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Parentes de homem que ficou cego em protesto se juntam para comprar remédio

Daniel Campelo ficou cego após ser atingido em protesto no Recife  - Arquivo pessoal
Daniel Campelo ficou cego após ser atingido em protesto no Recife Imagem: Arquivo pessoal

Do UOL, em São Paulo

06/06/2021 20h51

Sem apoio do estado, parentes do autônomo Daniel Campelo da Silva, de 51 anos, uma das vítimas que perdeu a visão de um olho após ser atingido por bala de borracha durante protesto contra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), no Recife (PE), estão se juntando para comprar remédios e curativos. As informações são da TV Globo.

"Até agora não se recebeu nada. O estado está sendo leniente e, diria, irresponsável, diante dessa abordagem emergencial que ele está precisando", afirmou o advogado Marcellus Ligiette, que representa Daniel, em entrevista ao "Fantástico".

O protesto na capital pernambucana, realizado no dia 29 de maio, foi encerrado com bombas de gás lacrimogêneo, tiros de balas de borracha e correria nas ruas do centro. Além de Daniel, Jonas Correia de França, de 29 anos, também ficou ferido na confusão. O governador Paulo Câmara (PSB) exonerou o comandante da PM, Vanildo Maranhão, afastou oito policiais envolvidos na operação e abriu uma investigação para apurar o caso.

As famílias de Daniel e Jonas foram recebidas nesta semana pela Procuradoria-Geral do estado. O governo pernambucano se comprometeu a dar auxílio de R$ 2,2 mil para cada um por três meses.

"Eu deixei em casa dois filhos, porque sou eu quem mantenho a minha família. E agora, com toda essa situação, como é que vai ficar? Isso vai ficar marcado para minha vida inteira", protestou Jonas, emocionado.

Cego do olho esquerdo

Ao chegar ao hospital, médicos analisaram a lesão de Daniel Campelo e —em razão da gravidade e da falta de oftalmologista na unidade— decidiram encaminhá-lo para a Fundação Altino Ventura .Exames apontaram que ele tinha "um trauma ocular com hematoma retrobulbar com proptose importante".

Daniel não estava participando dos protestos, segundo o jornal "Folha de S.Paulo". Ele trabalha adesivando táxis e estava no centro do Recife para comprar material, mas acabou sendo atingido por um dos disparos feitos pela Polícia Militar do Recife.

Instrutor: alvo deve ser sempre as pernas

Um especialista ouvido pela reportagem da TV Globo disse que, quando se lança bala de borracha, o alvo deve ser sempre as pernas, além de uma distância recomendada de no mínimo 20 metros.

"O alvo designado é sempre as pernas do indivíduo, e a distância recomendada é de 20 metros", disse o instrutor Ricardo Soares.

Reação truculenta da PM

O fim do ato em Recife foi marcado por repressão da PM, que dispersou os manifestantes com balas de borracha, bombas de efeito moral e spray de pimenta. Não houve qualquer reação dos manifestantes. Quatro pessoas chegaram a ser detidas.

Durante a ação da PM, a vereadora Liana Cirne (PT) foi agredida por um policial militar que jogou spray de pimenta na parlamentar. A agressão foi gravada em vídeo. A vereadora estava tentando conversar com os policiais que atuavam contra manifestantes, no centro do Recife.

Sem darem atenção à vereadora, eles seguiram para a viatura. Após entrarem, os policiais dispararam dois jatos de spray no rosto dela, que caiu no chão em seguida.

O governador Paulo Câmara gravou um vídeo em que se solidariza com as vítimas e, na ocasião, comunicou o afastamento dos comandantes da operação. Além disso, determinou a apuração da ação dos policiais. Nesse vídeo, ele não deixa claro se autorizou ou não uma ação da PM para findar o protesto.

No Recife, havia uma recomendação do MP (Ministério Público) de Pernambuco para que não fosse realizado o ato, por causa do decreto que estabelece que "permanece vedada no estado a realização de shows, festas, eventos sociais e corporativos de qualquer tipo, com ou sem comercialização de ingressos, em ambientes fechados ou abertos, públicos ou privados, inclusive em clubes sociais, hotéis, bares, restaurantes, faixa de areia e barracas de praia, independentemente do número de participantes."