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Empresário disse ao Samu que jovem morta com tiro tinha sofrido uma queda

Condomínio em Cuiabá onde uma garota de 14 anos foi morta com um tiro na cabeça - Reprodução / Google Maps
Condomínio em Cuiabá onde uma garota de 14 anos foi morta com um tiro na cabeça Imagem: Reprodução / Google Maps

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Recife

01/08/2020 00h23Atualizada em 03/09/2020 11h21

O pai da adolescente investigada pela morte de Isabele Guimarães Ramos, 14, morta com um tiro na cabeça, em Cuiabá, telefonou para o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) informando que a vítima tinha sofrido uma queda e batido com a cabeça no chão e que estava sangrando muito. Na ligação, o empresário não diz que a menina levou um tiro na cabeça. Isabele morreu antes do socorro médico chegar ao local, na noite do último dia 12.

A filha do empresário, que também tem 14 anos, é investigada como autora do disparo que matou a garota. O pai dela foi preso em flagrante delito por posse ilegal de arma de fogo e pagou R$ 1 mil de fiança para responder em liberdade provisória — depois o valor mudou duas vezes (para R$ 209 mil e R$ 10 mil), seguindo decisões da Justiça.

A polícia encontrou sete armas no condomínio onde ocorreu o crime, sendo duas sem registro no nome dele. A arma que disparou e atingiu a menina está registrada no nome do pai do namorado da adolescente investigada como autora do disparo. A família de Isabele questiona se a morte dela foi acidental.

Em um trecho da ligação ao Samu, divulgado ontem por diversos veículos de imprensa de Cuiabá, o empresário diz que Isabele estava perdendo muito sangue. No meio da ligação, questionado pela atendente do Samu sobre o que tinha ocorrido com a vítima, ele relata que a garota caiu e bateu a cabeça no banheiro.

"Oi, rápido, a menina caiu no banheiro. (...) Tem muito sangue, está perdendo muito sangue", relatou o empresário.

A atendente questiona o que ocorreu. Ele responde: "ela caiu e bateu a cabeça, está perdendo muito sangue, perdeu dois litros de sangue. (...) É que ela está perdendo muito sangue, se não vir rápido não vai sobrar. Bel, eu acho que ela está sem respiração, rápido", disse o empresário.

A atendente pergunta o endereço e afirma que vai passar a ligação para um médico. "Rápido, moça, por favor, ela está perdendo muito sangue. Ela está desacordada, eu não estou sentindo a respiração dela."

'Áudio do Samu está no depoimento do empresário', diz defesa

Segundo o advogado Ulisses Rabanada, que atualmente faz a defesa do empresário e da filha dele, o pai da menor estava no piso inferior da casa e pensou que o barulho do tiro que matou Isabele teria sido uma porta de vidro que tinha caído. Ainda de acordo com advogado, o empresário encontrou Isabele caída e a filha dele apavorada, gritando "Bel", apelido da vítima, e imediatamente telefonou para o Samu.

"Nesse diálogo ele deixa claro o que acreditava, que se tratava de uma queda. Quando houve o barulho todos estavam embaixo, no piso inferior da casa, e as duas meninas na parte de cima. Com o barulho, todos acreditaram que era uma porta de vidro que tem na parte superior que é enorme e tinha caído. Qual o sentido de ele mentir ao Samu e falar que foi uma queda se os médicos, quando chegassem minutos depois, iriam identificar que foi tiro?", alegou o advogado.

Rabanada afirma que o pai da menor repassou as senhas do circuito de câmeras da casa e "teve a sorte que o circuito também captou os diálogos".

"Está tudo está com a polícia. O áudio do Samu demonstra o depoimento dele e o da filha. As investigações seguem em sigilo, mas todos os elementos que constam nos autos não têm nenhum que diverge da versão que foi apresentada pela B. Ela é uma criança e está totalmente traumatizada, e confesso que esse caso é muito difícil. A gente fica consternado", diz o advogado do empresário.

A morte da adolescente

A garota Isabele Guimarães Ramos tinha ido à casa da colega para fazer um bolo e foi morta com um tiro na cabeça. Segundo a perícia, o tiro entrou pela narina e saiu pela cabeça da vítima. A adolescente morreu antes do socorro, dentro de um dos banheiros do imóvel.

A polícia afirmou que a cena do crime teria sido modificada e investiga o porquê. Investiga também a responsabilidade do pai pela filha ter manuseado uma arma de fogo e pelas armas não registradas em seu nome.

Após a morte da adolescente, a polícia encontrou sete armas de fogo no condomínio — sendo duas armas não registradas no nome dele. Por isso, o empresário foi preso em flagrante. As armas pertencem ao pai do namorado da menor suspeita do crime, que tem 16 anos e teria levado as armas para o imóvel no dia da morte de Isabele. As famílias praticam tiro esportivo.

Apesar de ser milionário, o empresário pagou R$ 1 mil de fiança e foi liberado para responder pelo crime em liberdade. Depois, a pedido do Ministério Público e da família da vítima, a Justiça majorou o valor em R$ 209 mil, mas a defesa recorreu da decisão, alegando que ele passa por dificuldades financeiras, e o valor minorou para R$ 10 mil.

O namorado da suspeita de cometer o crime e o pai dele, que não tiveram os nomes divulgados, prestaram depoimento à polícia no último dia 20. O empresário e a filha foram ouvidos pela polícia no dia 14. Os conteúdos dos depoimentos não foram divulgados pela polícia.