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Áudios mostram padre Robson discutindo suposta propina a desembargadores

Padre Robson de Oliveira Pereira, de Goiás, é investigado por lavagem de dinheiro - Divulgação
Padre Robson de Oliveira Pereira, de Goiás, é investigado por lavagem de dinheiro Imagem: Divulgação

Pedro Paulo Couto

Colaboração para o UOL, em Goiânia

23/02/2021 20h01

Áudios gravados pelo padre Robson de Oliveira mostram uma conversa do religioso com dois advogados para um suposto pagamento de propina de R$ 1,5 milhão a desembargadores do TJ-GO (Tribunal de Justiça de Goiás). De acordo com a investigação do MP-GO (Ministério Público de Goiás), o intuito era assegurar a vitória em um recurso sobre um processo envolvendo uma fazenda avaliada em R$ 15 milhões.

Devido um erro ao descrever o tamanho da terra, o padre perdeu em primeira instância, no primeiro semestre de 2019, sendo condenado a pagar R$ 15 milhões ao antigo dono do local. A defesa de Robson de Oliveira decidiu recorrer e teve êxito na segunda instância, em julho de 2019, mas não há informação se a suposta propina foi paga. Ainda cabe recurso à decisão.

Em nota, a defesa de Robson de Oliveira contesta a autenticidade dos áudios e que as "suposições são construções fantasiosas". Já o TJ-GO afirma desconhecer os fatos.

Gravação mostra negociação

Durante o encontro com os dois advogados, que durou 1h30, um deles afirma que precisa "ter elemento de negociação para eventualmente subcontratar apoios no Tribunal de Justiça".

Em outro trecho da gravação feita pelo padre, ele questiona sobre como seria feito o pagamento da suposta propina e um dos advogados responde que o valor seria dividido entre três desembargadores. "500 (mil reais) pra um, e o resto dividido para os outros dois, entendeu?", diz o defensor do religioso na gravação que o UOL teve acesso.

Em determinado momento da conversa, o religioso concorda com o suposto pagamento aos desembargadores e afirma, em outra parte da gravação, que está ficando sem dinheiro e que só tem ainda porque teria interrompido a construção da nova Basílica de Trindade. "Estou dando graças a Deus de ter parado a obra", diz o sacerdote.

A gravação foi obtida em computadores, HDs e no celular do padre e passou por perícia comprovando a veracidade, de acordo com a investigação do MP-GO.

O material foi apreendido durante a Operação Vendilhões, do MP-GO, deflagrada em agosto do ano passado para apurar desvios na Afipe (Associação Filhos do Pai Eterno), que era presidida por Robson de Oliveira.

O religioso é investigado por lavagem de dinheiro, apropriação indébita e falsidade ideológica. Ele é suspeito de movimentar até R$ 2 bilhões em dez anos. O dinheiro doado por fiéis seria usado na construção da nova Basílica, mas, de acordo com o MP-GO, foi desviado para a compra de bens, como fazendas e uma casa na praia.

O sacerdote está afastado da presidência da Afipe e o processo está interrompido por decisão judicial, mas o MP-GO recorreu ao STJ (Superior Tribunal de Justiça).

Outro lado

Em nota, a defesa do padre Robson de Oliveira afirmou que o "material original e verdadeiro não foi exibido, já que é mantido em segredo de Justiça pela Polícia Civil e pelo Ministério Público, por decisão do poder Judiciário". Ainda segundo a defesa, as suposições são "construções fantasiosas com a tentativa de constranger pessoas, já que não se sustentam juridicamente nem sequer foram judicializadas nem representam qualquer ato ilegal".

Já a Presidência do Tribunal de Justiça de Goiás disse desconhecer os fatos narrados. "Não foram utilizados os meios próprios para trazer ao Poder Judiciário informações ou indícios de eventual conduta inadequada de magistrados para regular apuração. Não se pode presumir a ocorrência de irregularidades no julgamento de processos a partir de conversa mantida entre advogado e cliente", destacou.