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Advogada de Elias Maluco cobra respostas e não crê em depressão

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

23/09/2020 14h46Atualizada em 23/09/2020 16h54

A advogada do traficante Elias Pereira da Silva, conhecido como Elias Maluco, cobrou respostas do poder público pela morte dele no presídio federal de Catanduvas, no Paraná. O corpo de Elias foi encontrado ontem na cela da unidade de segurança máxima.

A informação sobre a morte foi confirmada pelo Departamento Penitenciário Nacional às 18h. Duas horas antes, a advogada Lucéia Macedo, que atendia Elias Maluco havia três anos, diz que esteve no presídio ao lado de outro advogado, mas foi informada que o cliente não queria recebê-la.

"Quando cheguei em Catanduvas me passaram que ele não queria ser atendido. Achei estranho, pois o Elias nunca havia recusado atendimento", explica Lucéia, em entrevista ao UOL.

Ela afirma que só teve ciência da morte de Elias Maluco horas depois, através da imprensa, quando retornava para Cascavel (PR). No momento da visita, a advogada alega não ter recebido qualquer comunicação. "Precisamos saber em que momento isso [a morte] ocorreu. Ele foi encontrado morto quando foi chamado para o atendimento? Já estava e não informaram? Ou aconteceu depois? Precisamos ainda destas respostas", cobra.

A defensora do traficante explica que não notou qualquer diferença no comportamento do cliente. "Ele gostava das conversas, dava conselhos, estava sempre sorrindo, era alto astral e demonstrava confiança. Agora, precisamos esperar a perícia", diz.

Uma das linhas investigadas é de suicídio, mas Lucéia alega que ele, aparentemente, não tinha indícios de depressão ou outros problemas psicológicos. "É difícil responder isso, por causa da covid-19 os atendimentos aconteciam em salas diferentes, ele em uma e nós em outra, e nos víamos pela TV. Dessa forma, não consegui perceber nada de errado com ele", relata.

Os atendimentos duravam 30 minutos e aconteciam a cada 15 dias. Uma perícia será realizada no local onde o traficante foi encontrado morto para apurar a causa da morte.

Filha publica cartas

A filha do traficante, Julia Fernandes, compartilhou no Twitter, trechos de cartas que recebeu do pai nas semanas que antecederam sua morte. Julia negou que a causa da morte tenha sido suicídio.

"Essa carta minha mãe recebeu essa semana. Isso é carta de alguém que tava pensando em suicídio? TODA carta dele, ele dizia que não via a hora de estar com a gente aqui fora, cheio de esperança, sempre e sempre!", escreveu a filha de Elias Maluco.

A defesa do traficante disse que vai pedir acesso às cartas de despedida encontradas na cela. Segundo a PF, as cartas eram endereçadas aos familiares. Nelas, ele dizia que não tinha mais vontade de viver e pedia perdão à família. Elias Maluco teria escrito ainda que não se tratava de um ato de covardia e, sim, de coragem e que estava preparado para isso.

A polícia apura a veracidade da autoria das cartas.

Caso Tim Lopes

Elias Maluco ficou conhecido em 2002, quando participou do sequestro, tortura e execução do jornalista Tim Lopes, da TV Globo. Na ocasião, o jornalista apurava informações sobre abusos sexuais de menores de idade e tráfico de drogas nos bailes funk da Vila Cruzeiro, na Penha, na zona norte do Rio. Três meses depois, uma operação da Polícia Civil de mais de 50 horas prendeu o traficante. Ele foi encontrado na casa de idosos e não houve troca de tiros.

Em 2005, Elias Maluco foi condenado a 28 anos e seis meses de prisão, acusado de ter sido o mandante do crime. Em 2013, ele foi condenado em outra ação penal por lavagem de dinheiro.

Elias Maluco é o segundo preso do Rio de Janeiro encontrado morto em unidades federais em menos de seis meses. Em abril deste ano, Paulo Rogério de Souza Paz, conhecido como Mica, foi encontrado morto também em cela federal da penitenciária de Mossoró, no Rio Grande do Norte, onde cumpria pena. A suspeita é de suicídio. O traficante estava preso desde 2012 e aguardava transferência para o Rio de Janeiro.