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Henry: Executivo revela pedidos de Jairinho por liberação rápida do corpo

O vereador Dr. Jairinho em foto no sistema prisional - Divulgação/Seap
O vereador Dr. Jairinho em foto no sistema prisional Imagem: Divulgação/Seap

Daniele Dutra

Colaboração para o UOL, no Rio

09/06/2021 14h16Atualizada em 10/06/2021 10h13

O Conselho de Ética da Câmara Municipal do Rio de Janeiro recebeu por escrito na noite de ontem (8) o depoimento do executivo Pablo Menezes, vice-presidente de operações e relacionamento da Qualicorp e conselheiro no Instituto D'Or de Gestão de Saúde. Ele deu detalhes sobre os telefonemas e mensagens de WhatsApp do vereador Dr. Jairinho (sem partido) após a morte de seu enteado Henry Borel, 4.

O executivo relatou ter recebido ao menos três telefonemas de Jairinho que, de forma insistente, tentou obter a liberação do corpo da criança em 8 de março no hospital Barra D'Or para enterro, sem passar pelo IML (Instituto Médico-Legal). Antes de atender à primeira chamada às 7h17, o vereador mandou mensagens às 4h57 e às 6h56, segundo Menezes.

Às 4h57, Jairinho escreveu para o executivo: "Amigo, assim que puder me liga". Duas horas depois, continuou: "Preciso de um favor aqui no Barra D'Or". Às 5h42, os médicos da unidade da saúde teriam atestado a morte de Henry, levado ao hospital com lesões e hematomas.

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Imagem: Arte/UOL
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Imagem: Arte/UOL

No documento enviado ao Conselho de Ética, que analisa processo de cassação do vereador, Menezes relata que Jairinho estava calmo no telefonema e sem demonstrar qualquer emoção. "Aconteceu uma tragédia", afirmou o parlamentar.

Segundo Menezes, o vereador contou que o enteado havia morrido e pediu que o executivo agilizasse o atestado de óbito, sem que o corpo fosse enviado ao IML. "Agiliza ou eu agilizo o [atestado de] óbito. E a gente vira essa página."

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Imagem: Arte/UOL

O executivo disse que ligaria para o hospital para se inteirar do assunto. Ele foi informado pelos profissionais da unidade "que a situação requeria envio ao IML", pois a criança já havia chegado com parada cardiorrespiratória e vários hematomas e que o pai, Leniel Borel, desejava que o corpo fosse periciado.

Enquanto Menezes falava com a Rede D'Or, Jairinho insistiu em novas mensagens. "Vê se alguém dá o atestado pra gente levar o corpinho! Virar essa página."

Após se informar sobre o caso, Menezes enviou mensagem ao vereador explicando a situação. No mesmo momento, Jairinho telefonou novamente. "Tem certeza que não tem mesmo nenhum jeito?" Pablo negou, e Jairinho citou um suposto pedido da namorada Monique Medeiros, mãe e Henry. "Amigo, a mãe que pediu".

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Imagem: Arte/UOL

Procurada pelo UOL, a defesa de Monique não se manifestou sobre o fato de ela ter pedido ou não a liberação do corpo do filho.

O executivo afirmou ter se sentido muito desconfortável com o pedido, situação e comportamento de Jairinho. "Eu não atenderia qualquer pedido ilegal e tinha a certeza de que os profissionais do hospital também não atenderiam", disse Menezes.

A tentativa de agilizar a liberação do corpo sem passar pelo IML foi informada em reportagem em março pela colunista do UOL Juliana Dal Piva.

"Todas as declarações de Jairo Junior serão devidamente esclarecidas no processo", disse Braz Sant'Anna, advogado do vereador.

O vereador e Monique estão presos preventivamente desde 8 de abril.

Processo de cassação e depoimento de Claudio Castro

O relator do processo Luiz Ramos Filho (PMN) vai avaliar o depoimento e aguarda as respostas do governador do Rio, Cláudio Castro (PSC), que também recebeu um telefonema de Jairinho, após o crime, para pedir que interferisse nas investigações. O governador já relatou ter negado qualquer interferência.

"Agora falta o governador Cláudio Castro, que tem até esta quarta-feira [9] para enviar as suas respostas por escrito ao Conselho de Ética. Já estamos desde o dia 24 de maio na fase instrutoria do processo. Pretendemos finalizar antes do recesso de julho", disse o vereador.

O processo de cassação é composto por 11 etapas e a última, que seria a votação dos parlamentares, é decidida por dois terços dos vereadores (34 votos) a favor da cassação.