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'Busco forças na luta dela', diz marido de ciclista morta em SP

Felipe Burato defendeu mudança nas políticas de mobilidade em São Paulo após morte da mulher, a ativista Marina Kohler - Reprodução/GShow
Felipe Burato defendeu mudança nas políticas de mobilidade em São Paulo após morte da mulher, a ativista Marina Kohler Imagem: Reprodução/GShow

Colaboração para o UOL, em São Paulo

11/11/2020 12h43Atualizada em 11/11/2020 12h43

Felipe Burato, marido da ciclista Marina Kohler, de 28 anos, falou de suas últimas conversas antes da morte da jovem no último final de semana, depois dela ser atropelada por um carro na Avenida Paulo VI, no Sumaré.

O rapaz contou que tinha conversado com a ativista, que trabalhava na defesa da mobilidade para ciclistas, às 23h15 do dia 7, poucas horas antes dela ser morta, na madrugada de sábado para domingo. Ele lembrou que descobriu sobre o ocorrido ao tentar ligar para a esposa e ser atendido por um policial.

"Ela sofreu esse homicídio em um caminho que ela fez sei lá quantas milhares de vezes. (...) A Marina começou a demorar para chegar em casa e eu comecei a tentar descobrir. Eu não conseguia falar com ela. Até que uma policial atendeu e pediu para eu ir à DP, porque ela tinha sofrido um acidente", detalhou Felipe em entrevista ao "Encontro" da manhã de hoje.

Segundo ele, a ativista, que tinha ido visitar duas amigas e estava voltando para casa, conhecia bem o caminho, que era adaptado para bicicletas com a presença de uma ciclofaixa.

Felipe defendeu que mesmo as faixas exclusivas não protegem os ciclistas, que são vítimas de um sistema que empodera os carros.

"A Marina usava essa via há anos, aquele era o lugar de pedalar. Mas a Marina é vítima de um sistema que coloca o carro como dono da rua. Quando você coloca uma ciclovia péssima ao lado de uma via ótima, o cara que está dentro do carro se sente no direito para bater em uma pessoa que está na bicicleta. Segregar não vai resolver, não vai tornar o trânsito mais gentil, não vai ter melhora", defendeu ele.

O suspeito de matar a jovem se entregou ontem para a polícia. Ele é o empresário José Maria da Costa Júnior, de 33 anos, que fugiu do local do atropelamento sem prestar socorro. O advogado do acusado, indiciado por homicídio culposo, afirmou que ele demorou para se apresentar pois ficou nervoso com a situação.

Em imagens obtidas pelo investigadores da polícia, ele apareceu no elevador do prédio em que mora pouco depois do acidente, conversando de maneira animada com uma mulher.

marina kohler - Reprodução/GShow - Reprodução/GShow
Acusado de ter matado Marina Kohler, José Maria da Costa Júnior foi flagrado em conversa animada logo após fugir do local do atropelamento
Imagem: Reprodução/GShow

Apesar das evidências, o empresário só pode ser preso na próxima terça-feira (17), de acordo com a lei eleitoral, que proíbe prisões que não sejam em flagrante nos cinco dias anteriores ao pleito.

Mesmo com a omissão de socorro a Marina, Felipe afirmou que pretende seguir com os ideias da mulher, que não acreditava que o "punitivismo", com a prisão para os motoristas irresponsáveis, fosse a solução para os problemas de mobilidade. Em vez disso, ele cobrou mudanças na postura governamental sobre o assunto.

"A gente está buscando forças para que a morte dela não seja em vão, para que as coisas mudem. Para a gente, justiça é os governantes começarem a olhar para propostas de políticas públicas, para uma cidade acolhedora e compartilhada. Justiça é que a cidade passe a ser construída também por coletivos, pedestres, ciclistas, pesquisadores", argumentou ele.

"Sensação muito dilacerante de você estar horas antes com a pessoa...Falei com ela 23h15 perguntando se ela ia demorar. É muito dolorido. A gente tem buscado forças na luta dela, no que ela acredita e construiu", completou Felipe.