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Genro de Castor foi morto por ao menos 5 tiros de fuzil AK 47, diz polícia

Carro do contraventor Fernando Iggnácio Miranda atingido pelos tiros, estacionado ao lado da delegacia de homicídios do Rio de Janeiro. O veículo apresenta pelo menos quatro perfurações - Herculano Barreto Filho/UOL
Carro do contraventor Fernando Iggnácio Miranda atingido pelos tiros, estacionado ao lado da delegacia de homicídios do Rio de Janeiro. O veículo apresenta pelo menos quatro perfurações Imagem: Herculano Barreto Filho/UOL

Herculano Barreto Filho

Do UOL, no Rio

11/11/2020 11h48

O contraventor Fernando Iggnácio Miranda, assassinado ontem à tarde (10) no estacionamento de um heliporto no Recreio dos Bandeirantes, zona oeste do Rio, foi atingido por ao menos cinco tiros de fuzil AK 47 disparados a uma distância de apenas 5 m. A informação foi confirmada hoje de manhã pela DHC (Delegacia de Homicídios da Capital), que investiga o crime.

Genro do contraventor Castor de Andrade, morto em 1997, Fernando Iggnácio travava uma sangrenta disputa pelo controle do jogo do bicho e de máquinas de caça-níqueis na zona oeste carioca com Rogério Andrade, sobrinho do bicheiro, marcada por mais de 50 assassinatos em duas décadas, segundo a Polícia Federal.

Policiais da Delegacia de Homicídios da Capital apreenderam projéteis de fuzil calibre 7.62 no heliporto. Em conversa com jornalistas na noite de ontem em frente à sede da DHC, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, um delegado disse que o calibre dos projéteis recolhidos era 5.56. Entretanto, a assessoria de imprensa da Polícia Civil corrigiu, informando nesta quarta (11) que o calibre era 7.62 de uma AK-47.

Fernando Iggnácio tinha retornado de helicóptero de Angra dos Reis (RJ) e caminhava até o seu carro quando foi surpreendido pelos atiradores, que abriram fogo de cima de um muro, no terreno ao lado do heliporto. Segundo fontes ligadas à investigação, ele estava acompanhado por uma mulher, que retornou ao helicóptero em meio aos tiros e retornou para Angra.

O UOL teve acesso a fotos da cena do crime, que mostram a vítima caída ao lado de um Mini Cooper vermelho.

A Polícia Civil agora analisa imagens captadas por 64 câmeras de vigilância do local. Os investigadores querem verificar se é possível identificar os autores do crime nos fundos do heliporto nos últimos 30 dias.

Em uma análise preliminar, foi possível identificar a movimentação de veículos suspeitos no momento do assassinato com base em imagens de câmeras instaladas nos fundos do local.

Na fuga, eles usaram uma escada para escalar um muro de 3 m após percorrerem uma área de mata em um terreno baldio de 15 mil m². A escada também foi apreendida, para verificar se é possível identificar impressões digitais dos suspeitos. Ainda não é possível saber quantos criminosos participaram da emboscada.

Sob a condição de anonimato, uma testemunha ouvida pelo UOL disse ter escutado ao menos dez disparos após a aterrissagem do helicóptero.

"Foi muito tiro. Mas não consegui ver quem atirou, porque há uma área de mata alta pelos fundos. Parece ter sido ação de quem observou a rotina por aqui" ,disse a testemunha que pediu anonimato

Disputa por território do jogo do bicho deixa mais de 50 mortes

A disputa pelo controle da contravenção na zona oeste do Rio é a principal linha de investigação da morte de Iggnácio. Segundo investigações da Polícia Federal, mais de 50 assassinatos até 2007 são atribuídos à guerra da contravenção.

Em 1998, o assassinato de Paulo Andrade, o Paulinho, escolhido como herdeiro do jogo do bicho, fez com que Fernando Iggnácio, seu cunhado, assumisse o lugar dele na disputa.

Meses depois, a polícia identificou como autor dos disparos o ex-PM Jadir Simeone Duarte. Em depoimento, Duarte acusou Rogério de ser o mandante do crime.

O próprio Rogério foi vítima de uma tentativa de assassinato em 2001. Em abril daquele ano, o filho de Rogério de Andrade, com 17 anos na época, morreu em um atentado a bomba na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, quando o carro que dirigia explodiu.

Em 2007, Fernando Iggnácio foi preso pela Polícia Civil do Rio. Meses depois, Rogério Andrade foi pego pela Polícia Federal. Naquele mesmo ano, Rogério Andrade e Fernando Iggnácio foram alvo da operação Gladiador, da PF, que investigou o esquema da dupla e a corrupção de policiais no Rio.