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Professora perdeu mãe, pai e irmã para a covid: 'Vi minha família acabar'

Antônio Pires da Silva, Ana Angélica e Antônia: família tem três das quatro mortes por covid-19 da cidade de São Francisco, SP - Arquivo Pessoal
Antônio Pires da Silva, Ana Angélica e Antônia: família tem três das quatro mortes por covid-19 da cidade de São Francisco, SP Imagem: Arquivo Pessoal

Simone Machado

Colaboração para o UOL, de São José do Rio Preto (SP)

01/09/2020 18h31

"Em três dias minha vida mudou drasticamente, perdi tudo o que eu tinha de mais precioso. Foi um choque muito grande". O desabafo é da professora Luciani Cristina da Silva, 45, que em 72 horas perdeu a mãe, o pai e a irmã mais velha, todos vítimas da covid-19.

A família mora em São Francisco, cidade no interior paulista com apenas 3,7 mil habitantes. O município contabiliza quatro mortes pela covid-19, incluindo as três da mesma família, e 54 casos da doença.

Luciani relata que a irmã Antônia Angélica Faez, 58, foi a primeira a contrair o novo coronavírus na família. A mulher, que era funcionária pública, pode ter se infectado no trabalho. Os primeiros sintomas, como coriza e dor de cabeça, começaram no dia 20 de julho.

"Mesmo com a pandemia ela continuou trabalhando normalmente. Apesar de não ter contato com muita gente, acreditamos que ela quem acabou se infectando e transmitindo a doença para o restante da família", explica a professora.

Na semana seguinte Antônia teve o quadro de saúde agravado e precisou ser internada. Com falta de ar e febre alta, ela foi encaminhada para a Santa Casa de Jales, onde permaneceu na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), entubada, por 30 dias.

Uma semana depois da internação de Antônia, a mãe dela, Ana Angélica Ramos, 78, e o pai, Antônio Pires da Silva, 81, também tiveram os primeiros sintomas da doença. Eles procuraram a unidade de saúde da cidade e começaram o tratamento em casa. O casal morava em um sítio e por causa do isolamento social mantinha contato apenas com as duas filhas.

O estado de saúde dos idosos também se agravou e eles precisaram ser internados. Antônio foi encaminhado para a Santa Casa de Jales, mesmo hospital onde a filha estava internada, e Ana Angélica foi levada para o Hospital de Base, em São José do Rio Preto.

"Foi tudo muito rápido. Os primeiros sintomas eram leves, mas com o passar dos dias piorou e todos precisaram ficar na UTI. Eu também fui infectada, mas fui a única que não precisei ir para o hospital", conta Luciani. A professora relata que teve sintomas como febre, dor no corpo e perda do olfato e paladar.

De acordo com Luciani, a mãe teve complicações cardíacas e precisou passar por duas cirurgias para desobstrução de uma veia em virtude das complicações da covid-19. Ana Angélica não resistiu e morreu na noite do dia 18 de agosto.

Menos de 24 horas depois a filha mais velha da matriarca também não resistiu e morreu. No dia seguinte, Antônio foi a óbito.

"Quando minha mãe morreu foi um choque muito grande, mas ainda tínhamos meu pai e minha irmã lutando com a doença. Quando eles também não resistiram foi a maior dor da minha vida. Eu tinha uma família linda e de repente as três pessoas que eu mais amava não estavam mais comigo", diz Luciani.

Ainda segundo a professora, o pai, a mãe e a irmã não tinham comorbidades. "Essa é uma doença muito triste porque ela te afasta das pessoas que você ama. Quando eles estavam doentes eu não podia visitar, conversar e nem ver como eles estavam. E quando eles partiram não pude nem me despedir", acrescenta Luciani.