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Rebanho exclusivo para a Farra do Boi é descoberto em SC; prática é ilegal

Polícia quer saber se grupo financiou Farra do Boi flagrada em 27 de março - Divulgação/GOR
Polícia quer saber se grupo financiou Farra do Boi flagrada em 27 de março Imagem: Divulgação/GOR

Abinoan Santiago

Colaboração para o UOL, em Florianópolis

02/04/2021 13h56

A Polícia Civil de Santa Catarina identificou uma associação criminosa suspeita de realizar a Farra do Boi, prática cultural que consiste na tortura de bovinos, sendo proibida desde 1998 pelo STF (Supremo Tribunal Federal). A investigação chegou a descobrir uma propriedade rural em Tijucas, na Grande Florianópolis, que separava parte do rebanho exclusivamente para a tortura.

A quadrilha, segundo a Polícia Civil - que não revelou a identidade dos suspeitos - é composta por empresários, políticos, pecuaristas e profissionais liberais. Ao todo, foram indiciadas oito pessoas no inquérito enviado ontem à Justiça. Eles pagavam uma quantia por mês para a aquisição do boi, que custava até R$ 6 mil em Tijucas.

"É uma propriedade rural que cria os animais para práticas lícitas, mas dentro desse quantitativo, eles arrebanhavam bois para a tortura", confirmou o delegado Ricardo Melo, que apurou o caso.

Propriedade rural em SC tinha rebanho específico para Farra do Boi - Divulgação/Polícia Civil-SC - Divulgação/Polícia Civil-SC
Propriedade rural em SC tinha rebanho específico para Farra do Boi
Imagem: Divulgação/Polícia Civil-SC

A investigação ocorria desde 2020 e também apontou que os animais eram levados em caminhões com restrições de roubo ou furto para serem torturados em cidades do litoral Norte de Santa Catarina, onde ainda existem adeptos da Farra do Boi. O último flagrante aconteceu no sábado (27), em Bombinhas, quando um bovino caiu em uma piscina de uma casa enquanto fugia da tortura.

Três pessoas eram consideradas como núcleo da organização criminosa: o proprietário do rebanho, em Tijucas; o transportador dos bois, morador de São José; e o organizador da Farra do Boi, em Bombinhas. Além dos crimes de maus-tratos, associação criminosa, receptação e adulteração de sinal identificador de veículo automotor. A Polícia Civil indiciou outros cinco por maus-tratos.

"As pessoas denominam como uma prática cultural na região, então isso faz a Farra do Boi ter certa aceitação no meio social. Elas rateiam o custo dessa prática e identificamos isso em planilhas mensais de pagamentos, com a colaboração de cada um e iniciando a coleta sempre no início do ano para o financiamento do boi", observou o delegado.

Grupo pode ter ligação com caso em Bombinhas

A investigação da Polícia Civil agora quer saber se o flagrante ocorrido em 27 de março em Bombinhas tem ligação com o grupo indiciado.

"Estamos analisando essa situação de Bombinhas para saber se há reiteração da prática pelas pessoas já identificadas e indiciadas na investigação. Se confirmamos isso, vamos representar pela prisão preventiva dos envolvidos", adiantou o delegado.

Tradição

Criada em Santa Catarina pelos açorianos que povoaram o litoral Norte a partir do século 17, a Farra do Boi virou tradição nas praias durante a Quaresma.

Na cultura dos nativos, o boi representa Judas. O animal é solto nas ruas, perseguido e torturado até a morte. Pela crueldade cometida contra o boi, a farra virou crime ambiental, em 1998, conforme decisão do STF.