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'Para consolar o coração': família aguarda respostas sobre náufrago em SC

As irmãs Gracielly Mônica Maoski em foto com o pai, Rogério Maoski Imagem: Arquivo Pessoal

Giorgio Guedin

Colaboração para o UOL, em Blumenau (SC)

10/11/2020 14h59

Era domingo de manhã, dia 1 de novembro. A família de Mônica juntou velas e flores para ir ao cemitério homenagear a irmã falecida. Foi então que o celular do pai dela tocou. Era um amigo ligando para Rogério Adolar Maoski; ele o convidava para mais uma pescaria. Mônica seguiu o caminho para o cemitério com a mãe.

Rogério saiu de Curitiba, cidade onde morava, desceu a Serra do Mar rumo ao litoral catarinense para fazer o que mais gostava: pescar. Pelo que se especula, horas depois de se afastar da costa, o barco teria sofrido uma pane e naufragou.

Rogério estava com o irmão Lisandro Carvalho Maoski. Eles morreram no local. O amigo conseguiu sobreviver. Desde então, o barco não foi localizado. Além da dor da perda, as famílias dos dois irmãos ainda precisam enfrentar a burocracia para que se inicie as investigações, para ter alguma ideia do que pode ter acontecido naquele dia.

A família de Rogério alega que a Marinha não pode localizar o barco, pois não há a documentação, que estaria na embarcação que naufragou. Com isso, não poderia dar prosseguimento nas investigações. "Eu não vou ter meu pai de volta. Não tem o que traga meu pai, meu tio. Mas eu quero consolar meu coração com uma resposta. Como que foi. O porquê surgiu, da onde surgiu", desabafou Mônica Maoski, com exclusividade ao UOL.

"Gostaria que eles fossem atrás da embarcação, que tivesse investigação sobre o que aconteceu. Isso confortaria a família, precisamos de uma resposta", endossou Bruna Maoski, filha caçula de Lisandro.

Além de clamar por celeridade dos órgãos, parentes de Lisandro em Balneário Piçarras entraram em contato com pescadores da região para que se achar algum vestígio da embarcação, acionem as autoridades competentes.

Marinha informa que já abriu inquérito

Em resposta enviada à reportagem do UOL, a Delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí, responsável pelo trecho onde ocorreu o acidente, informou que já abriu um inquérito para apurar as causas do naufrágio. A nota diz que a investigação "tem por objetivo apurar as causas e os possíveis responsáveis pelo acidente, de acordo com as Normas da Autoridade Marítima para Inquéritos Administrativos sobre Acidentes e Fatos da Navegação".

Sobre o trabalho de localizar a embarcação, a Marinha afirma que não compete a ela, e sim ao armador ou proprietário da embarcação. E caso os documentos forem encontrados, "a Autoridade Marítima deverá ser informada através de suas Capitanias, Delegacias ou Agências" que vai ser anexada ao inquérito.

Após o caso ser investigado, o inquérito será encaminhado e julgado pelo Tribunal Marítimo.

Policia Civil aguarda relatório da Marinha

Paralelamente, a Polícia Civil de Balneário Piçarras aguarda o inquérito da Marinha para tomar alguma providência. "Toda investigação fica por conta da Marinha. Aí vou analisar o relatório deles e vou verificar se vai ser instaurado alguma coisa ou não", afirmou o delegado Rodrigo Andrade ao UOL.

Bruna é a filha mais nova de Lisandro e tem um irmão mais velho. Ela conta que era muito próxima do pai. "Eu era a filha xodó dele. Ele fazia de tudo para mim. Até montar meu prato de comida", relembra. Ele trabalhava há 25 anos como pintor do Parque Beto Carrero World, localizado na cidade vizinha, Penha, e chegou a ser enterrado vestido com o uniforme do parque. Nas horas vagas, o hobby dele era a pescaria.

Já Rogério era contador, morava em Curitiba, e sempre que tinha uma folga também pescava. "A minha vida daqui em diante será mais triste por não contar com a presença dele, nem com os conselhos", afirmou Mônica.

Os irmãos Rogério Adolar Maoski (esquerda) e Lisandro Carvalho Maoski (centro) posam, ao lado do amigo sobrevivente, na última foto tirada antes do acidente Imagem: Arquivo Pessoal

Relembre o caso

Os irmãos Rogério Adolar Maoski e Lisandro Carvalho Maoski foram encontrados mortos no dia 3 de novembro, terça-feira, próximo à Ilha Feia, em Balneário Piçarras, após a embarcação naufragar. O amigo, que estava com eles, sobreviveu, após nadar cerca de 4km até a faixa de areia para pedir ajuda ainda de madrugada. Ele foi conduzido ao pronto-socorro com hipotermia.

Naquele dia, ele contou aos Bombeiros que a embarcação saiu no domingo de Balneário Camboriú, e, por volta das 16h30, o barco teria sofrido uma pane, vindo a naufragar. Os corpos resgatados por equipes dos Bombeiros e da Marinha no dia seguinte.

A reportagem do UOL não conseguiu contato com o sobrevivente.

Embarcação usada pelos irmãos Maoski que naufragou Imagem: Arquivo Pessoal

Íntegra da nota da Marinha

"A Marinha do Brasil (MB), por meio da Delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí, informa que, de acordo com a Lei 7.203/1984, quando a embarcação, coisa ou bem em perigo representar um risco de dano a terceiros ou ao meio ambiente, o armador ou proprietário, conforme o caso, será o responsável pelas providências necessárias para anular ou minimizar esse risco e, caso o dano se concretize, pelas suas consequências sobre terceiros ou sobre o meio ambiente, sem prejuízo do direito regressivo que lhe possa corresponder.

Não obstante, cabe à Marinha do Brasil adotar as providências para prover adequados serviços de busca e salvamento de vida humana em perigo no mar, nos portos e nas vias navegáveis interiores.

O inquérito de que trata sobre o referido acidente no mar já foi instaurado e tem por objetivo apurar as causas e os possíveis responsáveis pelo acidente, de acordo com as Normas da Autoridade Marítima para Inquéritos Administrativos sobre Acidentes e Fatos da Navegação.

Caso a referida embarcação ou qualquer documento referente ao inquérito instaurado seja encontrado, a fim complementar o processo administrativo, a Autoridade Marítima deverá ser informada através de suas Capitanias, Delegacias ou Agências. O Tribunal Marítimo, conforme preceitua o artigo 1°, da Lei nº 2.180, de 5 de fevereiro de 1954, é um Órgão Autônomo, com jurisdição em todo o território nacional, auxiliar do Poder Judiciário, vinculado ao Comando da Marinha, tem como atribuições as previstas no artigo 13 desta mesma Lei, a saber: I - julgar os acidentes e fatos da navegação: a) definindo-lhes a natureza e determinando-lhes as causas, circunstâncias e extensão; b) indicando os responsáveis e aplicando-lhes as penas estabelecidas nesta lei; e c) propondo medidas preventivas e de segurança da navegação.

Cabe ressaltar que nos processos instaurados perante o Tribunal Marítimo em que houver crime ou contravenção a punir, nem esta nem aquele impedem o julgamento do que for da sua competência, mas finda a sua ação, ou desde logo, sem prejuízo dela, serão remetidas, em traslado, as peças necessárias à ação da Justiça.

A Delegacia da Capitania dos Portos em Itajaí reitera seu compromisso em preservar a segurança da navegação e a salvaguarda da vida humana. Relembra que é um dever de todos que usufruem dos rios e costa marítima a observância das regras de segurança e da prudência na condução das diferentes atividades náuticas."

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