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Suspeita de matar amiga com tiro acidental não participa de reconstituição

Mãe folheia álbum de fotos da vítima Isabele, morta aos 14 anos com um tiro na cabeça - Reprodução/TV Globo
Mãe folheia álbum de fotos da vítima Isabele, morta aos 14 anos com um tiro na cabeça Imagem: Reprodução/TV Globo

Bruna Barbosa Pereira

Colaboração para o UOL, em Cuiabá

19/08/2020 03h23Atualizada em 03/09/2020 11h02

A adolescente suspeita de matar a amiga, Isabele Guimarães Ramos, de 14 anos, com um disparo acidental de arma de fogo na casa da família, em um condomínio de Cuiabá, não participou da reconstituição do crime na noite de ontem (18) por ainda estar emocionalmente abalada. Conforme atestado psiquiátrico e psicológico, a menor relatou sintomas de estresse, ansiedade e passa por tratamento com medicamentos desde o dia do crime.

Os pais da menor e o namorado dela, que teria deixado duas armas na casa do local do crime por medo de ser parado em uma blitz, participaram da reconstituição do crime na casa.

Segundo a Polícia Civil, a reconstituição durou sete horas, sendo finalizada à 1h40. Foram reproduzidos todos os movimentos efetuados pelos envolvidos, para apontar a compatibilidade das versões apresentadas na investigação. A simulação foi realizada com três disparos.

Após a reconstituição, os delegados que presidem o inquérito devem analisar se serão necessários novos depoimentos. O delegado Wagner Bassi, da Delegacia Especializada do Adolescente (DEA), estimou que a conclusão do inquérito deve ocorrer dez dias após a elaboração do laudo pericial da reconstituição. No entanto, o prazo pode variar conforme com a complexidade do ato.

No documento assinado ontem por profissionais contratadas pelos pais da adolescente investigada, a menor foi diagnosticada com reação aguda ao estresse por apresentar os sintomas há menos de 30 dias, podendo a situação evoluir para transtorno de estresse pós-traumático, transtorno de ansiedade generalizada ou transtorno depressivo.

Sensação de sufocamento, lembranças angustiantes, crises de choro e dificuldade para dormir foram relatadas por ela aos profissionais. Conforme o atestado da psiquiatra Ana Cristina Gonsalves, o "desenvolvimento afetivo-emocional e social" da adolescente pode ser afetado caso ela participasse da reconstituição do crime. Ela deve permanecer em tratamento, ainda sem previsão de alta.

"Em função de sua vulnerabilidade, no momento, recomendamos que não retorne à sua residência e não seja submetida a situação de simulação ou reconstituição dos fatos ocorridos na data do evento, o que poderia ser um gatilho de piora e reagudização de seu quadro clínico", diz trecho do documento.

Já no atestado psicológico, assinado por Hélia Lima Parente, consta que a menor e os pais foram submetidos a cinco sessões de atendimento entre 3 e 14 de agosto. A mãe dela contou que, duas semanas após o crime, a filha apresentava "estado emocional exacerbado", com vômitos, falta de ar, crises de choro e introversão.

Em sua conclusão, a psicóloga também orientou que a menor não participasse da reconstituição por risco de apresentar "crises de ansiedade, pânico, bloqueio, crises de choro e tremores" caso tivesse que retornar à casa da família. De acordo com os documentos, a menor ainda não voltou ao local.

Tiro de curta distância

A morte foi registrada na noite de 12 de julho, na casa da família da menor investigada. Quando a Polícia Civil chegou no local, Isabele já estava morta. Em depoimento, a suspeita do disparo acidental afirmou que segurava um case com duas armas, quando um deles acabou se desequilibrando e disparando contra a vítima ao tentar bater na porta do banheiro de um dos closets da residência para chamar a amiga.

Na versão da adolescente, ela ressalta que não estava brincando com a arma e que foi atrás da amiga após se oferecer para guardar as armas. Ela afirmou que subiu as escadas para saber onde Isabele estava indo. De acordo com laudo pericial do local do crime e de balística, o tiro que matou a vítima foi disparado a curta distância, entre 20 cm a 30 cm.

A filha do empresário estaria de frente para a amiga sustentando a arma a 1,44m de altura do piso "com alinhamento horizontal". A Politec (Perícia Oficial e Identificação Técnica) ainda constatou que o disparo foi realizado com "acionamento regular do gatilho, com o atirador (menor) na porção esquerda do banheiro".

Uma das questões que constam no laudo é sobre a possibilidade de produção de "tiro acidental" pela arma que matou Isabele, no entanto, a resposta da perícia foi negativa. Em nota, o advogado da menor investigada, Ulisses Rabaneda, informou que os documentos estão em análise e "imprecisões" podem ser antecipadas. Ele também afirmou que não há indícios de conduta intencional da menor.