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Vídeo mostra megatraficante de armas saindo de presídio com alvará falso

Herculano Barreto Filho

Do UOL, no Rio

11/02/2021 16h35

Vídeo obtido pelo UOL mostra o momento em que João Filipe Barbieri, considerado como um dos maiores traficantes de armas do mundo, deixa presídio no Rio com um alvará falso nas mãos. O caso ocorreu na tarde de 18 de novembro de 2020, no complexo penitenciário de Gericinó, em Bangu, zona oeste do Rio, mas só foi descoberto nesta semana e revelado pela TV Globo.

Filho de Frederick Barbieri, preso nos Estados Unidos e conhecido como "Senhor das Armas", João Filipe foi condenado a 27 anos de prisão, acusado de integrar uma quadrilha de tráfico internacional de armas responsável pelo envio de cerca de mil fuzis ao Brasil. Um mês antes da sua fuga, João Victor Silva Rosa, também condenado por integrar o grupo, deixou o presídio usando o mesmo tipo de fraude. O caso foi revelado pela TV Globo e confirmado pelo UOL.

Imagens internas mostram o momento em que o megatraficante caminha em direção a uma parede segurando o documento forjado. Em seguida, permanece por alguns segundos com as mãos para trás. Ele, então, vira o corpo rapidamente e retira a máscara de proteção, enquanto aguarda o atendimento. Mas volta a colocar no rosto o equipamento de prevenção em meio à pandemia.

Um outro vídeo mostra Barbieri já do lado externo do presídio caminhando tranquilamente, ainda segurando o alvará falso.

Encarregado da investigação pelo MPF, o procurador Eduardo Benones acredita na possibilidade de participação de agentes públicos no esquema que resultou na fuga do megatraficante.

"É muito difícil que não tenha ocorrido a participação criminosa de servidores públicos. Vamos agora investigar como se deu a confecção, elaboração e chegada desse documento falso à Seap", diz.

Consultada pelo UOL, a advogada criminalista Carolyne Albernard diz que a soltura de um detento costuma ser demorada devido ao sistema de checagem. "Causa estranheza que tenha ocorrido dessa forma com um detento com pena tão alta e conhecido no sistema. Só após as investigações será possível saber se houve conivência ou falha", argumenta.

Como foi a fraude

Cinco dias antes da fuga de João Filipe, o setor responsável pela entrada e saída de presos recebeu um e-mail emitido por um homem que se apresentou como oficial de justiça, segundo revelou a TV Globo. Nele, havia um ofício com assinatura falsa da juíza que estava de plantão naquele dia. Mas um funcionário da Seap (Secretaria de Administração Penitenciária) analisou o histórico do interno e pediu esclarecimentos, ainda de acordo com a emissora de TV.

No dia que antecedeu a fuga, foi enviado novo e-mail em nome da mesma juíza com pedido de suspensão imediata da execução da pena, ordenando que João Filipe fosse solto em até 24 horas. Ele foi liberado pelo responsável por entrada e saída de internos.

Em nota, a Seap informou que estabeleceu um novo protocolo de dupla checagem de documentos eletrônicos para evitar fraudes relacionadas ao envio de comunicações judiciais falsas e abriu sindicância interna. O caso está sendo investigado pelo MPF (Ministério Público Federal) e pelo TRF (Tribunal Regional Federal).

A Justiça Federal expediu mandados de prisão para João Filipe e João Victor, já considerados foragidos. João Filipe é apontado como um dos chefes da quadrilha. João Victor ficava encarregado de levar os fuzis para as favelas do Rio.

A defesa deles não foi localizada pela reportagem.

Fuzis encontrados em aeroporto

Dezesseis suspeitos de integrar a quadrilha foram denunciados em 2017 pelos crimes de organização criminosa, tráfico internacional e comércio ilegal de armas de fogo, munições e acessórios de uso restrito. Naquele ano, 60 fuzis de guerra foram encontrados no terminal de cargas do Aeroporto Internacional Tom Jobim (Galeão).

Segundo o MPF, o grupo importou ilegalmente de Miami fuzis, munições e carregadores disfarçados em declarações como aquecedores e bombas de água. Os investigadores estimam que a quadrilha trouxe cerca de mil fuzis e 300 mil munições entre 2014 e 2017, em 75 operações de importação. As armas eram compradas por valores entre US$ 2,5 mil e US$ 3,5 mil.