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Esfaqueador usou rojões e se trancou em banheiro após ataque em escola

Fachada da creche do ataque em Saudades (SC) recebe homenagem às vítimas - Hygino Vasconcellos/Colaboração para o UOL
Fachada da creche do ataque em Saudades (SC) recebe homenagem às vítimas Imagem: Hygino Vasconcellos/Colaboração para o UOL

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o UOL, em Saudades (SC)

05/05/2021 17h07

O suspeito de entrar em uma escola em Saudades (SC) e matar cinco pessoas - três delas crianças de pouco mais de um ano - usou rojões durante o ataque. Devido ao barulho, testemunhas que estavam próximo da instituição de ensino acreditaram que se tratava de tiros ou mesmo de uma explosão.

O proprietário de uma oficina de motos, Ezequiel Vargas Pimentel, 35 anos, conta que estava trabalhando quando ouviu o barulho. Inicialmente ele e os colegas acharam que fosse de uma metalúrgica próxima, mas o pensamento se desfez em seguida com os gritos de socorro vindos da escola.

"Aí eu corri nos fundos da creche, olhei e as pessoas gritavm 'socorro, me ajuda'. Por ali algumas pessoas tentavam sair. Eu corri para o lado e disse para uma funcionária: 'volta e pega alguma coisa para nós se defender" e chegando lá as professoras disseram: "o cara está armado, o cara está armado". A gente não sabia se era uma arma de fogo, uma arma branca", explica Pimentel.

Pimentel entrou duas vezes na escola. Na primeira, deparou-se com o esfaqueador, mas o confundiu com um agente de segurança. "Ele estava bem vestido e não vi arma. Então eu confundi. Daí foi no instinto, entrei, peguei duas crianças e saí correndo de volta para a rua", explica o proprietário da oficina.

Segundo Pimentel, o homem estava de pé, no canto da sala. "Ele parecia que estava apavorado, não sabia o que ele ia fazer, não esboçou nenhuma reação, até por isso que eu achei que ele não ofereceu risco para mim. Não sei se se assustou com minha presença, porque até então era só mulheres e crianças, e, quando entrou figura masculina, ele pensou: "opa! agora o que está acontecendo?".

Além do esfaqueador, havia na sala uma professora rodeada de sangue. "Ela estava deitada, não consegui ver os ferimentos, mas tinha muito sangue ao redor dela e quatro crianças feridas, duas praticamente inconsciente e duas com alguns sinais", explica o proprietário da oficina de motos.

Do lado de fora da escola, Pimentel entregou uma das crianças para outra professora. Em seguida, correu até a esquina, gritou para a esposa pegar o carro e foram até o hospital, a 500 metros. Enquanto a mulher dirigia, Pimentel abraçava um menino, que apresentava um corte no estômago. Mal sabia que a criança seria uma das vítimas do ataque. "Ele só agonizava."

Após deixar a criança no hospital, decidiu voltar à escola e se deparou com o esfaqueador já contido. Ao ver o rosto dele, assustou-se: era o mesmo que havia visto na sala. Quem conteve o suspeito explicou para Pimentel que ele havia se trancado no banheiro após ter deixado o local.

"Disseram que ele entrou e não saiu mais (no banheiro). E que ficou largando esses rojões, tinha vários amarrados nele e explodia de uma vez só. Quando abriram a porta do banheiro, saiu bastante fumaça. Ele saiu dali meio atordoado."

Um dia após o ataque, Pimentel relata sensação de impotência com o que aconteceu na escola. "Foi muito frustrante, parece que a gente não conseguiu fazer nada, incapacidade, eu logo não consegui ajudar, eu pouco chorei porque estou frustrado, eu estou com uma sensação de esganadura", relata o proprietário da oficina.