Praça vira academia a céu aberto em São Paulo: 'Sedentarismo também mata'

Anahi Martinho

Colaboração para o UOL, em São Paulo

Com parques e academias fechados em São Paulo, as praças e avenidas têm virado ponto de aglomeração entre praticantes de esporte e corrida de rua. A praça Vinícius de Moraes, no Morumbi, um dos poucos espaços verdes ainda abertos na capital, virou uma espécie de academia a céu aberto neste feriado da sexta-feira santa.

A reportagem do UOL presenciou várias pessoas praticando esportes na praça, de yoga a crossfit e boxe — e com direito a personal trainers. Muitos estavam sem máscara.

O personal Rafael Alves, 29, chegou à praça às 5h da manhã para treinar o primeiro aluno do dia. Por volta das 10h, já havia dado três treinos.

"A preocupação é não deixá-los sedentários", afirma. "A gente sabe que a doença [covid-19] existe e é muito grave. Mas existe o sedentarismo também, que mata, e muito. Perdi um amigo de 87 anos para a depressão. Ele não aguentou o isolamento", lamenta Rafael.

Antes da pandemia, Rafael costumava lecionar em academias, salas de ginástica de condomínios e no parque Villa Lobos. Com as três opções interditadas, teve que adaptar os treinos para a praça. Ele afirma que muitos alunos até gostaram da mudança. Outros, "mais inseguros", segundo ele, pararam de fazer os treinos desde que a pandemia começou.

"Eu treinei hoje um aluno de 65 anos. O prazer dele não é só treinar, é estar aqui cercado de mato, vendo os passarinhos, sentindo um pouco a natureza. A expectativa de vida dele aumenta uns cinco, seis anos, e com saúde", afirma.

O personal trainer Rafael Alves, que treinou alunos na praça Vinícius de Moraes - Anahi Martinho/UOL (750x421)

Apesar do bom retorno que tem recebido dos alunos, Rafael teme que os treinos na praça estejam com os dias contados.

"Eu acho que o poder público vai interferir. Não vão mais deixar o pessoal treinar aqui. Tô sentindo ultimamente muito fluxo de polícia. Se o governador não flexibilizar um pouco, acho que nessa praça aqui o pessoal não consegue mais ficar", diz.

Há três meses, ele adotou o hábito de fazer testes de covid a cada 15 dias. "Até para me respaldar, caso o aluno pegue o vírus de outra pessoa e queira falar que pegou do personal. Eu estou aqui para trazer saúde", diz.

A testagem não é considerada uma medida eficaz de controle da disseminação do novo coronavírus.

'Lockdown é individual'

O casal Sumaia Okawa, 47, e Marcelo Felipe, 50, que foi à praça para caminhar, costumava frequentar o Ibirapuera antes da pandemia. Eles afirmam sentir falta do parque, mas acham cedo para reabrir.

Marcelo, que é técnico de vôlei no Morumbi, precisou se adaptar para treinar seus alunos à distância, por zoom. "Cada um na sua casa e com sua bola, o que não pode é deixar de treinar", diz.

Sumaia, que é gerente de um salão de beleza, está sem trabalhar e sem previsão de retorno. "Acredito que ainda não seja o momento", diz.

Para ela, o maior desafio da pandemia é conscientizar a população. "Brasileiro não gosta de seguir regras. Eu morei no Japão e lá quem está gripado ou resfriado usa máscara para não contaminar os outros", diz. "Aqui, o lockdown é individual. Cada um age de acordo com a própria consciência".

Já Marcelo acredita que falta educação para a população. "Tem jovens na periferia que vão a festas, contaminam a própria família, não estão nem aí. Aqui no Morumbi tem mansões enormes que o pessoal está fazendo festa com 300 pessoas. O brasileiro não tem educação nenhuma", diz.

Sumaia Okawa e Marcelo Felipe, frequentadores da praça - Anahi Martinho/UOL (750x421)

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