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Caso Henry: Depoimentos de empregada e babá apresentam divergências

Henry Borel ao lado da mãe Monique Medeiros e do padrasto, o vereador Dr. Jairinho - Reprodução
Henry Borel ao lado da mãe Monique Medeiros e do padrasto, o vereador Dr. Jairinho Imagem: Reprodução

Tatiana Campbell

Colaboração para o UOL, no Rio

15/04/2021 16h57

Em depoimento à Polícia Civil do Rio, a empregada doméstica Leila Rosângela Souza de Mattos confirmou parte da narrativa da babá Thayna de Oliveira Ferreira —os depoimentos de ambas são considerados fundamentais para elucidar o Caso Henry.

Os relatos apresentam contudo divergências em ao menos dois episódios envolvendo as agressões contra o menino Henry Borel, morto em 8 de março. As funcionárias do vereador Dr. Jairinho (sem partido) e Monique Medeiros, padrasto e mãe da criança, também se contradizem quanto a suposta orientação do então advogado do casal.

Veja abaixo as divergências entre o que disseram a babá e empregada doméstica.

Como Henry justificou o fato de estar mancando?

Em 12 de fevereiro, por volta de 15h30, ambas relataram que Dr. Jairinho chegou em casa e chamou Henry para o quarto para mostrar algo que havia comprado. Ambos ficaram no cômodo —com a porta trancada— por cerca de dez minutos.

Ao sair do quarto, a criança foi para seu colo da babá e as funcionárias notaram que o menino estava mancando.

Em seu depoimento, a babá relatou que a empregada doméstica perguntou para o menino se ele havia machucado o pé e que Henry teria dito "que era pela 'banda' [rasteira aplicada pelo padrasto], mas não explicou exatamente".

Já Leila Rosângela relatou que não questionou a criança do porquê estar mancando, mas disse que Thayna questionou Henry do motivo pelo incômodo e a criança respondeu "que havia caído da cama e que o seu joelho estava doendo".

A empregada soube das agressões?

Naquele mesmo dia, a babá disse que, à noite, a empregada telefonou para perguntar o que tinha acontecido, e ela contou "que Henry havia reclamado que tinha apanhado de Jairinho".

Para os policiais, a empregada doméstica disse que, por volta de 17h10, telefonou para a cuidadora de Henry para saber se o menino ainda estava mancando e se Monique já estaria em casa, "tendo esta [Thayna] respondido que não".

Ainda em depoimento, Leila Rosângela relatou que ligou novamente para a babá e que Thayna lhe falou "que estava sozinha no carro com Henry e que Monique estava no apartamento com Dr. Jairinho".

A empregada doméstica acrescentou que as duas continuaram conversando, porém pelo WhatsApp, mas, diferentemente da versão da babá, não relatou que Thayna lhe contou sobre o ocorrido envolvendo Dr. Jairinho.

Babá e empregada foram orientadas por advogado de Jairinho?

Dias após o enterro de Henry, a babá relatou que a irmã de Dr. Jairinho, Thalita Fernandes Santos, entrou em contato perguntando se ela poderia ir ao escritório do advogado e que, no dia seguinte, ao chegar à casa da família do parlamentar encontrou Leila Rosângela e que as duas foram juntas para o local sem conversar sobre o ocorrido.

Thayna diz que ouviu do advogado André França que ela, "por acreditar em Deus, tinha que falar 'para o mundo' o quão pessoas [sic] boas eram Monique e Jairinho". A babá disse que França insistiu para que ela desse uma entrevista a um veículo de imprensa e que ele a orientou com relação as respostas.

"Deveria responder, já falando quais deveriam ser suas respostas, por exemplo, falava: "Vão te perguntar sobre a relação entre Jairinho e Henry, você vai falar que era boa, né?", relatou Thayna de Oliveira para a polícia.

A babá disse não se recordar exatamente das perguntas, mas afirmou que "eram as mesmas que lhe foram feitas pela equipe de reportagem". A cuidadora disse ainda que o advogado a alertou que, ao prestar declarações para a polícia, "deveria falar as mesmas coisas que falou na entrevista".

Para os agentes, Thayna contou que, enquanto aguardava para gravar com o veículo de imprensa, encontrou Leila Rosângela e que a empregada lhe disse "que com ela foi a mesma coisa, ou seja, que ela teve a mesma orientação e ainda acrescentou que 'seria fácil' porque o Dr. André já havia falado o que era para dizer".

Entretanto, questionada pela polícia se nesta entrevista alguém a orientou sobre as respostas que deveria dar, Leila Rosângela disse "que não".

Os agentes perguntaram se houve alguma razão para Leila Rosângela não ter informado tais fatos no primeiro depoimento, e a empregada respondeu que "só não contou porque não se recordava". Ao ser questionada se tem problemas de memória ou se toma remédios controlados, "respondeu que não".

Procurado pelo UOL, André França disse que, desde que foi criada, a equipe de defesa do casal "sempre pautou a sua atuação sob a égide da ética, da técnica e do profissionalismo". Segundo França, o objetivo de ter convocado as funcionárias em seu escritório era entender a relação de Dr. Jairinho, Monique e Henry.

"Ressalta-se, ainda, de acordo com os termos das declarações posteriormente aduzidas à Autoridade Policial [que] ambas prestaram depoimento desacompanhadas de advogado, inclusive destes patronos, por aproximadamente seis horas cada", escreveu.

O advogado André França anunciou ontem que não representa mais Jairinho. Na segunda (12), Monique constituiu nova defesa.