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"Rei da fronteira" volta atuar e se opõe ao PCC em rota ao Paraguai, diz MP

Inscrição do PCC em Pedro Juan Caballero, no Paraguai - 29.jan.2020 - Marina Garcia/UOL
Inscrição do PCC em Pedro Juan Caballero, no Paraguai Imagem: 29.jan.2020 - Marina Garcia/UOL

Vinicius Konchinski

Colaboração para o UOL, em Curitiba

14/08/2020 04h02

Uma investigação do MP (Ministério Público) e Polícia Civil do Mato Grosso do Sul recolocou um velho conhecido da Justiça em meio a novas suspeitas de envolvimento com o crime organizado na fronteira entre o Brasil e Paraguai. Indicou também que a disputa pelo controle da rota de tráfico que passa pela cidade de Ponta Porã (MS) pode estar aberta de novo.

O personagem em questão é empresário Fahd Jamil, 79 anos. Ele fez fama e fortuna atuando no contrabando desde os anos 80. Tornou-se o "rei da fronteira".

Em 2005, foi condenado a prisão por tráfico de drogas e outros crimes. Deixou Ponta Porã e ficou foragido. Recorreu enquanto ainda era procurado e acabou absolvido num julgamento em segunda instância, em 2009.

De volta a Ponta Porã, Jamil teve sua prisão decretada novamente em junho e, de novo, é considerado procurado. Desta vez, ele é acusado de envolvimento com o tráfico de armas e suspeito de participar da vingança de um assassinato atribuído ao PCC (Primeiro Comando da Capital), facção que busca o controle da fronteira Brasil-Paraguai. Seu advogado afirma que ele é inocente (veja mais abaixo)

As investigações sobre Jamil fazem parte da operação Omertá e citam seu filho, Flávio Correia Jamil Georges, que também está foragido.

Segundo o MP estadual, Jamil e Flávio são líderes de uma mesma organização criminosa. Investigadores ouvidos pelo UOL suspeitam que Flávio almeja fazer frente ao PCC na fronteira utilizando-se da ajuda e prestígio de seu pai. A defesa de Flávio não foi localizada pela reportagem.

Rastro de assassinatos no estado

A operação Omertá foi deflagrada para investigar assassinatos supostamente cometidos por uma milícia controlada pelo empresário Jamil Name, 81 anos, em Campo Grande. Fahd Jamil é amigo de Jamil Name, que está preso. Da fronteira, ele colaboraria com crimes do empresário da capital fornecendo armas a sua milícia, segundo o MP.

Essa milícia estaria ligada a diversos assassinatos cometidos em Mato Grosso do Sul. Um deles, em especial, teria ligação com a disputa de poder entre criminosos da fronteira.

Em outubro de 2018, Orlando da Silva Fernandes, morreu metralhado em Campo Grande. Ele teria sido segurança do traficante Jorge Rafaat. O traiu e, assim, teria contribuído para seu assassinato, em 2016, a mando do PCC.

PCC disputa o domínio do tráfico na fronteira

A morte de Rafaat foi um marco na disputa pelo controle da região. Ele controlava o tráfico em Ponta Porã, e sua morte teria aberto caminho para o PCC se consolidar na região.

Desde o assassinato de Rafaat, lideranças do PCC foram apontadas como controladores da fronteira. Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, o Minotauro, teria chefiado o tráfico na região até ser preso em fevereiro de 2019. Edson Barbosa Salinas teria assumido seu posto, mas ele foi detido em janeiro deste ano.

Por conta das prisões, o PCC estaria desestruturado na região. Flávio Jamil teria visto nisso como uma oportunidade e estaria movimentando-se para que ele assuma um posto que já foi de seu pai e de Rafaat.

Uma autoridade que conversou com o UOL disse que há "sérios indícios" que Fahd Jamil e pessoas ligadas a ele estariam envolvidos atualmente com o tráfico de drogas vindas do Paraguai.

Defesa diz que prisão ameaçaria saúde de Fahd Jamil

O advogado de Fahd Jamil, Gustavo Badaró, disse ao UOL que seu cliente é inocente. Segundo ele, o MP não apresentou nenhuma prova da relação pessoal de Jamil com o tráfico de armas, assassinatos e outros crimes pelos quais ele foi recentemente relacionado.

Badaró contou que Jamil está foragido por uma questão de "vida ou morte". Com 79 anos, Jamil tem uma doença pulmonar, respira com ajuda de aparelhos, é hipertenso e diabético. Segundo Badaró, estar numa cela significaria grave ameaça a saúde do procurado.

O advogado disse ainda não ter informações sobre a relação entre Fahd Jamil e seu filho Flávio.

A defesa de Flávio é feita por advogado Alex Augusto Derzi Resende. O UOL não conseguiu localizá-lo para tratar das acusações do MP.

O advogado Tiago Bunning defende Jamil Name, que está preso preventivamente. Em nota, ele afirmou que acusações contra seu cliente são levianas e buscam criar apelo social para para justificar a excepcional prisão de seu cliente, que não tem antecedentes criminais e também é doente.