Ministério dos Direitos Humanos lamenta mortes em operação no Jacarezinho
O Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos lamentou hoje as 25 mortes ocorridas em uma operação policial realizada ontem na comunidade do Jacarezinho, na zona norte do Rio de Janeiro.
Em nota, o ministério, que é comandando por Damares Alves, disse que "é urgente a necessidade de combate ao crime organizado, ao tráfico de drogas e às demais atividades marginais que ocorrem na cidade".
Ainda sim, de acordo com a pasta, o combate ao crime organizado deve "ocorrer de forma a proteger a vida de todos, especialmente dos moradores que, também, são vítimas e reféns de atividades criminosas".
A ação, coordenada pela Polícia Civil, deixou 24 civis e um policial morto e foi a mais letal da história do Rio de Janeiro. Duas pessoas que estavam dentro de uma composição do metrô ficaram feridas ao serem atingidas por tiros.
Representantes da OAB-RJ (Ordem dos Advogados do Brasil no Rio de Janeiro) foram até o Jacarezinho para averiguar denúncias de abuso policial. Uma comissão da entidade conseguiu, na manhã de hoje, identificar os corpos de 16 dos civis mortos na operação.
Relatos e desfecho
Moradores chegaram a relatar à Comissão de Direitos Humanos da OAB que policiais mataram um homem dentro do quarto de uma menina. Em imagens, é possível ver um lençol cor-de-rosa ensanguentado e o chão encharcado de sangue.
Segundo relato de uma moradora ao Instituto Anjos da Liberdade, um homem estava com uma criança no colo antes de ser morto. A testemunha disse desconhecer a identidade do rapaz.
O policial pediu que esse jovem entregasse a criança a um familiar e falou que ele iria morrer. E matou o jovem ali mesmo. Eles [policiais] não foram a bocas de fumo. Invadiram casas para matar. Foi uma chacina.
Os reflexos da operação foram registrados em vídeo pelos moradores do Jacarezinho: desde dois homens mortos no chão em um beco estreito, passando por granadas jogadas no chão e chegando até o sobrevoo de um helicóptero da polícia enquanto se ouve o som de tiros.
A operação foi deflagrada após denúncias de aliciamento de crianças e adolescente para uma facção criminosa que domina o território. Dos 21 mandados de prisão em posse da polícia, apenas três foram cumpridos e outros três alvos foram mortos.
'Ativismo judicial'
Em entrevista concedida após a operação, o delegado Rodrigo Oliveira, subsecretário da Polícia Civil, responsabilizou o que chamou de "ativismo judicial" pela morte do policial. A fala foi rebatida por advogados e defensores.
"Quem tem sangue nas mãos é a polícia do Rio de Janeiro", disse o advogado Daniel Sarmento, que representa o PSB em uma ação no STF (Supremo Tribunal Federal) que restringe operações policiais durante a pandemia de covid-19.
Durante a manhã de hoje, manifestantes protestaram contra o desfecho letal da operação, carregando um pano preto com a mensagem "justiça para Jacarezinho. Fim do massacre nas favelas".
Também hoje, a ONU (Organização das Nações Unidas) criticou a operação, defendeu que o Brasil repense o modelo de policiamento das favelas e pediu uma investigação imparcial e a proteção de testemunhas do ocorrido.
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