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PM suspeito de matar menina de 5 anos tem prisão preventiva decretada

Ana Clara foi baleada no portão de casa - Arquivo Pessoal
Ana Clara foi baleada no portão de casa Imagem: Arquivo Pessoal

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

04/02/2021 09h38

A Justiça do Rio de Janeiro converteu a prisão em flagrante do cabo Bruno Dias Delaroli em preventiva na tarde de ontem. O militar é suspeito de ser o responsável pelo tiro que matou a menina Ana Clara Machado, de 5 anos, em Niterói, na região metropolitana do Rio. A decisão leva em conta que Delaroli responde por outro caso de homicídio.

A criança foi atingida na terça-feira (2), no portão de casa, na comunidade Monan Pequeno, em Pendotiba. Segundo a mãe, ela tinha acabado de acordar.

A decisão da prisão preventiva é da juíza Monique Brandão dos Santos Moreira e foi justificada pela necessidade de garantir a integridade do andamento das investigações.

Os policiais militares relataram em depoimento à polícia que foram atacados a tiros na região e revidaram. No entanto, a decisão da Justiça destaca que peritos da Delegacia de Homicídios de Niterói, Itaboraí e São Gonçalo recolheram cápsulas de fuzil 7,62 iguais às usadas pela PM e não localizou "quaisquer estojos de munição de pistola, tipo de arma que supostamente teria sido utilizada pelos criminosos do local".

A juíza enfatizou também o depoimento de uma testemunha apontou que após os policiais prestarem socorro à menina, voltaram ao local para recolher as cápsulas do fuzil.

No processo, a defesa do militar alegou que o policial revidou a injusta agressão a tiros, mas o pedido de liberdade provisória não foi atendido. A juíza considerou que o policial poderia intervir nos depoimentos sobre o caso.

Também foi levado em consideração que Dalaroli responde a outro processo criminal por homicídio - "não sendo o presente fato, evento isolado em sua vida".

Delaroli foi preso em flagrante, após prestar depoimento à Delegacia de Homicídios da região. A polícia informou que identificou contradições nos depoimentos dele e das testemunhas e que também houve contradição entre os relatos e as informações recolhidas pela perícia no local. O cabo Bruno Dias Delaroli foi encaminhado para o BEP (Batalhão Especial Prisional da PM). O UOL ainda não conseguiu localizar a defesa do militar.

O delegado Bruno Cleuder, responsável pelas investigações, informou que o policial foi indiciado por homicídio doloso com dolo eventual. Ele disse na manhã de hoje ao UOL, que testemunhas relataram que o militar chegou com truculência ao local.

Ana Clara foi enterrada ontem sob protestos e gritos de paz.

Mãe implorou por socorro

A mãe da menina contou ao UOL que a criança estava no portão de casa quando foi atingida por dois tiros. Ao ouvir os disparos, ela correu para o portão e viu a menina caída e ferida. Cristiane Gomes disse que precisou implorar aos policiais para que socorressem a menina.

"Precisei implorar, insistir para que eles socorressem a minha filha. Ela estava agonizando. O policial não queria pegar ela. Ela perdeu muito sangue. Depois de alguns minutos, o outro policial disse para o colega dele: 'pega a menina, você fez besteira'. Nisso perdemos alguns minutos".

Ana Clara chegou a ser levada para o Hospital Estadual Azevedo Lima, recebeu atendimento, mas não resistiu.

Procurada, a PM informou que os policiais lotados no Batalhão de Niterói foram atacados por homens armados durante um patrulhamento na Estrada Monan Pequeno. Houve reação e os criminosos fugiram para o alto da comunidade. Ninguém foi preso. Ainda segundo a corporação, posteriormente a equipe policial deparou-se com pessoas pedindo socorro para uma criança ferida. "Os policiais imediatamente socorreram a vítima ao hospital".

Ana é a segunda criança morta este ano no Rio

De acordo com informações da plataforma Fogo Cruzado, Ana foi a quarta criança baleada este ano e a segunda a morrer em decorrência de arma de fogo. Além dela, morreu neste ano, a menina Alice Pamplona da Silva de Souza, também de cinco anos, que foi atingida na noite de ano novo, no morro do Turano, no Rio Comprido, na zona norte da capital.

Em janeiro, o menino Rafael Capelo, 7, foi baleado e internado em estado grave, após ser baleado dentro de um carro com criminosos. Ele e o pai foram feitos reféns. O caso ocorreu em janeiro em Vicente de Carvalho. A criança foi atingida dentro do veículo durante uma troca de tiros entre bandidos e policiais militares.

Já Andryu Morelli, 9, foi baleado durante uma tentativa de assalto em Realengo, na zona oeste do Rio.

Segundo a ONG Rio de Paz, desde de 2007, o estado registrou 80 crianças mortas em decorrência de disparos de arma de fogo. A maioria dos casos é de balas perdidas. Apenas no ano passado, foram 12 vítimas - uma média de uma criança morta por mês.