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Polícia indicia autor de ataque a creche de Saudades (SC) por 5 homicídios

Hygino Vasconcellos

Colaboração para o UOL, em Chapecó (SC)

14/05/2021 10h36Atualizada em 14/05/2021 17h02

O autor do ataque à escola Aquarela, em Saudades (SC), ocorrido no dia 4 de maio, foi indiciado por cinco homicídios qualificados e uma tentativa de homicídio. O inquérito foi concluído hoje pela Polícia Civil e encaminhado para o Judiciário. Entre as vítimas estão quatro crianças de menos de dois anos — uma delas sobreviveu — e duas professoras.

O delegado Jerônimo Marçal, responsável pela investigação, observou que o jovem de 18 anos planejava desde agosto do ano praticar o ataque contra pessoas "com certo convívio" com ele. O "alvo" inicial seria a própria escola onde ele estudava, o que foi descartado após o jovem não conseguir comprar armas de fogo. No ataque à creche, o autor utilizou uma espécie de facão para atacar as vítimas.

"Ele tentou adquirir uma arma de fogo de várias formas. Como não conseguiu, ele achou que não daria conta de enfrentar esses rapazes ali (na escola dele) com uma arma branca. Isso mostra que o ato dele por si só foi covarde porque foi contra crianças e mulheres ali (na creche) que não tinham condições de se defender. Ele não se garantia contra as outras pessoas e pensou:' não, eu vou descontar essa minha raiva em pessoas que não tem nada a ver comigo, inocentes, que nunca fizeram nada para ninguém'", explicou o delegado.

Sobre a motivação do crime, o delegado reafirmou em coletiva de imprensa o comportamento "isolado" do rapaz, assim como já havia citado anteriormente.

O que os elementos mostram: ele [o jovem de 18 anos] era uma pessoa isolada, com dificuldade de relacionamento, num nível muito acima do normal. Vou dar dois exemplos, a família se reunia para jantar e ele não jantava com a família, ele pegava o prato dele e ia pro quarto. Outro exemplo, se precisava comprar uma roupa ele pedia para a mãe dele comprar roupa. Então era num nível muito alto."
Jerônimo Marçal, delegado responsável pela investigação

O jovem, ainda segundo a polícia, passou a se isolar das outras pessoas.

"E ele entrou num mundo em que ele começou a ter contato com muito material violento, com muitas ideias violentas e com pessoas que pensavam de forma parecida com ele, com pensamentos ruins, sentimentos ruins. E ele começou a alimentar esse ódio dentro dele nos últimos meses ao ponto de ele resolver descarregar tudo isso em alguém, na população em geral, Ele não tinha um ódio contra um grupo específico, contra alguém especificamente. Ele criou esse ódio generalizado", explica o delegado.

Agiu sozinho, diz delegado

A polícia também informou não ter constatado a participação de uma segunda pessoa, que poderia ser mandante do crime ou mesmo em ter auxiliado o autor a cometer o ataque, além de afirmar que o jovem admitiu ter agido sozinho.

"A gente se aprofundou nessa investigação e não há qualquer indicativo de que alguém tenha o auxiliado, nada nesse sentido. Ele [o autor] agiu sozinho o tempo todo."

Ao ser questionado sobre o conteúdo do interrogatório do autor do ataque, o delegado observou que não iria detalhar a fala por conter "informações sensíveis" da investigação e por não querer "dar mídia para esse rapaz".

Ele não merece [mídia]. Basicamente, tentando resumir, ele confessou o crime, ele admitiu que fez todo o planejamento e agiu sozinho"
Jerônimo Marçal, delegado responsável pela investigação

Relembre o caso

O ataque à escola Aquarela aconteceu em 4 de maio, quando um jovem de 18 anos invadiu o local e esfaqueou seis pessoas — duas professoras e quatro crianças de menos de dois anos. Apenas um menino de 1 ano e oito meses sobreviveu. A tragédia não foi maior porque as professoras perceberam o atentado e trancaram as outras salas que tinham aulas no momento.

Vizinhos da escola ajudaram a socorrer as crianças. A agente educativa Aline Biazebetti, 27, ouviu "gritos de socorro" e, no impulso, levou uma das crianças até o hospital. Mal ela sabia que estava carregando o único sobrevivente do ataque.

O pai de uma das crianças contou que, ao saber do ataque, foi às pressas para a escola e não encontrou a filha. Após vasculhar o local, reconheceu a filha pelos cabelos. "Eu vi o cabelinho dela e duas xuxinhas que foram feitas de manhã no cabelo dela, caiu meu mundo", conta Evandro Sehn, 35 anos.

Para a polícia, o crime foi premeditado. O autor do ataque teria analisado a instituição de ensino e inclusive teria rondado o local um dia antes. A escola teria sido escolhida por ele devido às "vulnerabilidades" identificadas por ele, segundo o delegado Jerônimo Marçal, responsável pela investigação.

Pelo menos três alunos que estudavam na sala alvo do ataque conseguiram escapar pois não foram à aula — entre eles estão os gêmeos Miguel Antonio e Maria Helena, de 1 ano e seis meses, que chegaram a ser levados até a porta da sala de aula. Porém, os pais decidiram levá-los de volta para não acordar os outros alunos — os gêmeos tinham ido fazer exames de rotina e chegaram atrasados.

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*Colaborou Beatriz Gomes, do UOL, em São Paulo