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'Onde deixo meu filho?' Governo de SP fecha local para crianças na pandemia

Palácio dos Bandeirantes Imagem: Recorte sobre foto de Aloisio Mauricio / Fotoarena / Folhapress

Gabriela Sá Pessoa

Do UOL, em São Paulo

30/05/2020 04h00

Kelly Gomes, 21, consegue trabalhar oito horas por dia porque, antes de levar a filha Isabella, 7, para a escola, pode deixá-la em um espaço onde a menina tem aulas de teatro, capoeira, dança e circo, além de alimentação. Agora, Kelly e outros pais temem que a iniciativa seja descontinuada pelo governo João Doria (PSDB), em São Paulo.

Funcionários de duas unidades das Casas da Solidariedade afirmaram à reportagem do UOL que o governo estadual fechará, a partir de junho, o local, por não ter recursos para manter a iniciativa. O projeto atende quase mil crianças e adolescentes de famílias pobres em três unidades da capital paulista.

Pais de crianças relatam que, quando telefonaram para as unidades, foram informados de que elas estão sendo fechadas e os funcionários estão retirando equipamentos desses locais. Publicações em redes sociais expõem a situação, e um abaixo-assinado circula na internet com o objetivo de "evitar o fechamento das Casas da Solidariedade". Até o fechamento deste texto, a petição reunia mais de 9 mil assinaturas.

O governo do estado, no entanto, afirma que as casas não vão fechar e o contrato com a ONG Instituto Criança Cidadã, responsável por gerir o projeto, continua vigente por seis meses. Contudo, os pagamentos à entidade não estão sendo efetuados, diz a gestão Doria, em razão da suspensão dos serviços desde março, por causa da quarentena durante a pandemia do novo coronavírus.

"Devido à pandemia da covid-19, as atividades precisaram ser suspensas durante a quarentena, por determinação do Comitê de Contingência do covid-19. Em 23 de março todas as atividades foram suspensas, não cabendo ao estado pagar pela não prestação dos serviços, conforme determina o Tribunal de Contas do Estado. Os meses paralisados serão retomados após o retorno das atividades, assim como os devidos pagamentos após prestação de contas pelos serviços prestados no futuro", informou o governo Doria, em nota. Segundo a gestão, a presidente da entidade foi informada sobre essa situação.

A própria Kelly, hoje mãe da Isabella, foi beneficiada pelo projeto social, que frequentou dos 7 aos 12 anos. Ela sonhava com o dia em que um filho seu teria a mesma oportunidade.

"A minha vida foi marcada por entrar na Casa numa timidez absurda. Para conversar com as pessoas, eu olhava para o chão, e lá eles trabalharam muito isso, me colocando em aula de dança, coral, teatro. A minha mãe é muito grata por eles terem ajudado a me tornar a mulher que sou hoje. Na Casa, trabalhávamos em projetos o ano todo, e em dezembro tinha uma apresentação de tudo o que aprendíamos durante o ano. Me ver dançando, falando sem uma gota de vergonha, foi muito gratificante, tanto para mim como para minha mãe. Isso me marcou muito", conta.

Se a Casa da Solidariedade deixar de funcionar após o fim da quarentena, Kelly Gomes diz que não sabe com quem deixará a filha durante as manhãs. "Provavelmente, [vou] sair do trabalho para permitir que ela frequente a escola, pois ela tem apenas 7 anos e não pode ficar sozinha em casa."

O UOL procurou a ONG Instituto Criança Cidadã por telefone e e-mail, mas não conseguiu entrar em contato com seus representantes até a publicação desta reportagem. A entidade recebeu R$ 894,48 mil do governo estadual em 2020, segundo dados da Secretaria da Fazenda. O último pagamento ocorreu no dia 24 de março, há dois meses.

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