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Tia diz que jovem morto no RJ foi 'arrastado' pela PM: 'Foi uma chacina'

Caio Gabriel Vieira da Silva, 20, morto em uma ação da PM no Morro dos Macacos, no Rio - Arquivo pessoal
Caio Gabriel Vieira da Silva, 20, morto em uma ação da PM no Morro dos Macacos, no Rio Imagem: Arquivo pessoal

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio de Janeiro

17/08/2020 15h51

A tia do jovem Caio Gabriel Vieira, de 20 anos, morto no sábado depois de participar de um torneio de futebol no morro dos Macacos, no bairro de Vila Isabel, na zona norte do Rio, disse que o sobrinho foi baleado e arrastado pela PM. Laís Cristina Vieira do Santos acusa a PM de tentativa de chacina no local.

"Era um torneio que estava tendo na comunidade. Foi uma chacina. Ele [Caio] pedia socorro, era covardia o que estavam fazendo com ele, só que os policiais colocaram armas na cara dos moradores que queriam ajudar e não deram chance, ele foi arrastado [pelos PMs]."

De acordo ainda com a tia de Caio, que trabalha como auxiliar de serviços gerais, a polícia chegou atirando no local.

"A polícia chegou atirando, eles pularam um muro, todo mundo correu, chegaram tacando bomba, dando tiro. Tinha família [no local], tinha criança, ele [Caio] correu como todo mundo correu. Só que não deu tempo dele se safar", contou a tia do jovem.

Uma outra tia da vítima, Marli Rezende Cardoso, disse que o rapaz iria fazer uma entrevista de emprego hoje, no bar onde já fazia bicos ao lado dela.

"O meu patrão está desolado porque todo mundo gostava do Caio na Tijuca [bairro onde ficava a lanchonete]. Meu mundo acabou, o Caio era querido, garoto especial, que eu escolhi para levar para o meu trabalho", disse a tia.

Como foi a ação

O tiroteio ocorreu na madrugada de sábado enquanto ocorria um torneio de futebol na quadra do Centro Integrado de Educação Pública, conhecido como Brizolão, perto de um ponto de comércio de drogas. Aline Vieira, mãe da vítima, contou que estava em casa e ouviu toda a ação, mas não imaginou que o filho acabaria ferido nela. A notícia sobre a morte foi dada à família pela manhã.

"Jogaram bomba, [teve] muito tiro. O pessoal queria acudir meu filho e [os policiais] não deixaram. Ameaçaram as pessoas que queriam socorrer, xingaram. Tinha criança no torneio perdida, gritando. Jamais pensei que era meu filho porque essa não é a primeira vez que isso acontece na comunidade, só que dessa vez veio essa fatalidade com a gente."

Após saberem da morte, parentes foram até o local do tiroteio e encontraram a camiseta usada por Caio toda ensanguentada. Testemunhas contaram à família que os policiais teriam retirado a regata antes de levar o jovem, ainda vivo, para o hospital.

Vídeos divulgados na internet mostram o pânico das pessoas tentando fugir.

O que diz a PM

No Rio de Janeiro, as operações policiais estão proibidas em comunidades durante o período de pandemia. Questionada, a PM alegou que houve confronto após a UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) dos Macacos ser alvo de tiros. A corporação diz que houve revide por parte dos policiais que estavam no local.

Segundo informou ontem a PM, dois homens, um deles identificado "Cascão", que seria Caio Gabriel Vieira da Silva, e "Jacaré" foram encontrados no chão e levados para o Hospital Federal do Andaraí. Os dois morreram.

Ainda de acordo com a nota da PM emitida ontem, foram apreendidos com os dois homens um rádio transmissor, dez frascos de lança-perfume, cinco sacolés (pacotes) de maconha, 112 pinos de cocaína, R$ 32 em espécie e uma pistola Glock calibre 9 mm. Em uma página na internet, a UPP ainda publicou que as duas vítimas seriam gerente e segurança do tráfico local.

No entanto, em nova nota enviada hoje, a PM disse que "respeita a dor e a versão dos familiares". Neste novo comunicado, a corporação não afirma que o material apreendido estava com os dois homens baleados, citando apenas que "também houve apreensão de uma pistola calibre 9 mm, um rádio comunicador, drogas e dinheiro em espécie".

A corporação destaca, ainda, que neste momento "qualquer ilação é prematura", mas reafirmou que houve uma reação a um ataque criminoso no local e que ao cessar-fogo, dois indivíduos feridos foram localizados e socorridos.

"Todas as circunstâncias que envolveram o episódio serão apuradas pela Delegacia de Homicídios, onde a ocorrência foi registrada, e pela Coordenadoria de Polícia Pacificadora", afirmou a corporação em nota.