Parentes de homem que ficou cego em protesto se juntam para comprar remédio
Sem apoio do estado, parentes do autônomo Daniel Campelo da Silva, de 51 anos, uma das vítimas que perdeu a visão de um olho após ser atingido por bala de borracha durante protesto contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), no Recife (PE), estão se juntando para comprar remédios e curativos. As informações são da TV Globo.
"Até agora não se recebeu nada. O estado está sendo leniente e, diria, irresponsável, diante dessa abordagem emergencial que ele está precisando", afirmou o advogado Marcellus Ligiette, que representa Daniel, em entrevista ao "Fantástico".
O protesto na capital pernambucana, realizado no dia 29 de maio, foi encerrado com bombas de gás lacrimogêneo, tiros de balas de borracha e correria nas ruas do centro. Além de Daniel, Jonas Correia de França, de 29 anos, também ficou ferido na confusão. O governador Paulo Câmara (PSB) exonerou o comandante da PM, Vanildo Maranhão, afastou oito policiais envolvidos na operação e abriu uma investigação para apurar o caso.
As famílias de Daniel e Jonas foram recebidas nesta semana pela Procuradoria-Geral do estado. O governo pernambucano se comprometeu a dar auxílio de R$ 2,2 mil para cada um por três meses.
"Eu deixei em casa dois filhos, porque sou eu quem mantenho a minha família. E agora, com toda essa situação, como é que vai ficar? Isso vai ficar marcado para minha vida inteira", protestou Jonas, emocionado.
Cego do olho esquerdo
Ao chegar ao hospital, médicos analisaram a lesão de Daniel Campelo e —em razão da gravidade e da falta de oftalmologista na unidade— decidiram encaminhá-lo para a Fundação Altino Ventura .Exames apontaram que ele tinha "um trauma ocular com hematoma retrobulbar com proptose importante".
Daniel não estava participando dos protestos, segundo o jornal "Folha de S.Paulo". Ele trabalha adesivando táxis e estava no centro do Recife para comprar material, mas acabou sendo atingido por um dos disparos feitos pela Polícia Militar do Recife.
Instrutor: alvo deve ser sempre as pernas
Um especialista ouvido pela reportagem da TV Globo disse que, quando se lança bala de borracha, o alvo deve ser sempre as pernas, além de uma distância recomendada de no mínimo 20 metros.
"O alvo designado é sempre as pernas do indivíduo, e a distância recomendada é de 20 metros", disse o instrutor Ricardo Soares.
Reação truculenta da PM
O fim do ato em Recife foi marcado por repressão da PM, que dispersou os manifestantes com balas de borracha, bombas de efeito moral e spray de pimenta. Não houve qualquer reação dos manifestantes. Quatro pessoas chegaram a ser detidas.
Durante a ação da PM, a vereadora Liana Cirne (PT) foi agredida por um policial militar que jogou spray de pimenta na parlamentar. A agressão foi gravada em vídeo. A vereadora estava tentando conversar com os policiais que atuavam contra manifestantes, no centro do Recife.
Sem darem atenção à vereadora, eles seguiram para a viatura. Após entrarem, os policiais dispararam dois jatos de spray no rosto dela, que caiu no chão em seguida.
O governador Paulo Câmara gravou um vídeo em que se solidariza com as vítimas e, na ocasião, comunicou o afastamento dos comandantes da operação. Além disso, determinou a apuração da ação dos policiais. Nesse vídeo, ele não deixa claro se autorizou ou não uma ação da PM para findar o protesto.
No Recife, havia uma recomendação do MP (Ministério Público) de Pernambuco para que não fosse realizado o ato, por causa do decreto que estabelece que "permanece vedada no estado a realização de shows, festas, eventos sociais e corporativos de qualquer tipo, com ou sem comercialização de ingressos, em ambientes fechados ou abertos, públicos ou privados, inclusive em clubes sociais, hotéis, bares, restaurantes, faixa de areia e barracas de praia, independentemente do número de participantes."
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