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Rendido com choque cita desembargador, diz que pegou covid e critica Guarda

Herculano Barreto Filho

Do UOL, no Rio

22/07/2020 04h00

O homem rendido com uma arma de eletrochoque pela Guarda Municipal após abordagem por estar sem máscara no último sábado (18) na praia de Copacabana, zona sul do Rio, citou o caso do desembargador que rasgou uma multa e insultou um agente em Santos (SP) para exemplificar o que entende ser exagero na aplicação de multas no combate à covid-19. O uso de máscaras em locais públicos na capital fluminense é obrigatório, sob pena de multa.

Em entrevista ao UOL, o empresário Severino Francisco da Silva Júnior, 25, procurou justificar o fato de estar sem máscara na praia e a reação à abordagem, contou já ter sido infectado pelo coronavírus —e por isso segundo ele já estaria imunizado— e criticou a ação dos agentes. Os guardas o levaram para a delegacia, onde foi indiciado por desacato, desobediência e resistência. "Achei desnecessário", disse.

O empresário foi submetido a um exame feito ontem à tarde na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) de Copacabana, que constatou escoriações no punho, braço e ombro esquerdo. O laudo também apontou um hematoma de 5 cm no braço direito.

Severino, que ainda se queixa de dores no pescoço, contesta as ações da Guarda Municipal no combate à pandemia.

"Teve o caso do desembargador que rasgou a multa. Teve o caso da bailarina do Faustão presa por desacato [Natacha Horana foi detida no domingo enquanto participava de uma festa clandestina em Santa Catarina]. São medidas desnecessárias. Qual a necessidade de usar máscara na praia se você estiver distante das outras pessoas?", questiona.

Eu não estava cometendo nenhum delito. Minha resistência foi quando um deles apertou o meu pescoço. Fiquei sem respirar. Eu já treinei artes marciais e simplesmente me soltei do mata-leão que ele me deu. Foi quando levei o choque

Para o empresário, houve abuso de autoridade na ação dos agentes. "Tinham centenas de pessoas sem máscara e eles vieram direto em mim. Os guardas se aproximaram e solicitaram um documento para me notificar. Eu disse que estava sem a documentação e que não queria ser notificado. Então, eles falaram que iriam me levar para a delegacia."

Segundo ele, foi quando começou a confusão. "Eu apenas perguntei: 'Tá louco? Preso por quê?'. Aí, um dos guardas me xingou. Eu não estava me recusando a ir para a delegacia. Só pedi para ligar para a minha advogada, que iria acompanhado dela. Como tinham seis caras, fiquei meio receoso de acontecer algo comigo, pela forma como eles me abordaram", conta.

O empresário diz ter sido ameaçado por um dos guardas. "Um deles já estava bem alterado, apontando a arma e perguntando: 'Quer tomar choque?' Quando chegamos perto do calçadão, eu disse: 'Vai, atira em mim'. Foi quando eu comecei a pedir para que as pessoas filmassem", relatou.

Severino diz não ter sentido dor no momento da descarga elétrica.

Só senti o pino da arma de choque, tipo um anzol, preso na minha pele. Mas foi indolor. Não sei se por conta da adrenalina. Só senti o meu corpo anestesiado pela eletricidade mesmo. Senti o meu corpo paralisado

Depois de ser atingido pela arma de eletrochoque, ele foi algemado e conduzido a uma UPA. E, em seguida, levado para a 12ª DP (Copacabana), onde foi indiciado. "Não pediram a minha versão da história. Não me deram voz. Nunca tinha pisado em uma delegacia antes. Foi uma humilhação."

O que diz a Guarda Municipal

Procurado pelo UOL, o inspetor Luciano dos Santos, subdiretor da Guarda Municipal, nega que tenha havido abuso de autoridade. Segundo ele, a abordagem seguiu a progressão das ações de uso de força aplicada pelos agentes.

"Primeiro, houve a verbalização, quando o guarda o abordou, pedindo os documentos. Se ele tivesse informado o CPF, teríamos como aplicar o procedimento. Mas aí ele começou a discutir com o guarda. Em um primeiro momento, havia uma desobediência, que seria o suficiente para a condução à delegacia", diz.

Ele relata que a discussão se intensificou, qualificando o caso como de desacato. Em seguida, segundo o inspetor, houve resistência.

"Quando passou a resistir, ele se negou a ir para a delegacia sem a necessidade do uso de força. Já havia contato físico. Por isso, houve necessidade de imobilização. Quando chega nesse momento, é porque todas as técnicas empregadas não deram certo. Isso só acontece em último caso", explica.

Segundo a Guarda Municipal, foram registradas 18 ocorrências de pessoas conduzidas à delegacia porque não estavam usando a máscara de proteção em praias e ruas do Rio.