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Com pau, concreto e facão: "Minha filha foi desfigurada por 3 homens"

Garota então com 17 anos hospitalizada após ser agredida por três homens Imagem: Arquivo Pessoal

Wanderley Preite Sobrinho

Do UOL, em São Paulo

31/08/2020 04h00

Resumo da notícia

  • Garota então com 17 anos foi espancada por três homens quando saía de uma festa
  • Lésbica, ela ouviu ofensas antes de agredida com madeira, facão e barra de concreto
  • Ela perdeu parte da audição, quebrou o maxilar e está com problemas neurológicos
  • Desempregada, a mãe conta com ajuda para pagar as contas e 5 remédios da filha
  • A polícia segue investigando o caso após a identificação dos 3 suspeitos

Quatorze dentes arrancados, o maxilar quebrado, um corte profundo na nuca e o traumatismo craniano foram as marcas externas do espancamento sofrido por Thaylanne Costa Santos em outubro do ano passado, quando tinha 17 anos. Mas os golpes que recebeu deixaram sequelas ainda mais profundas: vítima de homofobia, ela aguarda justiça enquanto toma cinco remédios para tratar os problemas neurológicos, as convulsões e uma depressão que não a tira de cama.

Thaylanne voltava para casa de bicicleta depois de uma festa na cidade de Formosa (a 281 km de Goiânia) quando foi cercada por três homens armados com um facão, uma barra de concreto e um pedaço de pau.

"Primeiro começaram a chamá-la de sapatão dos infernos, sapatão tem tudo que morrer", contou ao UOL a mãe da garota, a dona de casa Luciana Costa Santos, 39. "Aí eles agrediram com pauladas, facão e uma barra de concreto, tudo na cabeça."

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Depois de espancada, Thaylanne foi deixada desacordada sobre uma poça de lama. Como era fim de noite em uma rua sem movimento, ela só foi encontrada horas depois. Seu estado era tão grave que precisou ser resgatada por um helicóptero do Corpo de Bombeiros, que a levou para um hospital da cidade antes de ser transferida para Goiânia.

Além de cuidar dos ferimentos, os médicos precisaram aspirar o pulmão da garota, que acabou ingerindo muito sangue e água suja. O pau e a barra de concreto estavam perto da cabeça dela, sujos de sangue. "O médico disse que o corte acima da nuca foi de um facão, que só não a matou porque devia estar cego", diz Luciana.

Ela ficou banhada de sangue. O corte na nuca dava pra ver o osso. O rosto dela inflamou tanto que reabriram a ferida e encontraram farpas da madeira e britas de concreto
Luciana Costa Santos, mãe de Thaylanne

Mãe da Thaylanne, Luciana precisa de ajuda para pagar os remédios e as contas de casa Imagem: Arquivo Pessoal
As sequelas

Agressor usou um facão para golpear a nuca de Thaylanne Imagem: Arquivo Pessoal

Thaylane, que permaneceu internada por dois meses, teve traumatismo craniano e hemorragia cerebral. Ela perdeu parte da audição do ouvido esquerdo, precisou reconstruir o maxilar com platina e ainda aguarda pelos implantes dos 14 dentes que perdeu, além da restauração dos que afundaram ou quebraram.

Mas o que mais angústia dona Luciana são as sequelas neurológicas.

"Ela ficou com transtorno psiquiátrico. Ela fala com dificuldade e às vezes não diz coisa com coisa. Ela se esquece das nossas conversas e a coordenação motora ficou lenta", conta a mãe, que embarga a voz e chora quando fala sobre o quadro de depressão da filha.

Ela não sai do quarto, fica lá dentro com tudo fechado, luz apagada, embrulhada na coberta. Ela chora muito e nunca mais sorriu...
Luciana Costa Santos, mãe de Thaylanne

"Se assumiu aos 14 anos"

Thaylanne antes do crime Imagem: Arquivo Pessoal

Thaylanne, que completou 18 anos no dia 10 de agosto, "sempre foi alegre e corajosa", diz a mãe, que se recorda de quando a filha revelou para a família que era lésbica.

"Foi aos 14 anos, com o apoio de toda a família", diz Luciana, que só ouviu relato de preconceito uma vez, na escola. "A diretora queria obrigá-la a usar o banheiro masculino. Mas ela bateu o pé e disse que não faria isso."

Mas as vidas de Thaylanne e da mãe mudaram desde o dia do crime. Dona Luciana, que cuidava de idosos, está desempregada porque precisa cuidar da filha. O aluguel está atrasado há quatro meses e o alimento é doado por amigos, parentes e igreja. Outra dificuldade é bancar os cinco remédios controlados que a garota precisa tomar.

O SUS [Sistema Único de Saúde] fornece dois, mas três eu preciso comprar. São R$ 400 por mês: um para dormir, outro para evitar convulsão e um à base de morfina para as dores nos dentes e na cabeça
Luciana Costa Santos, mãe de Thaylanne

Para quem quiser ajudar a família, é possível contribuir com uma vaquinha virtual.

Suspeitos estão soltos

Embora o crime tenha acontecido há quase um ano, nenhum dos suspeitos identificados pela vítima está preso. Um deles chegou a ser apreendido dois dias depois, mas foi solto à tarde porque ele não foi pego em flagrante nem havia provas, diz Luciana.

"A polícia não faz nada, já faz um ano e não vejo ninguém preso. Se fosse filho de rico já estaria na cadeia", diz a mãe, que discorda da decisão do delegado de registrar o caso como lesão corporal, e não tentativa de homicídio.

O médico falou que não dá para saber quando minha filha vai se recuperar. Agradeço pela vida dela, mas aos agressores espero que paguem e que Deus tenha piedade porque o ser humano é o pior animal que existe
Luciana Costa Santos, mãe de Thaylanne

Para pressionar a polícia, o Movimento Lute Como Ele lançou um abaixo assinado, que conta com mais de 10 mil assinaturas.

O UOL questionou a Secretaria de Segurança Pública de Goiás e a Polícia Civil do estado sobre o inquérito policial, e recebeu a seguinte nota:

"A Polícia Civil de Goiás informa que instaurou inquérito policial na 2ª Delegacia Distrital de Polícia de Formosa para apurar os fatos. Apesar de ter sido registrado, no dia, o boletim de ocorrência como lesão corporal, o inquérito foi aberto para apurar tentativa de homicídio perpetrado em desfavor da vítima."

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Errata: este conteúdo foi atualizado
Ao contrário do que a reportagem informava, a distância entre Formosa e Goiânia é de 281 km, e não 75 km. A informação já foi corrigida.

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