Topo

Esse conteúdo é antigo

Operação prende advogados suspeitos de levar informações a chefes do PCC

Do UOL, em São Paulo

18/11/2020 09h37Atualizada em 18/11/2020 10h03

O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do MP-SP (Ministério Público de São Paulo) deflagrou hoje uma operação contra advogados suspeitos de transmitir informações aos chefes do PCC (Primeiro Comando da Capital), presos em unidades do sistema penitenciário federal.

A ação, batizada de "Fast Track", tem como objetivo desarticular a célula jurídica da organização criminosa. Segundo o MP, oito advogados foram presos.

No total, são cumpridos 13 mandados de prisão e 23 mandados de busca e apreensão, expedidos pelo juiz Ulisses Augusto Pascolati Júnior, da 2ª Vara Especializada em Crimes Tributários, Organização Criminosa e Lavagem de Bens e Valores.

As equipes do MP paulista estiveram em Rondônia. Houve, também, cumprimento de mandados em Brasília (DF), Mossoró (RN) e em municípios paulistas.

Investigação

Em fevereiro do ano passado, o líder máximo do PCC, Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, e outras 21 pessoas acusadas de terem ligação com a facção foram transferidos para presídios federais. A transferência tinha como objetivo central impedir que os chefes da facção continuassem a transmitir ordens de dentro dos presídios.

Segundo o MP, as investigações apontam que, para contornar a situação, B.F.L.F, vulgo Armani, que recebeu da chamada "Sintonia Final" poderes para assumir o comando nacional da célula batizada como "Setor do Universo", contratou advogados com objetivo de permitir que os chefes do PCC presos continuassem a se comunicar com integrantes da facção em liberdade.

"Por meio de atendimentos presenciais, os advogados contratados levavam informações aos líderes e recebiam ordens que deveriam ser transmitidas a outros criminosos", explicou o MP, em nota.

Segundo o órgão, um dos mais relevantes traficantes da Baixada Santista (SP), pego de surpresa com a transferência para o sistema federal, nomeou sucessores com apoio de uma advogada, que atuou como mensageira — a ação deu origem à operação batizada de "Colorido", também deflagrada hoje.

"Os defensores ainda intermediavam o pagamento de propinas para policiais, transmitiam cobranças de dívidas e até ameaças de morte a mando da organização criminosa. Não raro, os próprios advogados se envolviam em disputas que eram solucionadas pelo sistema de disciplina da facção, mediante o exercício de poderes de decisão por Armani, indicando inserção na estrutura hierárquico-piramidal do PCC", acrescentou o Ministério Público.

'Setor CDHU'

O Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) informou ter identificado, ainda, uma célula da facção denominada "Setor CDHU" ou "Setor dos APs".

Segundo o MP, a facção assumiu a posse e propriedade de imóveis vinculados à CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano) e à Cohab (Companhia Metropolitana de Habitação de São Paulo).

"Criminosos que detinham a função de gerir os apartamentos atuavam ativamente na busca por novas unidades e, identificando-se um apartamento vazio, este era imediatamente ocupado, até que o PCC buscasse meios de associá-lo a um terceiro, que funcionaria como laranja", diz a nota.

Em diálogos interceptados, foram captadas diretrizes para que se impedisse a ocupação de apartamentos por "famílias necessitadas", especialmente com crianças. Par a facção, "se família entrar com criança, não sai mais", motivo pelo qual as investidas dos integrantes da célula deveriam ser sempre rápidas.

As investigações foram realizadas com apoio do Depen (Departamento Penitenciário Nacional).