de proximidade com a morte. Foi quando eu fiz químio e estava tomando junto um antibiótico para pneumonia. Comecei a sentir um cansaço, um cansaço, um cansaço, sentia que estava indo, que estava saindo. Foi bom. É uma sensação de liberdade."