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RR: Idoso morre quatro dias após ter alta do coronavírus e se casar

João Ferreira Viana e Teonila Alves se casaram quatro dias antes da morte dele - Divulgação/Operação Acolhida
João Ferreira Viana e Teonila Alves se casaram quatro dias antes da morte dele Imagem: Divulgação/Operação Acolhida

Felipe Munhoz

Colaboração para o UOL, em Lençóis (BA)

23/09/2020 13h28Atualizada em 26/09/2020 12h56

João Ferreira Viana, de 76 anos, morreu ontem em Boa Vista (Roraima), quatro dias após ter alta do tratamento para o novo coronavírus e de se casar com a companheira com quem vivia há 50 anos e teve quatro filhos. Religiosa, a filha do casal disse ao UOL que teve a ideia do casamento e, consequentemente, das bodas de ouro, para ter a "salvação" do pai e de sua família.

João foi internado no dia 2 de agosto, véspera de seu aniversário, e se recuperou da covid-19, mas a enfermidade complicou o quadro de outra doença. "Ele estava já em estado paliativo e não era questão da covid. Ele já tinha ficado ótimo da covid. Só que a covid descompensa outras patologias. A dele era cirrose hepática, e corria o risco de ter hemorragia gastrointestinal, que foi a causa da morte dele", contou a filha Joice Alves, 37.

Como havia o risco de morte, a família de João se reuniu com os médicos e juntos discutiram os últimos desejos do idoso. "Me perguntaram se ele tinha falado alguma coisa, se tinha algum desejo. E a vontade dele era de ir para casa, ficar com a família e comer peixe", lembrou a filha.

João Ferreira Viana e Teonila Alves se casaram quatro dias antes da morte dele - Divulgação/Operação Acolhida - Divulgação/Operação Acolhida
João Ferreira Viana e Teonila Alves se casaram quatro dias antes da morte dele
Imagem: Divulgação/Operação Acolhida

Casamento

"Não sei dizer se era um sonho deles [se casar] porque a gente nunca teve este tipo de conversa em casa. Mas eu, por ser religiosa, cristã, evangélica, mesmo sabendo da situação do meu pai, queria a salvação dele, da minha mãe e da minha família. Então, foi por um ato religioso que eu idealizei isso", afirma Joice.

Os pais concordaram em realizar a cerimônia do casamento e, na sexta-feira (18), mesmo dia em que recebeu alta, João se casou com Teonila Alves, 76, na área externa do Hospital de Campanha de Roraima, administrado pela Operação Acolhida do Ministério da Defesa.

"Recebemos todo o apoio dos médicos e da equipe, que foram atrás de tudo, de capelão, de bolo, do pessoal que canta, do buquê da noiva, das alianças, da tenda. A gente só chegou para fazer o casamento", diz a filha do casal.

No domingo, dois dias após receber alta no Hospital de Campanha, João passou mal e, na segunda-feira à noite, foi internado novamente. Ontem, na hora do almoço, ele faleceu e, para a esposa, ficou também um sentimento de era a hora de ele descansar.

"Ela [Teonila] está aliviada no sentido de que ele não está mais sofrendo com dor. O pior momento foi vê-lo gritar de dor e não poder fazer nada, só esperar o descanso eterno. Nos sentimos impotentes nessa hora, muita dor", finaliza Joice.

Gastos do casamento

A assessoria de imprensa da Operação Acolhida disse ao UOL que não houve gastos extras para organizar o casamento. "O casal já tinha as alianças, pois eles estão juntos há 50 anos. E o restante [capelão, bolo, músicos, buquê de noiva e tenda] o Exército já possui e disponibilizou para a cerimônia", disse.

Questionada sobre as alianças, Joice se corrigiu e disse que este item não foi dado pela equipe da Operação Acolhida. Ela afirmou que comprou as joias para os pais para a celebração da cerimônia.