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'Negacionismo é tendência suicida do ser humano', diz escritor Ruy Castro

Ruy Castro no Conversa com Bial - Reprodução/vídeo
Ruy Castro no Conversa com Bial Imagem: Reprodução/vídeo

Colaboração para o UOL

03/07/2020 03h39

Durante o "Conversa com Bial" desta madrugada, na Rede Globo, o escritor, biógrafo e jornalista Ruy Castro comparou algumas situações da pandemia do coronavírus com a da gripe espanhola, que em 1918 devastou um terço da população mundial. Segundo ele, o negacionismo de políticos ao vírus, que já existia à época e se repete atualmente, é uma tendência suicida do ser humano.

"Isso é uma tendência suicida do ser humano. Se você não enxergar uma realidade, ela deixa de existir. Agora, se você coloca o poder nas mãos de uma figura dessa, já sabemos o que acontece", disse ele quando Pedro Bial citou como exemplo o diretor de saúde pública da época, Carlos Seidl, que minimizava a potencial mortandade da pandemia.

Para o escritor, a vantagem em relação à gripe espanhola é a ciência. "Em 1918, a ciência não tinha nem condição de identificar o vírus. Então, hoje nós temos muito mais condições de enfrentar o inimigo, embora pareça que o inimigo é muito pior do que aquele de cem anos atrás", opinou.

"Naquela época não existiam meios de comunicação para alertar a população. Não tinha rádio, nem televisão, só jornais, mas esses tinham alcance limitado e passaram a circular menos por causa da doença, com seus profissionais morrendo", continuou. "A pessoa só tomava a iniciativa de usar máscara, ou de ficar em casa, quando uma dizia para a outra".

Pós-pandemia

O livro mais recente de Ruy Castro, "Metrópole à beira-mar: O Rio moderno dos anos 20" [Companhia das Letras], relata como a euforia e a modernidade tomaram conta do Rio de Janeiro na pós-pandemia da gripe espanhola, nos anos 1920 até a Revolução de 1930.

Durante a pandemia, o Rio foi o município brasileiro mais afetado pelo vírus, e, em menos de um mês morreram 15 mil pessoas somente na cidade. Em novembro de 1918, a gripe foi embora inesperadamente, assim como chegou.

Com o fim do terror, o Carnaval de 1919 foi, nas palavras do entrevistado, o mais "louco" até então. "Imagine, em 1º de janeiro já tinha o Carnaval às portas, pois a festa começou no início de março. Então, o Rio teve dois meses loucos, porque na cabeça das pessoas aquele podia ser o último Carnaval da vida delas e elas queriam aproveitar", ressaltou.

"Esse Carnaval foi uma preparação para toda a efervescência criativa e de modernidade que o Rio iria conhecer também nos anos 20", finalizou Ruy sobre a festa catártica, que marcou uma nova era no país.

O "Conversa com o Bial" vai ao ar de segunda à sexta-feira após o Jornal da Globo.