Topo

Vídeo mostra homem sendo agredido em supermercado antes de ser morto na BA

Alexandre Santos

Colaboração para o UOL, de Salvador

11/05/2021 16h11

Imagens gravadas pelo celular de uma testemunha mostram Yan Barros da Silva, 19, sendo agredido dentro da área interna do supermercado Atakadão Atakarejo, segundo familiares do rapaz que viram o vídeo. Junto do tio, Bruno Barros da Silva, 29, ele foi acusado de furtar pacotes de carne por seguranças do estabelecimento. De acordo com a investigação da polícia, os dois foram entregues a traficantes que teriam torturado e assassinado a dupla.

Ao UOL, a assessoria da Polícia Civil confirmou que o Núcleo de Inteligência do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa em Salvador) em Salvador analisará se os homens que aparecem no vídeo que mostra a área interna do supermercado são Yan e Bruno.

As imagens, divulgadas inicialmente pela TV Bahia e obtidas hoje pela reportagem, teriam sido feitas pelo celular de uma testemunha do caso.

Ontem, sete pessoas suspeitas de envolvimento no duplo homicídio foram presas, dentre elas três seguranças do supermercado e quatro homens apontados como os traficantes responsáveis por torturar e matar as vítimas na comunidade do Boqueirão, no entorno do estabelecimento.

No mesmo dia do suposto furto, os corpos de Yan e Bruno foram encontrados no porta-malas de um carro na comunidade da Polêmica, no bairro de Brotas.

"Paraê, eu não quero ir"

Na filmagem examinada pela polícia, um dos suspeitos do suposto furto aparece sendo dominado por um homem vestido de preto. Em tom de voz amedrontado, ele tenta se desvencilhar da abordagem. "Eu vou sair, peraê! Paraê, eu não quero", clama o rapaz, enquanto é imobilizado com truculência. A cena acontece diante de outras pessoas que estão no mesmo espaço.

Ao UOL, familiares de Yan confirmaram ser ele quem grita, "desesperado", ao ser agredido por um segurança do Atakadão. A cor da camiseta do homem do vídeo é a mesma que Yan usava quando foi fotografado após a abordagem dos seguranças.

"Quem está apanhando é o Yan. O Bruno aparece sentado, mas de outro lado. Eles [os seguranças] têm que pagar pelos que fizeram", diz Nicolen Silva de Jesus, 19, prima de Yan.

Ela contou que, após assistir ao filho apanhando, a mãe do rapaz, a vendedora Elaine Costa Silva, 37, precisou tomar calmantes e não teria condições de falar com a reportagem.

"Ela começou a tomar remédio aqui, está deitada. Depois que ela viu o vídeo, ficou aterrorizada", narrou a sobrinha.

Atakadão volta a reiterar "repúdio à violência"

Procurado pelo UOL, o Atakadão Atakarejo voltou a afirmar que, desde o início, vem colaborando com as autoridades que investigam os crimes em questão e diz que instalou sindicância que decidiu pelo afastamento de funcionários até que a investigação policial seja concluída.

Em nota enviada por sua assessoria, a empresa diz que deseja que todos os fatos sejam esclarecidos o mais rapidamente possível.

Quanto às imagens veiculadas no vídeo, afirmou que reitera seu posicionamento de repúdio a qualquer tipo de violência, "devendo as imagens serem devidamente analisadas pelas autoridades competentes".

"A empresa mantém firmemente o compromisso com seu Código de Ética e Conduta. Ao longo dos seus 26 anos de atuação no mercado baiano - onde gera 6.300 empregos diretos — o Atakarejo tem sua atuação marcada pelo respeito a todas as pessoas, aos Direitos Humanos e sempre agiu com muita responsabilidade social e seriedade", diz no comunicado.

"Crime chocou pela perversidade", diz delegada

A delegada Andréa Ribeiro, diretora do DHPP, afirmou que o crime que vitimou Yan e Bruno chocou pela forma como foi feito, por meio de um "tribunal de exceção", e pelo grau de perversidade utilizado em relação às vítimas.

"Desde o início esse é um caso que incomodou a nossa equipe. Precisávamos dar essa resposta e trazer à sociedade a elucidação desse crime", declarou, durante coletiva após a prisão dos sete suspeitos de participação no duplo homicídio.

A delegada disse que, em nenhum momento, as polícias Civil e Militares foram acionadas para dar encaminhamento ao suposto furto. "Em momento algum nós, órgãos de segurança pública, iremos permitir que um pseudo poder paralelo se arvore em realizar atividades que cabem a polícia", disse.

Ela afirmou não descartar a existência de um possível direcionamento da rede de supermercados para que seguranças tenham esse tipo de relação com o crime organizado.

"É lógico que, nesse momento, não posso dizer com segurança se existe uma determinação da rede, de isso ser um direcionamento da rede de supermercados. Se essa conexão for provada, nos buscaremos responsabilizar tais indivíduos."

"O fato é que ficou claro de que houve esse contato desse grupo de seguranças e traficantes da área. Um dos seguranças teria feito contato telefônico solicitando quantia de R$ 700 a fim de liberar a vítima, valor que cobriria o valor das carnes", disse a delegada, corroborando versão apresentada por familiares das vítimas.

Ao mencionar que as prisões fazem parte da primeira fase da investigação, com futuros desdobramentos, Ribeiro diz que a prisão dos suspeitos é uma resposta à sociedade e à família dos dois homens mortos.

Disse, no entanto, que ainda não é possível apontar responsabilidade direta do Atakarejo, já que os seguranças atuam como terceirizados.

"Mas entendemos que é latente a responsabilidade da empresa nesse contexto. A polícia judiciária buscará esclarecer as responsabilidades", disse.