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Nordeste concentra metade de domicílios sem abastecimento de água no país

19.dez.2016 - Moradores de Alagoinha (PE) carregam baldes com água potável - Beto Macário/ UOL
19.dez.2016 - Moradores de Alagoinha (PE) carregam baldes com água potável Imagem: Beto Macário/ UOL

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Maceió

22/07/2020 10h00Atualizada em 22/07/2020 10h39

Resumo da notícia

  • Seca afeta abastecimento da região Nordeste, gera interrupções e racionamentos
  • Ausência de tratamento da água atinge um quarto dos municípios nordestinos
  • Má qualidade da água consumida pode dar impulso a doenças, como ocorreu com a zika

Dos 9,6 milhões de domicílios brasileiros ainda não ligados à rede de abastecimento de água, metade está no Nordeste —região que tem a maior parte de seu território no semiárido e enfrenta constantes secas.

Os dados são da PNSB (Pesquisa Nacional de Saneamento Básico), divulgada hoje pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), que revelam ainda que o Brasil tem conseguido avançar no percentual de ligações de abastecimento por rede.

Em 2017, havia 59,8 milhões de residências abastecidas no país, contra 45,3 milhões em 2008 (ano da última PNSB). Com isso, o percentual subiu de 77,9% para 86,1% de cobertura.

No recorte analisando os municípios, o levantamento aponta que o percentual destes com abastecimento de água encanada também aumentou, e chegou a 99,6% —5.548 dos 5.570 municípios em 2017.

De 2008 a 2017, essa proporção aumentou 0,2 ponto percentual (era de 99,4%, ou 5.531 municípios).

Ainda em 2017, a região Sul foi a segunda do país a ter 100% dos municípios com serviço de abastecimento de água por rede geral de distribuição. Antes, apenas o Sudeste já havia alcançado a marca.

Seca afeta o fornecimento e causa racionamentos, aponta IBGE

Em 2017, dos 22 municípios sem prestador de serviço de abastecimento de água, 13 eram do Nordeste, sete do Norte e dois do Centro-Oeste.

Além de muitas casas sem água encanada, a região Nordeste ainda é a que mais sofre com intermitência no abastecimento e racionamentos.

"A paralisação completa dos serviços de alguma entidade foi observada em 68 municipalidades brasileiras, sendo 59 localizadas na região Nordeste, com destaque para o Rio Grande do Norte (20) e a Paraíba (31). A seca foi um dos motivos apontados para a paralisação dos serviços em 59 municípios, todos eles nordestinos", relata a pesquisa.

A falta de abastecimento de água pode acarretar problemas sanitários, aponta o IBGE. "Episódios de interrupção, racionamento ou paralisação dos serviços, se duradouros, podem comprometer, seriamente, a saúde da população, não só por privá-la do consumo de água em quantidade e qualidade suficientes, mas também por acabar levando-a a recorrer a soluções nem sempre adequadas. É o caso do armazenamento inadequado da água, que pode propiciar a proliferação de vetores de diversas doenças, como o mosquito transmissor da dengue, chikungunya, zika e febre amarela."

Má qualidade da água intensificou avanço da zika

Um dos exemplos disso ocorreu entre 2015 e 2016, quando o Nordeste foi epicentro de uma epidemia causada do vírus da zika, que causou uma série de problemas na formação neurológica em bebês. Na época, a região enfrentava uma grande seca e a qualidade da água foi apontada como uma das causas do agravamento do problema.

Além disso, o levantamento ainda aponta que a região é a que tem maior problema na qualidade da água. O volume de captação de água salobra chega a 10,2% do total no Nordeste, enquanto a média nacional é 2,7%.

Também é no Nordeste que temos o maior percentual de municípios sem estações de tratamento: 24,2%, quando a média nacional foi de 11,7%.

Domicílios sem abastecimento de água:

  • Nordeste - 4,8 milhões (26,6% da região)
  • Norte - 2,7 milhões (52,4% da região)
  • Sudeste - 912,8 mil (3,0% da região)
  • Sul - 703,1 mil (6,7% da região)
  • Centro-Oeste - 491,2 mil (9,1% da região)
  • Brasil - 9,6 milhões (13,9% do país)

Municípios sem estações de tratamento de água:

  • Nordeste - 24,2%
  • Norte - 21,6%
  • Sudeste - 4,6%
  • Sul - 3%
  • Centro-Oeste - 2,4%
  • Brasil - 11,7%