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Empresários ligados ao MBL são presos por lavagem de dinheiro, diz MP

Operação policial prendeu membros do MBL, segundo o MP - Polícia Civil
Operação policial prendeu membros do MBL, segundo o MP Imagem: Polícia Civil

Wanderley Preite Sobrinho e Rafael Bragança

Do UOL, em São Paulo

10/07/2020 07h55

A Polícia Civil de São Paulo prendeu na manhã de hoje dois empresários ligados ao MBL (Movimento Brasil Livre) por suspeita de envolvimento no desvio de mais de R$ 400 milhões, segundo informações do Ministério Público Estadual. O órgão diz que o MBL recebia "doações de forma suspeita" por meio de "cifras ocultas" em uma "confusão jurídica empresarial" com o MRL (Movimento Renovação Liberal).

A operação, realizada em conjunto pelo MP e Receita Federal, prendeu Alessander Mônaco Ferreira e Carlos Augusto de Moraes Afonso (conhecido pelo pseudônimo Luciano Ayan nas redes sociais), investigados por lavagem de dinheiro e ocultação de patrimônio.

"As evidências já obtidas indicam que estes envolvidos, entre outros, construíram efetiva blindagem patrimonial composta por um número significativo de pessoas jurídicas, tornando o fluxo de recursos extremamente difícil de ser rastreado, inclusive utilizando-se de criptoativos e interpostas pessoas", afirma o MP em nota.

As buscas incluíram a sede do MBL, organização política brasileira que ganhou notoriedade ao apoiar tanto o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff quanto a eleição de Jair Bolsonaro, em 2018.

Procurado pelo UOL, o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) negou que os detidos sejam membros do MBL.

"Alessander Monaco Ferreira e Carlos Augusto de Moraes Afonso não são integrantes e sequer fazem parte dos quadros do MBL. Ambos nunca foram membros do movimento. Uma notícia veiculada de maneira errônea por um portal criou tal confusão", diz o deputado.

Segundo a Gedec (Grupo Especial de Repressão a Delitos Econômico), do MP, os homens integram o MBL, embora a operação "se refira a um crime econômico, e não político".

As suspeitas

Ainda segundo o MP, os grupos MBL e MRL recebiam "doações de forma suspeita" por meio de "cifras ocultas". O esquema seria por meio da plataforma Google Pagamentos, "que desconta 30% do valor ao invés de doações diretas na conta do MBL/MRL", cuja ligação foi classificada de "confusão jurídica empresarial".

O esquema utilizaria "diversas empresas em incontáveis outras irregularidades, especialmente fiscais".

Segundo reportagem do "El País" de 2017, o MRL foi criado para receber "todos os recursos" doados ao MBL. Trata-se de uma "associação privada", como informa o site da Receita Federal, cujos sócios incluía um coordenador do MBL.

A família Ferreira dos Santos, criadora do MBL, adquiriu/criou duas dezenas de empresas - que hoje se encontram - todas - inoperantes e, somente em relação ao Fisco Federal, devem tributos, já inscritos em dívida ativa da União, cujos montantes atingem cerca de R$ 400 milhões.
MP de São Paulo

Ao UOL, o Google encaminhou nota em que afirma que o "Super Chat é um recurso pelo qual usuários podem comprar mensagens de chat em transmissões ao vivo no YouTube".

"Não comentamos casos específicos. O Google apoia, de modo consistente, o importante trabalho das autoridades investigativas."

Os detidos

Segundo o MP, Carlos Afonso (Luciano Ayan) "ameaça aqueles que questionam as finanças do MBL, dissemina fake news", criou ou é sócio de "ao menos 4 empresas de fachada" com "indícios de movimentação financeira incompatível perante o fisco federal".

Já Alessander Monaco Ferreira teria realizado "doações altamente suspeitas através da plataforma Google", criou ao menos "duas empresas de fachada" e "viajou mais de 50 vezes para Brasília" em dois anos "com objetivos não especificados" no Ministério da Educação.

"Ele [Alessander] solicitou emprego e foi contratado pelo Governo do Estado de SP para trabalhar [na] Cada - Comissão de Avaliação de Documentos e Acesso da Imprensa Oficial do Estado - e justamente um cargo que tem função de gerenciar tarefas de eliminação de documentos públicos, de informações relativas ao recolhimento de documentos de guarda permanente, produzidos pela Administração Pública", diz o MP.

Ao UOL, a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo encaminhou nota afirmando que "Alessander Monaco não tem vínculo com a Imprensa Oficial desde 15 de janeiro deste ano, da qual foi empregado desde fevereiro de 2019".

"Sua contratação foi baseada na experiência comprovada em currículo e atividades anteriores. Ele atuou em projetos de guarda digital, classificação de temporalidade e arquivamento de documentos na empresa. Os fatos até então revelados não têm relação com o governo de São Paulo."

A operação de hoje foi batizada de Juno Moneta, em referência a um antigo templo romano onde eram cunhadas as moedas na antiguidade.

O Departamento de Operações Policiais Estratégicas da Polícia Civil enviou 35 policiais e 16 viaturas para cumprir seis mandados de busca e apreensão e as duas prisões na capital paulista e em Bragança Paulista.

Foram apreendidas diversas mídias digitais, entre celulares, computadores, HDs e pendrives.