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Polícia prende chefe do tráfico ligado ao CV suspeito de comandar invasão

27.ago.2020 - Alex Marques de Melo, conhecido como Leo Serrote - Polícia Civil/Divulgação
27.ago.2020 - Alex Marques de Melo, conhecido como Leo Serrote Imagem: Polícia Civil/Divulgação

Herculano Barreto Filho, Igor Mello e Gabriel Sabóia

Do UOL, no Rio

27/08/2020 18h52Atualizada em 27/08/2020 20h47

A polícia do Rio prendeu na tarde de hoje Alex Marques de Melo, conhecido como Léo Serrote. Segundo a polícia, ele é o chefe do tráfico ligado ao Comando Vermelho responsável pela tentativa de invasão no Complexo do São Carlos, na região central da capital fluminense.

A ação, que desencadeou um conflito entre duas facções rivais, começou ontem à noite (26), deixando ao menos três pessoas mortas e seis baleadas. Dezesseis suspeitos foram presos e um policial militar se feriu, segundo a PM-RJ (Polícia Militar do Rio). Léo Serrote foi detido ao se render, juntamente com outros três criminosos, após fazer uma mulher refém no bairro do Rio Comprido, região onde se localiza o conjunto de favelas.

Em meio ao fogo cruzado, Ana Cristina da Silva, 25, morreu ao ser baleada enquanto usava o corpo para proteger o filho de 3 anos. Dois suspeitos morreram em troca de tiros com policiais militares, segundo a corporação. Durante a fuga, criminosos invadiram dois imóveis e fizeram reféns —eles foram liberados após negociação e sem ferimentos.

Segundo investigações da Dcod (Delegacia de Combate às Drogas), Léo Serrote passou a elaborar um plano de retomada do território justamente por conhecer o Complexo do São Carlos. "Como conhece a área, ele tomou a frente dessa tentativa de invasão", disse o delegado Gustavo Castro.

Com o auxílio de criminosos do Comando Vermelho de outras regiões do Rio e até da Baixada Fluminense, a tentativa de invasão foi feita por uma área de mata, na divisa entre os morros do Fallet e da Mineira, já no Complexo do São Carlos.

Dois dos supostos traficantes envolvidos no conflito estão internados no Hospital Souza Aguiar, sob custódia da PM-RJ (Polícia Militar do Rio). Atingido de raspão, um outro criminoso, que participou hoje à tarde da invasão a um imóvel durante a fuga, está preso. Outras três pessoas foram atingidas em meio aos confrontos.

Entre elas, Sebastião Braga, 53, porteiro de um prédio onde duas mulheres e uma criança foram feitas reféns na madrugada de hoje. A vítima, que foi baleada pelos criminosos, também está no Souza Aguiar, onde deve ser submetida a uma cirurgia.

Ele trabalha nesse prédio há mais de dez anos. Dizia que o local sempre foi tranquilo. Nunca imaginei que ele poderia passar por uma situação dessas

Hudson da Silva, filho do porteiro

O criminoso fez uma família refém. No começo da manhã, ele se entregou à polícia. As vítimas, uma mulher e uma criança de 5 anos, foram libertadas.

Hoje à tarde, quatro criminosos em fuga invadiram um imóvel e fizeram uma mulher refém por três horas para negociar a própria rendição. Eles foram detidos e conduzidos à 6ª DP (Cidade Nova), no centro do Rio.

Em um vídeo feito pelos próprios criminosos, um deles aparece no chão, atrás da vítima, apontando uma arma para as costas dela. "Nós [sic] só quer se entregar, mano", repetia um deles. "Eles vão se entregar. Eu tô passando mal! Chama a ambulância", dizia a mulher feita refém. Ao fundo, era possível ouvir a voz de um dos policiais que negociavam a rendição dos criminosos. "Não machuca ela", disse.

Moradores relataram um cenário de pânico hoje à tarde. "Voltou a ter muito tiro aqui de arma de grosso calibre, explosão de granada... Nunca vi nada assim por aqui. Estou trancado dentro de casa", relatou um morador.

Equipes de reportagem ficaram no meio do fogo cruzado. Viaturas da Polícia Militar do Rio e um blindado, o chamado Caveirão, foram ao local. Helicópteros da polícia sobrevoaram a área.

PM apreendeu nove fuzis e prendeu 16 suspeitos

Em nota, a PM-RJ informou ter feito a prisão de 16 suspeitos. Outros dois criminosos morreram após confronto com policiais, informou a corporação. Na ação, a PM-RJ ainda apreendeu nove fuzis, 10 pistolas, 42 granadas, farta quantidade de munição e entorpecentes. O policiamento ostensivo foi reforçado nos bairros do Catumbi, Estácio e Rio Comprido.

Na região das comunidades Mineira e São Carlos, disparos foram feitos e houve lançamento de artefatos explosivos contra policiais do Batalhão de Polícia de Choque (BPChq), que revidaram. Em um dos confrontos, um suspeito se feriu e foi encaminhado ao Hospital Municipal Souza Aguiar, segundo a PM-RJ, mas não resistiu aos ferimentos. Um outro criminoso foi encontrado morto em um veículo, após outro confronto com os agentes, que ainda deixou dois suspeitos feridos.

Um policial militar se feriu e foi encaminhado ao Hospital Central da Polícia Militar, onde está internado em estado estável, de acordo com a corporação.

Confrontos foram por território

Confrontos entre facções rivais no Complexo do São Carlos, no bairro do Rio Comprido, na região central do Rio, que começaram ontem à noite, voltaram a acontecer hoje à tarde. O conflito é decorrente de uma tentativa de invasão de traficantes rivais para tomada do conjunto de favelas.

Na Lagoa Rodrigo de Freitas (zona sul), a polícia prendeu ontem dois homens com fuzil e granadas que também teriam relação com a invasão do São Carlos.

Polícia Civil detectou plano de invasão há 2 semanas

A Secretaria de Estado de Polícia Civil informou que há cerca de duas semanas o setor de inteligência da 6ª DP (Cidade Nova) detectou movimentação de traficantes de uma facção que pretendiam tomar o território de comunidades que fazem parte do Complexo do São Carlos.

Segundo a polícia, na ocasião, não foi possível definir a data e o horário da invasão, que teve início na tarde de ontem. A informação foi então repassada à Inteligência da Polícia Militar.

Mãe morre ao proteger filho durante tiroteio

O filho de Ana Cristina da Silva, 25, que morreu ao ser atingida por tiros de fuzil na noite de ontem em meio ao fogo cruzado de traficantes de facções rivais no bairro do Rio Comprido, zona norte do Rio, ainda não sabe que a mãe morreu. A vítima se atirou sobre o filho de 3 anos para protegê-lo dos disparos enquanto tentava embarcar em um veículo de vizinhos para sair do local do conflito.

Ana Cristina da Silva morreu ao tentar proteger o filho em meio a um tiroteio no acesso ao São Carlos - Reprodução/TV Globo - Reprodução/TV Globo
Ana Cristina da Silva morreu ao tentar proteger o filho em meio a um tiroteio no acesso ao São Carlos
Imagem: Reprodução/TV Globo

"Ele fica perguntando: 'Quando a minha mãe vai voltar?'. Ele acha que ela tá no hospital. Só sabe que a mãe se machucou porque ficou coberto pelo sangue dela. Ele presenciou tudo. A mãe morreu pra salvar o filho. A gente não sabe como vai lidar com isso ainda", relatou a estudante Vânia Brito, 25, cunhada da vítima.

Ela estava indo trabalhar e iria deixar o filho com uma babá quando começou o tiroteio. Aí, uma moça em um carro disse para ela entrar. Foi coisa de bandido com bandido

Vânia Brito, cunhada de Ana Cristina da Silva

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