Topo

Esse conteúdo é antigo

Só polícia tem regularmente no Jacarezinho, diz diretora do Fogo Cruzado

Do UOL, em São Paulo

11/05/2021 11h16

Cecília Olliveira, jornalista e fundadora do site Fogo Cruzado, plataforma digital colaborativa com dados de violência armada nas regiões do Rio de Janeiro, disse que "a única coisa que tem regularmente no Jacarezinho é a polícia". Ela criticou a falta de serviços de educação, saúde e cultura na comunidade onde uma operação policial terminou com 28 mortos na semana passada.

Quando você pega e analisa o Jacarezinho como ele é, você vê que falta absolutamente tudo. A única coisa que tem ali regularmente é a polícia. Você não tem escolas boas, bons postos de saúde, equipamentos de cultura, suporte de creche para mães que precisam trabalhar. Tudo isso é desorganizado naquele bairro. Então o que você espera que dê certo?
Cecília Olliveira, jornalista e fundadora do site Fogo Cruzado

A declaração foi dada no UOL Debate de hoje, sobre violência policial, conduzido pela apresentadora Fabíola Cidral. Participaram do encontro o cientista social Paulo César Ramos e o coronel reformado da Polícia Militar José Vicente.

"A gente viu que essa operação tem uma série de descoordenações: a motivação mudou, o número de mortos mudou, está tudo mudando. A imprensa vai investigando, solta uma coisa, muda mais um detalhe que a polícia apresentou", completou a jornalista, questionando a versão apresentada pela polícia sobre a operação que foi considerada a mais letal do estado. Os mortos —inicialmente 25, depois 27 e até 29— foram 28, sendo um policial.

Cecília destacou que, quando se fala em segurança pública, "a primeira coisa que vem a cabeça é polícia, mas segurança pública é um direito".

Ramos afirmou que em episódios como esse "as instituições de repressão deixam marca nas pessoas" e promovem o "regresso".

"São instituições que, em vez de promover direitos, promovem retrocessos na vida das pessoas. Lembro uma fala de uma mãe do Rio de Janeiro que disse assim: 'Quando meu filho foi para o Degase [sistema socioeducativo no Rio], eu pensei que eles fossem corrigir algo que eu não fiz. Contudo, o que eu encontrei lá foi ver meu filho piorando a cada dia'. O resultado foi que, depois de ter cometido um pequeno delito, o garoto acabou se profissionalizando, entrando para o crime e foi abatido pela violência policial", completou.