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Indígenas relatam descaso do Estado em relação à covid: 'Não somos números'

Milena Kokama no Conversa com Bial - Reprodução/vídeo
Milena Kokama no Conversa com Bial Imagem: Reprodução/vídeo

Colaboração para o UOL

09/06/2020 03h24

Milena Kokama, vice-presidente da Federação Indígena do Povo Kokama, esteve no "Conversa com Bial" desta madrugada relatando o sofrimento dos povos indígenas diante da mortandade causada pela pandemia do coronavírus, e que tem o Estado como um dos principais culpados por falta de assistência.

"Só hoje foram 55 Kokamas mortos pela Covid-19", lamentou Milena. "Não temos hospitais nas nossas aldeias, e nem todos os povos são atendidos pela Saúde Indígena (SESAI). Não temos respiradores e nem testes rápidos. Não temos remédio. O nosso remédio é a nossa medicina", disse ela tirando os óculos e segurando o choro.

"Nós não somos números", desabafou a indígena ao lembrar da perda de um líder tradicional de sua aldeia, Guilherme Padilha Samias. Ele teve que esperar 11 dias por uma vaga de UTI, em Manaus, e não aguentou. "Os nossos anciões são sagrados. Quando um se vai, perdemos um pouco da nossa sabedoria", explicou.

Segundo levantamento feito no último sábado pelo Comitê Nacional pela Vida e Memória Indígena, 93 povos indígenas estão infectados pelo coronavírus, com mais de 2.500 casos confirmados e 240 mortes.

O cacique Marivelton Baré, presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, também deu a sua colaboração no programa: "Cada liderança nossa que vai a óbito por Covid, seja do território do Rio Negro ou não, isso é doído, porque é menos um índio no Brasil".

Marivelton continuou: "O Estado Brasileiro tem que nos atender com prioridade plena. Não é que queremos coisas específicas ou ser melhor, é obrigação, porque também fazemos parte da sociedade e somos os verdadeiros nativos daqui."

"Muita gente pensa que somos o problema, mas não somos", complementou Milena. "Quando não houver mais nenhum índio, não haverá mais vida, porque não haverá natureza e nós somos a natureza. Sem Mãe Natureza, não há vida", finalizou.

O "Conversa com o Bial" vai ao ar de segunda à sexta-feira após o Jornal da Globo.