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'Chorando sei que tá vivo': Mensagem de babá de Henry revela nova agressão

Herculano Barreto Filho

Do UOL, no Rio

04/05/2021 14h05

Novos diálogos que fazem parte do relatório final produzido pela Polícia Civil do Rio de Janeiro na investigação de homicídio de Henry Borel, morto na madrugada de 8 de março no apartamento da família na Barra da Tijuca, na zona oeste do Rio, revelam grito, choro e outras agressões cometidas pelo vereador Dr. Jairinho (sem partido).

Um novo episódio foi revelado hoje em entrevista coletiva da polícia a partir de relato da babá Thayná de Oliveira Ferreira ao noivo em conversa pelo WhatsApp iniciada às 7h49 de 2 de fevereiro. "Não sei o que é pior, chorando ou mudo. Chorando sei que tá vivo", relatou a babá após o padrasto se trancar com o menino no quarto.

Na conversa, ela se refere ao parlamentar como "o doido", diz estar apavorada e afirma: "Parece que tá tampando a boca do menino".

Jairinho e a professora Monique Medeiros foram indiciados por homicídio duplamente qualificado —com tortura e meios que dificultaram a defesa da vítima. A Polícia Civil encaminhou ontem o inquérito ao MP-RJ (Ministério Público do Rio) com pedido de prisão preventiva contra ambos. Já a babá será investigada em outro inquérito pelo crime de falso testemunho, segundo aponta o relatório.

O relato do diálogo entre a babá e o noivo, anexado ao inquérito, motivou o indiciamento de Jairinho por mais um episódio de tortura —ele também foi indiciado pelo mesmo crime devido às agressões ocorridas em 12 de fevereiro relatadas pela babá e pelo espancamento que causou a morte do menino. Já a mãe responderá pelos mesmos crimes cometidos por Jairinho porque, segundo a polícia, não afastou o filho do agressor.

'Parece que tá tampando a boca do menino'

"Eu tô apavorada. Família de doido real. A criança vai ficar perturbada", escreveu Thayná em mensagem enviada ao noivo.

Em seguida, passou a relatar o que ocorria no apartamento. Na ocasião, a mãe da criança não se encontrava no imóvel.

"O menino estava chorando comigo no quarto querendo a mãe", relatou a babá. "Aí nisso o doido entrou [dizendo:] 'Henry, não pode chorar. Você é muito mimado'", prosseguiu. "O menino agarrou no meu pescoço. Começou a chorar muito mesmo, que você vê que não é normal."

Em seguida, a funcionária relatou que Jairinho entrou no quarto com o menino, dando início às agressões.

"Aí ele entrou com o menino para o quarto dele (fiquei sem saída né? Vou fazer o quê?)", explicou. "Agora o menino tá chorando no quarto", registrou.

Parece que tá tampando a boca do menino. Uma doideira de verdade. Aí veio agora tomar café. Natural, como se nada acontecesse

Na conversa, Thayná desabafa: "Eu sei que eu tô trêmula. Uma sensação muito ruim, sabe. De não poder fazer nada".

Em seguida, desabafa mais uma vez, demonstrando preocupação com a opinião de Henry por ela deixá-lo com Jairinho. "Eu tô com medo dele associar que eu sou uma pessoa ruim que deixei ele com o louco."

O que dizem os advogados

Ao UOL, a defesa de Jairinho disse que só comentará as acusações após a denúncia ser oficializada. Questionada sobre a possível abertura de um inquérito paralelo por falso testemunho por causa do primeiro depoimento da babá Thayná de Oliveira Ferreira, a advogada Priscila Sena disse que só irá se posicionar se a cuidadora for intimada.

A defesa de Monique Medeiros criticou a Polícia Civil pela conclusão do inquérito que investigava a morte do menino Henry. Os advogados da professora disseram que o caso "foi finalizado prematuramente com erros investigativos."

O delegado Antenor Lopes, diretor de Polícia Civil da capital, rebateu as acusações. "Lamentamos esse tipo de tentativa desesperada de quem está tendo dificuldade de encontrar argumentos."