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Bebê de 2 meses desenvolve síndromes raras após infecção por covid-19

Luís Miguel, de 2 meses, foi diagnosticado com síndromes raras após 25 dias internado com covid-19 - Reprodução/Acervo Pessoal
Luís Miguel, de 2 meses, foi diagnosticado com síndromes raras após 25 dias internado com covid-19 Imagem: Reprodução/Acervo Pessoal

Simone Machado

Colaboração para o UOL, de São José do Rio Preto (SP)

15/04/2021 17h03Atualizada em 15/04/2021 17h05

Com menos de três meses de vida, Luís Miguel Fraga já passou 25 dias internado após ser infectado pela covid-19.

Mas apesar de ter recebido alta, a família do menino, que mora em Salto, no interior de São Paulo, conta que as batalhas continuam, já que o bebê desenvolveu duas síndromes raras frequentemente ligadas ao coronavírus, a Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P) e a de Kawasaki.

A dona de casa Mical Fernanda Nascimento Fraga, de 30 anos, mãe de Luís Miguel, detalha que o filho começou a ter os primeiros sintomas da covid-19, como febre alta, no dia 13 de março, quando tinha apenas 51 dias de vida. Inicialmente, a mãe não desconfiou que pudessem ser sinais do coronavírus, já que ninguém da família estava com sintomas da doença.

"No dia seguinte percebi que a febre dele não passava e resolvemos procurar atendimento médico. Depois de diversos exames, todos feitos na emergência do hospital, foi constatado que o meu bebê estava com a covid-19", lembra.

No mesmo dia, Luís Miguel foi encaminhado para a Unidade de Terapia Intensiva neonatal de um hospital em Indaiatuba, cidade vizinha a Salto.

Durante o período de internação, o bebê teve diversas complicações como taquicardia, miocardite, derrame pericárdio e hipertensão.

"A médica nos chamou e explicou que o Luís Miguel havia desenvolvido a forma mais grave da covid-19 e que além de acarretar esses problemas de saúde ele também havia desenvolvido duas síndromes raras que poderiam comprometer o funcionamento dos órgãos dele e causar uma inflamação nos vasos sanguíneos", detalha a mãe.

Depois de 25 dias de hospitalização o bebê teve alta e retornou para casa no dia 7 de abril.

"Teve dias de muita angústia e cheguei a pensar que eu poderia não voltar para casa com meu filho nos braços", recorda a mãe.

Por causa das síndromes Luís Miguel segue fazendo acompanhamento médico. De acordo com a família, ainda não se sabe se o menino terá alguma sequela definitiva.

"Aparentemente está tudo bem, mas ele ainda tem sequelas da covid e das síndromes que desenvolveu, como a hipertensão, por exemplo. Estamos procurando diversos especialistas para cuidar dele e para que ele possa crescer como uma criança normal", finaliza a mãe.

Ainda segundo a mãe, além de Luís Miguel, ela, a mãe e uma irmã também tiveram covid-19, todas fizeram o tratamento médico em casa e não precisaram ser hospitalizadas.

A reportagem do UOL entrou em contato com a Secretaria Estadual de Saúde para saber quantos pacientes desenvolveram síndromes raras em São Paulo em decorrência da covid-19.

Segundo o órgão, até o dia 20 de março, foram registrados 147 casos e 11 óbitos causados pela Síndrome Inflamatória Multissistêmica Pediátrica (SIM-P) temporalmente associados à covid-19.

Destes 147, 35 casos foram registrados neste ano. A faixa etária entre 0 e 10 anos corresponde a 72% das ocorrências e 36% dos óbitos. O restante refere-se a crianças e jovens de 10 até 19 anos.

Efeitos das síndromes

A síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica (SIM-P) é uma condição rara que pode criar inflamações nos vasos sanguíneos de crianças e adolescentes. De acordo com o CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças) dos Estados Unidos, a doença se manifesta em pacientes entre 0 e 19 anos e está associada à infecção da covid-19.

Algumas crianças, podem ter a infecção e serem assintomáticas, mas em casos raros os pacientes desenvolvem a forma grave da síndrome, que pode evoluir para um choque tóxico e infecção generalizada, se não receberem diagnóstico precoce e tratamento.

Estudos apontam que a síndrome além de ser responsável por inflamação dos vasos sanguíneos, pode gerar também complicações cardíacas e intestinais, insuficiência renal, comprometimento cerebral, da pele e dos olhos.

Assim como a SIM-P, a síndrome Kawasaki, causa inflamação dos vasos devido a um quadro inflamatório no corpo. Ela atinge crianças de até cinco anos de idade, principalmente.

Os principais sintomas são febre persistente, que não cessa mesmo com o uso de antitérmicos, irritabilidade, conjuntivite, lábios ressecados e rachados e ainda lesões na pele. Outros sintomas que também podem surgir são dores abdominais e nas articulações, vômito, diarreia, alterações no fígado e neurológicas.