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Guardas municipais aplicam mata-leão em professor que dava treino irregular

Naian Lopes

Colaboração para o UOL, em Pereira Barreto (SP)

25/04/2021 13h32Atualizada em 26/04/2021 07h33

Guardas civis metropolitanos foram filmados dando um mata-leão em um professor de educação física durante uma abordagem em Ribeirão Preto (interior de São Paulo) na sexta-feira (23).

Nas imagens que circularam nas redes sociais é possível identificar Felipe Francisco, 27, discutindo com a equipe da GCM (Guarda Civil Metropolitana) e, logo em seguida, sendo segurado por quatro agentes.

Em um momento do vídeo um dos guardas é visto dando um mata-leão no jovem. Quem filma critica o excesso de força utilizado pelo profissional, mas a confusão continua por alguns minutos.

O caso aconteceu em uma quadra poliesportiva. Francisco disse ao UOL que estava dando um treino individual de futebol quando os agentes chegaram em uma viatura e deram um ponto final em uma aglomeração que ocorria na quadra vizinha.

Mas o educador físico contou que recebeu autorização dos guardas para continuar com seu treino:

Eles não me tiraram, dispersaram aglomeração ao lado e disseram: 'Você está dando aula só para um aluno, mantém aí'. Foram essas as palavras da primeira viatura"

Ainda de acordo com Francisco, a viatura foi embora, mas chegou um segundo veículo da GCM, cerca de 15 minutos depois, e a equipe pediu para ele dar um ponto final no trabalho físico, porque o treino estava desobedecendo o decreto municipal que não permitia atividades esportivas até sexta-feira. Com a fase de transição do Plano SP, que entrou em vigor no sábado, treinos de futebol já podem acontecer.

Eles [os guardas] já chegaram colocando a mão no meu material, que eu deveria sair dali, porque já tinha ido outra viatura dispersar a aglomeração e não tinha saído. Aí eu falei que era mentira, porque a primeira viatura me autorizou a continuar dando aula, o agente foi sensato comigo e teve empatia, porque deixou dar aula. Eles não tinham argumentação de aglomeração para me tirar"

De acordo com o boletim de ocorrência, os agentes envolvidos na confusão disseram que usaram da força física moderada porque o treinador tentou mordê-los.

Eles explicaram também que pediram para Francisco deixar a quadra, pois estava usando espaço público para atividade remunerada —o que não é permitido— e causando aglomeração, mas ele teria se recusado.

Já o educador conta outra versão e, inclusive, cedeu imagens ao UOL em que mostra a abordagem da GCM. Nos vídeos é possível ouvir Francisco dizer que os guardas recebem salários, que ele precisa trabalhar e que o auxílio emergencial não é suficiente.

Em todo o momento, Francisco está sem máscara no rosto, o que não é permitido. Ele alegou que é ruim usar a proteção para atividade física.

"Eles [guardas] falaram que ou eu ia embora ou eu iria para delegacia. Eu falei que iria embora. Agachei para pegar minhas coisas que estavam no chão. Só que um dos guardas disse que eu não iria embora, porque me levaria para a delegacia. Ele teve um surto, porque não tinha ninguém ameaçando de pôr a mão, nem os outros guardas, mas esse [que falou comigo] começou a me agredir de forma física", contou ele. As imagens não mostram esse momento. Ele prossegue:

Ele tentou me dar um mata-leão, me esquivei na primeira. Ele tentou me dar uma rasteira, chutando meu tornozelo. Aí já chegaram os outros guardas e começaram a acompanhar a ação deste primeiro guarda. Foi despreparado, um verdadeiro abuso de autoridade e poder, força excessiva. Eles não podem dar um mata-leão em qualquer pessoa e eles fizeram isso comigo. Falei para eles que quase tiraram minha vida, porque eu não tinha ar para me debater. Foi uma situação muito delicada".

"Estou indignado, minha mãe não para de chorar, porque viu os vídeos. Ela sabe a minha correria de todos os dias. Acordo cinco horas da manhã, sou o único da casa que trabalha, meus pais não sabem o que é salário desde março do ano passado. Não está nada fácil e eles estão preocupados com os trabalhadores", desabafa.

Após o episódio, Francisco prestou depoimento na delegacia, fez exame de corpo de delito e garantiu que vai processar o poder público.

GCM se posiciona

Em nota, a GCM comunicou que o caso está sendo apurado e que um processo administrativo será instaurado para analisar o comportamento dos agentes envolvidos no episódio.

Mas ela destacou que é preciso que a população obedeça aos decretos municipal e estadual para evitar aglomerações na pandemia.