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Professor fez empréstimo em nome de mulher em situação de escravidão em MG

23.dez.2020 - Madalena Gordiano, 46, viveu sob regime análogo à escravidão por 38 anos - TV Globo
23.dez.2020 - Madalena Gordiano, 46, viveu sob regime análogo à escravidão por 38 anos Imagem: TV Globo

Thiago Rabelo

Colaboração para o UOL, em Patos de Minas (MG)

30/12/2020 04h05

Apesar de já estar livre da família Milagres Rigueira, na qual viveu 38 anos em situação análoga à escravidão, Madalena Gordiano ainda não pôde desfrutar integralmente da pensão a que tem direito desde que o marido morreu, em 2003.

Além de controlar toda a renda de Madalena durante quase duas décadas, o professor universitário Dalton César Milagres Rigueira fez dois empréstimos consignados no Banco do Brasil, no nome de Madalena, com uma dívida restante de R$ 18,5 mil a ser paga.

Casada em 2001 com Marino Lopes da Costa — tio de Valdirene Lopes Rigueira, esposa de Dalton—, Madalena recebe duas pensões no total de R$ 8,4 mil bruto desde 2003, quando o marido, ex-combatente da 2ª Guerra, morreu aos 80 anos.

Embora tivesse conhecimento de seu direito, ela nunca administrou o dinheiro e também não recebia salário pelos serviços prestados à família.

Por conta deste empréstimo, Dalton pode ser denunciado por estelionato. Por enquanto, ele e sua mãe, Maria das Graças Milagres Rigueira, respondem por terem mantido Madalena durante 38 anos sob regime análogo à escravidão nas cidades de São Miguel do Anta, Viçosa e Patos de Minas, em Minas Gerais.

A reportagem do UOL entrou em contato com Brian Epstein, advogado da família, que reafirmou ainda não ter tido acesso aos autos do processo e que desconhece a informação sobre os empréstimos consignados feitos por Dalton em nome de Madalena. Disse que também está de férias e que só retornará ao trabalho no dia 18 de janeiro.

Dívida exige pagamento mensal de R$ 633

Resgatada da casa dos Milagres Rigueira no fim de novembro, Madalena está em Uberaba (MG) em um programa de ressocialização e será assessorada juridicamente pela Clínica de Enfrentamento ao Trabalho Escravo da Universidade Federal de Uberlândia (UFU).

Com o auxílio do Ministério Público do Trabalho e auditores fiscais do trabalho, também tem feito um balanço sobre as suas contas e constatou os empréstimos no Banco do Brasil mencionados no início da reportagem, com pagamento mensal de R$ 633,12.

Os advogados de Madalena não descartam a possibilidade de que outros empréstimos tenham sido feitos por Dalton, já que o valor líquido recebido por Madalena nos últimos meses é em torno de R$ 4 mil, menos da metade do valor bruto.