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Músico é impedido de cantar em igreja por conta do cabelo: 'Não vou cortar'

Pedro (à esquerda) foi impedido de cantar em Igreja por conta do cabelo - Divulgação
Pedro (à esquerda) foi impedido de cantar em Igreja por conta do cabelo Imagem: Divulgação

Colaboração para o UOL

08/06/2021 12h34

O músico Pedro Henrique Santos, de 22 anos, registrou ontem um boletim de ocorrência por injúria racial no 8º Distrito Policial de Goiânia, após ser impedido de se apresentar em uma igreja. De acordo com ele, a recusa ocorreu por conta do seu cabelo que, segundo o pastor, não seria "adequado".

A apresentação estava marcada para sábado (5) na Igreja Adventista do Sétimo Dia, em Goiás. Pedro, que faz parte de um quarteto gospel e é músico desde os 12 anos, relatou que foi o primeiro a chegar ao local e enquanto aguardava os demais colegas e fazia ajustes no som quando foi informado de que não poderia se apresentar.

"Peguei meu violão e fui tocar duas músicas até os meninos chegarem. Foi quando uma mulher que estava organizando o evento disse que eu não poderia tocar pelo meu jeito e que o pastor alegou a recusa como tradição da igreja. A mulher ficou sem entender e eu também fiquei surpreso", descreve Pedro Henrique.

Ao UOL, Pedro explicou que o próprio pastor não conversou diretamente com ele para argumentar a decisão. "Não vou cortar meu cabelo por isso, é uma coisa minha, natural", enfatizou.

O jovem afirmou ter sentido um misto de surpresa e raiva diante da situação. "A igreja deveria ver antes então quem pode cantar para não passar essa vergonha. Meu cabelo ser assim não muda nada."

Essa era a primeira apresentação do grupo gospel na instituição religiosa. Após o caso, Pedro Henrique foi embora, acompanhado dos demais membros do quarteto.

Apoiador do grupo, o empresário Bruno Pereira, não escondeu a revolta com o caso e acionou o presidente da Associação Brasil Central da Igreja Adventista do Sétimo Dia exigindo um posicionamento público. "É inadmissível que em pleno 2021 algo assim ainda aconteça e que fique sem punição", destaca.

A assessoria da Igreja Adventista do Sétimo Dia em Goiás divulgou um comunicado sobre o ocorrido e destacou que não compactua com nenhuma forma de discriminação. A entidade ainda diz que está apurando "um possível desentendimento entre seus membros, envolvendo uma pessoa que se sentiu vítima de algum tipo de discriminação."

A nota também afirma que a "instituição lamenta que ele tenha se sentido ofendido nessa ocasião" e reitera que foi votada, em âmbito mundial, no ano de 2020, uma declaração contra racismo na instituição.

Segundo a Polícia Civil, o caso será investigado e o inquérito repassado ao 22º Distrito Policial de Goiânia.

Racismo x injúria racial

A Lei de Racismo, de 1989, engloba "os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional". O crime ocorre quando há uma discriminação generalizada contra um coletivo de pessoas. Exemplo disso seria impedir um grupo de acessar um local em decorrência da sua raça, etnia ou religião.

O autor de crime de racismo pode ter uma punição de 1 a 5 anos de prisão. Trata-se de crime inafiançável e não prescreve. Ou seja: no caso de quem está sendo julgado, não é possível pagar fiança; para a vítima, não há prazo para denunciar.

Já a injúria racial, como o caso investigado no Rio, consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia, religião ou origem a fim de atacar a dignidade de alguém de forma individual. Um exemplo de injúria racial é xingar um negro de forma pejorativa utilizando uma palavra relacionada à raça.