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Avó cola cartazes 4 meses após sumiço de 3 meninos no RJ: 'Estão vivos'

5.jan.2021 - Sílvia Regina da Silva, avó de dois meninos desaparecidos em Belford Roxo, em protesto em frente ao MP - Reprodução/TV Globo
5.jan.2021 - Sílvia Regina da Silva, avó de dois meninos desaparecidos em Belford Roxo, em protesto em frente ao MP Imagem: Reprodução/TV Globo

Marcela Lemos

Colaboração para o UOL, no Rio

29/04/2021 04h00

Quatro meses após o desaparecimento dos três meninos em Belford Roxo, na Baixada Fluminense, a avó de dois deles —Lucas Matheus da Silva e Alexandre da Silva— cola até hoje cartazes com as fotos das crianças em muros, postes e ônibus que circulam na cidade.

Silvia Regina da Silva, 58, afirma ter esperança de encontrar vivos os netos e o amigo deles Fernando Henrique Ribeiro Soares. "Jamais vou desistir", disse ela ao UOL.

Lucas, Alexandre e Fernando sumiram no dia 27 de dezembro após brincarem em um campo de futebol perto de casa. Silvia conta que tem sonhado com os meninos pedindo ajuda.

Eu sonho e escuto as vozes deles me pedindo ajuda, já sonhei também com eles entrando de novo em casa. A gente tem esperança de encontrá-los. Tenho certeza que eles estão vivos, só que a gente não sabe mais onde procurá-los. Eu continuo colando cartazes deles por aí, coloco até nos ônibus

Silvia Regina da Silva, avó de Lucas e Alexandre

Fernando Henrique, 11, Lucas Matheus, 8, e Alexandre da Silva, 10, desapareceram dia 27 de dezembro em Belford Roxo (RJ) - Arquivo Pessoal - Arquivo Pessoal
Fernando Henrique, 11, Lucas Matheus, 8, e Alexandre da Silva, 10, desapareceram dia 27 de dezembro em Belford Roxo (RJ)
Imagem: Arquivo Pessoal

As crianças completaram na última terça-feira (27) quatro meses desaparecidas. Em janeiro, logo após o sumiço delas, Silvia, que trabalha como cozinheira, contou que se ausentou do trabalho para ajudar na procura das crianças. Hoje, a avó se divide entre o trabalho e as buscas pelos meninos.

Ela disse que se sente abandonada pela DHBF (Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense), responsável pelas investigações.

"Sempre que a gente ia na delegacia, não tinha novidades. Fiquei muito sentida porque eles disseram que não tinham pistas em mais de 40 câmeras analisadas e depois de dois meses acharam eles [os meninos] nas filmagens. Acho que é falta de interesse e até discriminação com nosso caso."

Silvia se referia à única pista concreta de que se tem conhecimento: uma câmera de segurança que flagrou os meninos passando por uma rua na localidade de Vila Medeiros, perto da casa deles.

A gravação teve que passar por um programa de melhoria de imagens e os meninos foram identificados no vídeo pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro).

Em meio ao sumiço do trio, Lucas e Alexandre fizeram aniversário. Mateus completou 9 anos no último dia 15 e Alexandre fez 11 anos em março.

Para tentar amenizar a dor no dia a dia, Silvia disse que a família enviou o passarinho de estimação de Alexandre para a casa do tio dele.

"Não dava para todo dia ficar olhando para o passarinho e lembrando como ele era cuidadoso com ele. Botava o passarinho para tomar sol. Isso mexe muito com a gente", contou a avó, recordando com carinho das brincadeiras preferidas deles (pipa e bola de gude).

Orgulhosa, Silvia lembrou ainda que Lucas era o craque da família. "Lucas jogava bola muito bem e dizia que ia ser jogador de futebol. Tem um cara aqui na vizinhança que treinava as crianças e ele confirmava que o Lucas era muito bom", lembrou a avó.

Investigações

Na terça-feira (27), o desaparecimento de Lucas, Fernando e Alexandre completou quatro meses. Sem conhecimento de novas pistas, a Defensoria Pública do Rio, que dá assistência às famílias, afirma que os parentes estão sem qualquer explicação sobre o que tem sido feito pela polícia para localizar as crianças.

À Defensoria e à reportagem, a Polícia Civil do Rio disse que não há novidades nas investigações.

Até o momento, a DHBF disse apenas que continua apurando o envolvimento do tráfico de drogas da região no desaparecimento dos meninos.

Neste mês, a Polícia Civil do Rio criou uma força-tarefa para investigar o desaparecimento. As ações da Divisão de Homicídios agora contam com o apoio de agentes da Subsecretaria de Inteligência e da Delegacia de Descoberta de Paradeiros para desvendar o desaparecimento.

Procurada após a crítica da avó das crianças, a Polícia Civil do Rio disse que realizou mais de 80 diligências, além de buscas em locais distintos ao longo desses meses, inclusive na capital e em outras cidades da Baixada Fluminense. "A Delegacia de Homicídios da Baixada Fluminense continua as diligências e ações de inteligência buscando o esclarecimento do fato e o encontro das crianças".