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Menino raspa cabeça de médico após cirurgia para retirar tumor; vídeo

Juliana Almirante

Colaboração para o UOL, em Salvador

18/10/2020 20h19

O menino Pedro Cardozo dos Santos, de 8 anos, raspou a cabeça do neurocirurgião Caio Nuto França, depois de passar por uma cirurgia para retirada de um tumor no cérebro, no Hospital do Mandaqui, zona norte de São Paulo. As imagens dos dois juntos emocionaram muita gente nas redes sociais.

Foi o 11º procedimento cirúrgico do menino —dez no ano passado e um em outubro deste ano.

Nas imagens publicadas na internet, o garoto se diverte ao passar a máquina na cabeça do médico. Além de Pedro, outro menino também participou da brincadeira de cortar o cabelo. Ele estava na mesma enfermaria e precisou raspar a cabeça, pois teve um traumatismo craniano.

Desenho de cicatriz

Depois do corte, o médico também deixou que Pedro fizesse um desenho de uma linha em sua cabeça, semelhante à cicatriz que o menino teve após a cirurgia. "Caramba, Pedrão, fez a cicatriz melhor que neurocirurgião. Mostra a tua. Estamos iguais agora", diz França, no vídeo. "Acho que nós dois tá ferrado", respondeu o garoto, sorrindo.

Pedro foi operado no último dia 5, recebeu alta e está em casa.

Além de raspar a cabeça, Pedro também desenhou uma cicatriz na cabeça do médico - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Além de raspar a cabeça, Pedro também desenhou uma cicatriz na cabeça do médico
Imagem: Arquivo pessoal

Ao UOL, o neurocirurgião explicou que o menino foi diagnosticado com um meningioma, um tumor benigno. No entanto, tinha características de um tumor maligno devido ao grau de replicação e mitose, etapa de divisão celular. O médico disse que este tipo de tumor é considerado raro em crianças e a cirurgia é muito delicada.

França contou que sugeriu ao garoto que ele raspasse a sua cabeça como uma forma de acolhimento, após Pedro ter perguntado se ele iria cortar o cabelo. Só que o garoto continuou perguntando sobre o corte.

"Ele brincava todo dia. Aí eu tomei coragem e levei a maquininha na enfermaria. Ele tava sem acreditar e, quando comecei a cortar, ele acreditou", disse.

França destacou que Pedro lida com a doença com bom humor e isso os aproximou.

"Na primeira internação, de 4 meses, aprendi muito. Ele lida de uma forma espontânea. Ele fazia brincadeiras com ele mesmo. Foi por isso que criei esse vínculo com ele. A gente sabia da gravidade e ele lutava com amor, pela inocência. Então a amizade que tenho com ele surgiu assim e tudo isso me motiva muito."

Repercussão nas redes sociais

As imagens publicadas nas redes sociais geraram muitos comentários sobre a atitude do médico e sobre o sorriso do menino.

"Fiquei muito lisonjeado com as mensagens de apoio e carinho. Acho que o mais significativo é poder servir de incentivo para médicos tomarem atitudes empáticas, que geram empatia, e de doar alegria. Acho que quem lida com criança e pacientes graves precisa doar o tempo. O tempo do médico para se doar é tão precioso quanto a técnica", comentou o neurocirurgião.

A mãe do menino, Eliana Cardozo dos Santos, disse ao UOL que "não esperava isso". "Foi uma atitude muito linda, foi uma atenção muito especial. Não só com Pedro. Nós víamos com outros pacientes o carinho e o amor que ele tem. Ele faz isso com dedicação."

Para ela, o filho demonstrou muita força e fé de que ia superar mais essa cirurgia. "Aquilo [tumor] foi para a gente algo muito surpreendente e nunca imaginamos que aconteceria. Ele é uma criança muito ativa. A gente explicou para ele que ia fazer a cirurgia e ele aceitou. Ele sempre falava que ia dar tudo certo. Ele falava: 'Não fica triste, mãe'. Esse incentivo dele foi muito grande pra mim."

A mãe de Pedro também disse que o garoto costumava sentir dores fortes, mas ainda assim se referia à doença com naturalidade e esperança.

"Ele sempre falou da doença de forma espontânea e isso me comoveu. Ele não ficou assustado, nem nada. Ele deu a força para a gente para passar por tudo isso. Ele falava: 'Deus me ajudou nessas dez cirurgias e vou passar por essa também. Isso nos fortaleceu", relata Eliana.

Depois da operação, segundo a mãe, o garoto será acompanhado para saber se precisará passar por novos procedimentos ou receber algum tratamento com uso de remédios.