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RJ: alunos voltam a academias com 'kit anticovid' e pano de limpar aparelho

Herculano Barreto Filho

Do UOL, no Rio

03/07/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Alunos chegaram a formar fila com 50 pessoas em frente a uma academia
  • Em outra unidade, havia apenas cinco pessoas fazendo exercícios

A reabertura das academias na cidade do Rio de Janeiro foi marcada por agendamentos, alunos com "kit anticovid" —máscara de proteção, pano e álcool em gel para higienizar os aparelhos— e até filas à espera da abertura do portão.

Apesar da ansiedade da maioria dos alunos —que compareceram às academias ontem (2), dia seguinte do anúncio da reabertura com restrições—, também houve estabelecimentos fechados e com baixa adesão, além de frequentadores que compareceram para cancelar suas matrículas em razão do receio de retomarem a malhação em um ambiente fechado durante a pandemia da covid-19. A capital fluminense contabiliza 58.615 infectados e 6.689 mortes por causa do coronavírus, segundo o governo estadual.

Pouco antes das 14h30, uma fila com cerca de 50 pessoas se formou em frente à unidade da Lapa da Smart Fit. A cena chamava a atenção de quem passava pelo local. Quando ainda faltava um minuto para a reabertura, um homem no começo da fila começou a bater insistentemente no portão. O designer Fabio Calderon, 29, não escondia a ansiedade. Enquanto aguardava, já começava a se alongar.

Exibiu a pochete, onde carregava o próprio "kit anticovid", com um pano e o álcool em gel que usaria para higienizar as mãos e os aparelhos da academia. "Já acordei ansioso. Senti muita falta de ir para a academia", disse.

Frequentadores de academias do Rio formam fila para voltar a malhar

O clima entre os frequentadores também era de incerteza. "Cheguei a ter dúvida se era o melhor momento de voltar. Se eu morasse com os meus pais, que são idosos, ficaria em casa", admitiu Ramon de Carvalho Marques, 28. "Fico com um pouco de medo. Mas acho que tinha que voltar. É saúde também, né?", falou a estudante Ester de Castro Souza, 21.

Maquinista da SuperVia, Fernando Pereira, 38, disse estar acostumado com aglomerações e não teme um eventual contágio pelo vírus. "Trabalho na linha de frente. Devo até ter pego [a covid-19], mas acho que sou assintomático."

Nem todo mundo ali estava com disposição para malhar. Havia uma fila de alunos que foram à unidade só para cancelar a matrícula. "Não é o momento para voltar", avaliou o advogado Ney Eduardo Simões, 44. "Ainda não me sinto seguro", concordou o professor Caio Mello, 31.

Em nota, a rede Smart Fit informou que está adotando as recomendações do manual elaborado pela Associação Brasileira das Academias na reabertura das atividades, com procedimentos para ajudar a prevenir casos de contágio. Entre as medidas, a rede cita o distanciamento social, o agendamento de horário para alunos e o uso de 50% dos aparelhos, como esteiras e bicicletas.

Uma academia para 5 frequentadores

Em uma outra academia perto dali, o proprietário Josemar Aran acompanhava a entrada dos alunos ao lado da portaria. No primeiro dia de funcionamento, os frequentadores agendaram horário para malhar. "Recebi muita ligação de pessoas que não vão voltar porque acham que ainda é cedo. Estamos colocando à disposição dos alunos apenas 40% da capacidade", explicou Aran.

No começo da tarde de ontem, apenas cinco pessoas usavam os aparelhos no segundo piso da academia em um espaço de pouco mais de 100 m². Havia álcool em gel e panos espalhados no local, à disposição dos alunos.

Colegas de trabalho, Reinaldo Araújo e Vinicius dos Santos chegaram a revezar o uso nos mesmos aparelhos, medida não recomendada pelas autoridades sanitárias. Eles foram advertidos pela professora de educação física, que monitorava as atividades. "Recebi um pano e álcool para higienizar os aparelhos antes e depois do uso", disse Reinaldo.

Nos últimos meses, Josemir Mozer, 39, disse que só saía de casa para ir ao mercado ou para passear com o cachorro. Agora, decidiu voltar à academia.

Rapaz, eu vou te falar que está sendo uma maravilha [voltar para a academia]. Isso aqui é uma terapia. E importante também para manter a saúde mental. Eu estava desesperado em casa nessa quarentena, sem fazer atividade física. É muito bom estar voltando

Josemir Mozer, professor de Educação Física

O infectologista Edimilson Migowski concorda com os efeitos positivos da academia na rotina dos cariocas. "O exercício físico também é importante para impedir que a imunidade caia e liberar endorfina. Ficar em casa ganhando peso pode ser uma porta de entrada para o alcoolismo e até para um processo de depressão. A reabertura das academias, cumprindo os protocolos, é positiva."

"É extremamente improvável que ocorra uma nova onda do vírus, porque há mais pessoas que já adoeceram e se curaram. É possível que quase 40% da população do Rio já tenha sido infectada pela covid-19", projeta o infectologista.

O número de mortos e infectados pelo vírus caiu na última semana. Nos últimos sete dias, foram registradas 528 mortes e 4.446 pessoas infectadas. Entre os dias 19 e 25 de junho —o pico dos últimos 30 dias —foram 818 óbitos e 7.914 casos de pacientes que testaram positivo para a doença. De 12 a 18 do mês passado, foram registrados 493 mortes e 6.238 novos casos.

O que dizem as regras da reabertura das academias do Rio

  • As academias só poderão funcionar com agendamento de horário pelos clientes, com limitação de um terço da capacidade;
  • O espaço para cada pessoa terá de ser de 6 m² devido à necessidade de maior distanciamento para as atividades físicas;
  • Aulas de natação estão permitidas, desde que com hora marcada;
  • Aulas de luta e dança estão permitidas, desde que sem contato físico;
  • Proibição de saunas, piscinas (exceto para aula de natação), kidsroom e spa. No crossfit, que está permitido, o que não pode é usar equipamentos de difícil higienização, como pneus e corda naval;
  • Uso de máscara obrigatório;