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Polícia Civil alertou PM sobre risco de guerra de facções em favela do Rio

Igor Mello

Do UOL, no Rio

27/08/2020 15h34

A Polícia Civil afirmou nesta quinta-feira (27) que alertou a PM há duas semanas sobre o planejamento de uma invasão de uma facção rival ao Morro do São Carlos, no Estácio, região central do Rio. A comunidade convive com trocas de tiros desde a noite de quarta (26).

Na noite de ontem, traficantes rivais invadiram as comunidades do Estácio —além do Morro do São Carlos, um dos mais antigos do Rio, os confrontos também ocorreram nas comunidades vizinhas: os morros da Querosene, Mineira e Zinco. Durante o confronto, uma mulher morreu baleada no Rio Comprido, zona norte da cidade, ao ser pega no meio de um tiroteio. Ela tentava proteger o filho de 3 anos quando foi baleada.

Em nota, a Polícia Civil disse ter detectado o planejamento da invasão e informado a Polícia Militar através dos canais de inteligência da segurança pública do Rio.

"A Secretaria de Estado de Polícia Civil informa que há cerca de duas semanas o setor de inteligência da 6ª DP (Cidade Nova) detectou uma movimentação de traficantes de uma facção criminosa que pretendiam tomar o território de comunidades que fazem parte do Complexo do São Carlos e têm influência de outra facção. Porém não havia informação de data e horário definidos", diz o comunicado.

Ainda segundo a Polícia Civil, "os dados foram difundidos para a Subsecretaria de Inteligência da Polícia Civil, que repassou as informações para a Inteligência da Polícia Militar. Apesar da continuidade do monitoramento, não foram captadas mais informações de que o fato seria nesta quarta-feira. Cabe ressaltar que todas as vezes em que há notícias desse tipo de movimentação, mesmo sem uma definição se o fato ocorrerá efetivamente, as Polícias Civil e Militar planejam ações de ocupação e de capturas de criminosos. O planejamento visa enfraquecer a eventual articulação e movimentação de traficantes nesse sentido".

Polícia Civil diz que decisão do STF causa "insegurança jurídica"

Após as autoridades não terem conseguido impedir a guerra entre as facções, a Polícia Civil afirmou que a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de restringir as operações policiais em comunidades durante a pandemia do novo coronavírus vem gerando "insegurança jurídica" para a corporação.

Em junho, o ministro Edson Fachin limitou a realização de operações a situações "absolutamente excepcionais", e determinou que nesses casos as forças policiais entreguem imediatamente um relatório ao Ministério Público do Rio informando a razão da operação e seus resultados.

"A Sepol esclarece que respeita e vem cumprindo todas as decisões judiciais. Com a decisão do STF, que determina a realização de operações em hipóteses "absolutamente excepcionais", sem elencar quais seriam essas hipóteses, gerando enorme insegurança jurídica no planejamento, atuação e rotina das polícias, ações preventivas para conter eventuais disputas territoriais ficam fora desse conceito de excepcionalidade por não terem data prevista. Dessa forma a decisão obriga que as polícias hajam apenas de forma reativa, pois se enquadra na hipótese de "casos extraordinários" mencionados na decisão do STF", diz.

Contudo, a decisão do STF não impede a interferência das forças policiais em situações como confrontos entre facções. No fim de julho, a PM fez operações em comunidades da Praça Seca, na zona oeste da capital, após traficantes do Comando Vermelho retomarem o controle da região, que até então era dominada por milicianos.