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Após comerem peixe, irmãs são internadas com doença da urina preta em PE

A médica veterinária Pryscila Andrade, 31, está internada em Recife após contrair a doença da urina preta - Reprodução/Instagram
A médica veterinária Pryscila Andrade, 31, está internada em Recife após contrair a doença da urina preta Imagem: Reprodução/Instagram

Aliny Gama

Colaboração para o UOL, em Recife (PE)

24/02/2021 20h37

Duas mulheres precisaram ser hospitalizadas com suspeita de estarem infectadas por uma toxina biológica que causa doença de Haff, conhecida como "doença da urina preta", após comerem peixe arabaiana em um almoço familiar, no último dia 18, no Recife. Cinco pessoas consumiram o alimento contaminado. Amostras do peixe consumido pelo grupo estão em análise no Lacen-PE (Laboratório Central de Saúde Pública de Pernambuco).

A médica veterinária Pryscila Andrade, 31, está internada na UTI do Real Hospital Português, área central, com lesões musculares e renais, além de problemas hepáticos. Já a empresária Flávia Andrade, 36, recebeu alta médica no final da manhã de hoje e se recupera em casa das sequelas da doença.

Além das irmãs, duas secretárias da família e o filho de uma delas se alimentaram do peixe. As três pessoas que não foram hospitalizadas estão sendo monitoradas.

Familiares contaram que as duas passaram mal cerca de quatro horas depois de comerem o pescado, que foi comprado de um pescador no bairro do Pina, na zona sul. A família não desconfiou que o problema de saúde tinha sido ocasionado pela ingestão do peixe.

"A gente só descobriu 48 h depois que tinha sido o peixe. O médico disse que era a síndrome de Haff, que muita gente não sabe que vem do peixe. Estou traumatizada, nunca mais comeremos peixe", contou a mãe Betânia Andrade, em entrevista à TV Jornal.

Alyne disse que a irmã Pryscila foi a primeira a passar mal, quatro horas depois de consumir o peixe. "Minha irmã teve um quadro de dor grande, ficou rígida, caiu dura no chão". Já Flávia, ao visitar a irmã na UTI, no último sábado (20), foi examinada pela equipe médica e acabou ficando internada em um leito clínico até hoje.

Em comunicado nas redes sociais, Pryscila informou hoje que recuperou os movimentos de braços e pernas, mas que ainda não tem forças. "Ainda estou na UTI e temos muito que recuperar: função hepática renal, respiratória e motora. Vou sair dessa", disse.

A SES-PE (Secretaria Estadual de Saúde) informou que foi notificada pela Rede Cievs (Rede de Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde) sobre a suspeita de cinco casos de doença de Haff e que abriu investigação.

Segundo o governo de Pernambuco, entre os anos de 2017 e 2021, foram registrados 15 casos suspeitos da doença de Haff, sendo 10 confirmados por critério clínico epidemiológico (quatro em 2017 e seis em 2020), além dos cinco casos ainda em investigação.

Infectologista explica

A doença de Haff é rara e ocasionada pela presença de toxina biológica de algas que são ingeridas por peixes. A substância ataca a musculatura e os rins, deixando a urina escura, segundo o médico infectologista e professor da UFAL (Universidade Federal de Alagoas), Fernando Maia.

"Pode causar lesão renal importante, algumas pessoas ficam com urina escura, há pessoas ainda que fazem lesão renal a ponto de precisar de diálise, inclusive", explicou o médico infectologista.

Maia afirmou que com a descoberta deste caso, a população de Pernambuco e Alagoas, por serem estados vizinhos, devem evitar o consumo de peixe neste período até que a situação seja normalizada, pois não há como saber se o pescado está contaminado ou não.

Já o biólogo Cláudio Sampaio explicou que não é possível reconhecer se o peixe está contaminado e destaca que a toxina não está presente apenas na espécie arabaiana, conhecida também como olho de boi. Ele disse que a toxina vai se acumulando ao longo da cadeia alimentar de espécies aquáticas.

"Essa toxina não é muito conhecida, acredita-se que ela entre na cadeia alimentar através da ingestão de peixes que filtram microalgas que produzem essa toxina Uma sardinha se alimenta dessa microalga, essa sardinha é consumida pelo chicharro, que acumula, que é consumida pelo olho de boi (arabaiana) e que atinge uma grande quantidade de toxina", disse Sampaio, que é professor dos cursos de biologia e engenharia de pesca e coordenador do Laboratório de Ictiologia e Conservação campus Penedo da UFAL (Universidade Federal de Alagoas).